Boa Midia

119 anos sem Couto Magalhães

Wilson Pires
Wilson Pires

A Província de Minas Gerais foi o berço de grande número de brasileiros ilustres, nos diversos ramos do saber humano: ciências, letras e artes cultivadas com muito amor e proveito pelos mineiros desde os tempos coloniais do Brasil. Entre os varões notáveis dessa Província, destaca-se a fisionomia original e distinta do Dr. José Vieira Couto de Magalhães que nasceu no dia 1 de novembro de 1837 (Quarta-feira) na cidade de Diamantina, tendo por pai o Capitão Antônio Carlos de Magalhães e por mãe D. Teresa do Prado Vieira Couto.

É de origem paulista a família do General Couto de Magalhães, pois na linha direta de seus ascendentes conta o nome do Mestre de Campo (Este posto corresponde à graduação de brigadeiro), Tomé Antunes do Couto, que foi enviado de Portugal em comissão científica e militar para esta Província. Aqui se estabeleceu, constituiu família e só mais tarde, no desempenho de seu cargo na demarcação de terras, passou-se para a Província de Minas Gerais.

Foi Tomé do Couto avô do naturalista brasileiro José Vieira Couto, que tornou seu nome conhecido e considerado entre os sábios europeus da sua época.

A lei da hereditariedade das aptidões intelectuais, e predileções científicas e sociais têm mais uma confirmação na individualidade do General Couto de Magalhães. O gosto decidido que tinha pelas viagens e explorações herdou dos seus antepassados, o grande navegante português Magalhães, assim como o amor pelo estudo das ciências astronômicas e naturais recebeu de ponto mais próximo, qual o seu avô Dr, José Vieira Couto.

Couto de Magalhães iniciou os estudos no Seminário de Mariana, estudou Matemática na Academia Militar do Rio de Janeiro e freqüentou o curso de Artilharia da Campanha em Londres.

Ao tempo que estudava as matérias da Academia, ocupava-se também com as letras e conquistou o nome de “bom literato” entre os colegas. Na imprensa apareceu freqüentemente, sempre com brilho; e o volume que publicou em 1860 – os Guaianás confirmou a reputação adquirida.

Foi em São Paulo que o jovem Couto de Magalhães decidiu concluir seus estudos preparatórios, matriculou-se no curso jurídico, completou o tirocínio acadêmico (Aprendizado, prática ou exercício Militar, para subir de posto), Bacharelou-se pela Faculdade de Direito de São Paulo, em 1859 e defendeu teses para doutorado em 1860. Foi um infatigável estudioso dos nossos sertões.

Couto Magalhães foi uma pessoa de extrema atividade intelectual. Era um fervoroso estudante e pesquisador de línguas estrangeiras. Homem inteligente, falava francês, inglês, alemão, italiano, tupi e numerosos dialetos indígenas.  Estudou com afinco astronomia, física e mecânica, tendo posteriormente, seus instrumentos para experiências científicas, doados ao Instituto Politécnico de São Paulo. Colaborou com muitos jornais, com ênfase no Jornal do Comércio e o Diário Popular, tendo também pertencido ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Deixou inédita uma gramática da língua geral.

Cedo começou o Dr. José Vieira Couto de Magalhães, a carreira pública; logo depois de formado em 1860. Exerceu o cargo de Secretário do Governo de Minas Gerais entre 1860 e 1861. Envolvido na política do Império, e afiliado ao partido liberal, foi presidente nas províncias de Goiás, Pará, São Paulo e Mato Grosso.

Em 1865 quando os paraguaios assolavam a Província de Mato Grosso, o Governo lembrou-se em boa hora do Dr. José Vieira Couto de Magalhães, que aceitou a patriótica missão de libertar o solo pátrio da invasão inimiga. Nomeado com poderes especiais, além das prerrogativas de presidente, tinha a autoridade de general em chefe, e de presidente da Junta Suprema Militar de Justiça. E com tal energia, atividade e acerto se houve que conseguiu organizar as forças, criando o batalhão de voluntários, com o objetivo de retomar a vila de Corumbá e bater o inimigo, e dar a paz à Província de Mato Grosso, que ainda hoje recorda com gratidão os benefícios de sua administração.

Um grupo de contingentes de veteranos que não estavam em condições de viajar à Corumbá, foram designados para conduzir um grupo de prisioneiros paraguaios para a outra margem do rio, a cerca de 8 Km, em uma grande várzea.

Alem da guerra, teve que lutar, com a terrível epidemia de varíola, que causou tanto mal, como quase a invasão paraguaia, e arcar com a fome, sócia inseparável daqueles males

Até 1867 permaneceu na presidência de Mato Grosso e pode-se afirmar que não poupou esforço, nem recurso que pudesse criar, pela sua posição oficial, para socorrer a população flagelada. No meio de tanta perturbação, a têmpera rígida e a calma do General Couto de Magalhães foram sempre inalteráveis; atendeu outros ramos de administração e, tanto quanto possível, deixou em boas condições a Província de Mato Grosso.

Após a Guerra do Paraguai, na qual participou da batalha de reconquista de Corumbá dos paraguaios, ganhou do governo imperial o título de Barão de Corumbá. Mas o recusou, preferindo o de General Brigadeiro, distinção que então raras vezes se concedia a civis.

Couto de Magalhães conhecia bem o interior do Brasil e foi o iniciador da navegação a vapor no Planalto Central. Ocupava a presidência da província de São Paulo quando foi proclamada a república. Preso e enviado ao Rio de Janeiro, foi liberado em reconhecimento da sua enorme cultura e ações em prol do desbravamento dos sertões brasileiros.

Foi quem iniciou os estudos folclóricos no Brasil. São suas obras mais importantes: O Selvagem, obra escrita a pedido de D. Pedro II para figurar na Exposição de Filadélfia em 1876, tratado do idioma, dos costumes, mitos e usanças dos nossos índios; uma Viagem ao Araguaia; A Revolta de Felipe dos Santos em 1720, que lhe abriu as portas do Instituto Histórico Geográfico; “Os Guaianases (romance histórico) ou a Fundação de São Paulo”; Anchieta e as línguas indígenas, por ocasião do tri-centenário do famoso jesuíta, etc.

É considerado o fundador da cidade de Várzea Grande, por seus relevantes serviços durante seu comando da província de Mato Grosso.

Dr. José Vieira Couto de Magalhães, morreu no Rio de Janeiro no dia 14 de setembro de 1898, aos 61 anos, coincidentemente uma quarta-feira. Foi um político, Militar, escritor e folclorista brasileiro.

 

Wilson Pires de Andrade é jornalista em Mato Grosso

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