Bandeira branca pelo Brasil
Consciente e irresponsavelmente parcela de Mato Grosso ajuda empurrar o Brasil ao abismo institucional que se traduz em ditadura. Triste realidade que brota de figuras que deveriam zelar pela institucionalidade. Mais que trise, isso é vergonhoso, ridículo e – que ninguém se sinta ofendido, mas é acima de tudo, leviano. São muitos os graves problemas que atingem a população mato-grossense, mas, sobre eles, reina o silêncio sepulcral enquanto nas redes sociais são destilados ódio, rancor, sentimentos menores, agressividade no campo pessoal e tantos outros, ora contra o poder simbolizado pelo presidente Jair Bolsonaro, ora atingindo a oposição personificada pelo ex-presidente Lula da Silva.
O que ocorre, para alguns cientistas sociais e políticos é o desencadeamento de reações populares, mas discordo dessa tese, embora reconheça que entre as postagens haja também o sentimento indignado do cidadão que não suporta mais tanta safadeza na vida pública em sua amplitude.
Nas redes sociais o cidadão ataca a direita ou a esquerda. Até recentemente esse indivíduo não tinha o infinito da internet pra desabafar. Ao se deparar com essa porta aberta ele resolve fazer da mesma uma arma para se insurgir contra o mundo, mas seu instinto humano o impede de fazê-lo ao redor do umbigo – isso o leva a ferir ou endeusar Bolsonaro, Lula, Paulo Guedes, Zé Dirceu, Dilma, Moro, Rodrigo Maia, Alcolumbre, Celso de Mello, STF, Aras, Mandetta, Mourão, Boulos, Gleisi Hoffmann e tantos outros figurões do poder e da oposição, porém com a devida prudência pra não se indispor com os poderosos mato-grossenses.
Todos conhecemos a noite da ditadura, por experiência própria ou por ouvir dizer. Começa ao pôr do sol e entra pelas trevas da escuridão, quer seja de direita ou de esquerda, pois os ditadores se completam. Num regime linha dura esse fogo da internet se apaga, as garantias são suspensas, o Estado prevalece sobre o indivíduo por maior que seja sua costa larga.
Saiam dessa inglória batalha virtual. O Brasil tem ordenamento jurídico, os poderes funcionam, os direitos adquiridos são respeitados e, acima de tudo, a Constituição prevalece. Pensem que até 2018 Bolsonaro era mero deputado do baixo clero na Câmara, onde incontáveis vezes trocou de partido e tentou sua presidência sem sucesso – chegando a assumir candidatura vexatória. Pensem mais: democraticamente o Brasil deu o poder a esse ex-parlamentar e, agora, cabe a ele, governar tendo apoio e sofrendo oposição – são as regras do jogo. Essa briga virtual pode interessar a alguém, mas não ao povo brasileiro.
Somos uma grande nação. Ditadura não coaduna com a dimensão do Brasil. Não ao retrocesso!
Sejamos coerentes. Mudemos o Brasil a partir de nosso município, nosso Estado. Onde está a valentia dos debatedores no plano nacional, que se omitem nas questões locais? Estamos em ano de eleições municipais. Comecemos por nossa cidade.
Voltemos o olhar pra Mato Grosso. ´
É inaceitável a impunidade dos deputados à época, que foram filmados recebendo propina de Sílvio Corrêa, então chefe de gabinete do então governador Silval Barbosa. Um deles, Emanuel Pinheiro, até deixou cair dinheiro do bolso do paletó. Emanuel é prefeito de Cuiabá e tem chance de se reeleger, por conta do covarde silêncio que não o bota permanentemente no paredão virtual. Os demais: Ezequiel Fonseca, Alexandre Cesar, Airton Português, Luciane Bezerra e José Domingos Fraga permanecem intocáveis tanto quanto Emanuel.
É inaceitável a Câmara Municipal de Cuiabá receber R$ 59 milhões anuais para seu custeio. Porém esse assunto passa ao largo e as vozes gritam Bolsonaro e Lula.
É inaceitável o escândalo do Detran, que teria surrupiado R$ 30 milhões daquela autarquia, ser mantido debaixo do tapete e os acusados por esse esquema permanecerem intocáveis – dentre eles o presidente da Assembleia, Eduardo Botelho e o deputado tucano Wilson Santos.
É inaceitável o contribuinte pagar os salários de cinco conselheiros do Tribunal de Contas do Estado, afastados judicialmente desde 2017, após serem denunciados pelo recebimento de R$ 53 milhões em propina. Cadê as vozes cobrando o desfecho desse caso? Esse quinteto é formado por Sérgio Ricardo, Antônio Joaquim, Valter Albano, Waldir Teis e José Carlos Novelli.
Sugiro que sejamos mais Mato Grosso e menos Brasília. Avalio que a solução das questões nacionais passa pelos ordenamentos estaduais e municipais. Estamos a um passo de ver quase toda a bancada federal mato-grossense de joelhos diante de Bolsonaro rezando a Oração de São Francisco. Atacar Bolsnaro por isso é cômodo – difícil é dar nomes aos bois eleitos pelos mato-grossenses.
Em democracia nada pode ser impositivo. Por isso, apenas sugiro e, além disso, flexibilizo: ainda que teimem em empurrar o Brasil ao abismo com as farpas virtuais, tenham o mínimo de compromisso com Mato Grosso: incluam os problemas mato-grossenses nesse discurso sem fim.
Peço razoabilidade e que reflitam sobre o veneno antidemocrático que destilam contra o amanhã de seus filhos, netos e bisnetos, quando ao invés dessa atitude poderiam contribuir para aplainar o caminho dessa bela e ensolarada terra de Tiradentes, Juscelino Kubitschek, Irmã Dulce, Marechal Rondon, Chico Xavier, Barão de Mauá, Garrincha, Ênio Pipino, Pelé, Chico Anysio, Moacyr Franco, Martha Rocha, Norberto Schwantes, Irmã Maria Adelis, Liu Arruda, Ariosto da Riva, Roberto Campos, Chiquinha Gonzaga, Ayrton Senna, Irmã Vita, Munefume Matsubara, Adhemar Ferreira da Silva, Nêgo Amâncio, Éder Jofre, Jorilda Sabino, Bruna Viola, Marechal Dutra, Barão de Melgaço, Tenente-Coronel Antônio Maria Coelho, Plácido de Castro, Delmiro Gouveia, Santos Dumont, Carlos Drummond de Andrade, Ricardo Guilherme Dicke, Manoel de Barros, Bento Gonçalves, Ana Néri, Oswaldo Cruz, Guilherme Meyer, Cacique Raoni, Valdon Varjão, Filinto Müller, Capitão Antônio Lourenço Teles Pires, Duque de Caxias, Tostão, Tenente Antônio Peixoto de Azevedo, Deputado Federal Mário Juruna, Vanessa da Mata, Coronel José Meirelles, João Augusto Amaral Gurgel, Catulo da Paixão Cearense, Gilmar Mendes, Barão do Rio Branco, Luiz Gonzaga, Nelson Gonçalves, Ângela Maria, Elis Regina, Ângelo Maronezzi, Lima Duarte, Padre Lothar, Luiz Vieira, Cacheado, Maria Esther Bueno, Dario Hiromoto, Olacyr de Moraes e tantos outros, que em Mato Grosso e nos demais estados, ao longo do tempo, contribuíram e contribuem para a causa que a insanidade do radicalismo na internet atinge em cheio: a associação de liberdade com desenvolvimento e bem-estar social.
Pelo amanhã, empunhemos a bandeira branca pelo Brasil e entremos na luta em defesa de Mato Grosso e dos seus 141 municípios.
Eduardo Gomes de Andrade – editor de blogdoeduardogomes
FOTO: Meramente ilustrativa
Inaceitável o quadro atual. Teremos forças para promover a mudança necessária?