Um corredor pra Ferrovia Norte-Sul

No conta-gotas, mas vai. Assim é o projeto para a ligação da BR-158 em Bom Jesus do Araguaia com Luiz Alves, município de São Miguel do Araguaia (GO), pela BR-080. A meta é criar um corredor de acesso à malha rodoviária alimentadora da Ferrovia Norte-Sul. A última peça mexida no tabuleiro do  jogo dessa obra aconteceu em julho deste 2020: foi o jamegão do ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, autorizando a construção de uma ponte sobre o Araguaia. Consolidada a pavimentação desse trecho de 190 quiômetros o Vale do Araguaia ganha mais um dente na sua engrenagem de ligação com o vizinho Goiás e avança na logística regional.

 

A Rodovia BR-158 é uma longitudinal Norte-Sul, que em Mato Grosso liga Pontal do Araguaia/Barra do Garças à divisa com o Pará, em Vila Rica. São poucas as opções Leste-Oeste para escoamento das commodities agrícolas e atendimento ao tráfego como um todo.

A Rodovia BR-080 será importante para diversificar os sentidos da movimentação de cargas. O trajeto é mato-grossense. Parte de Alô Brasil, à margem da BR-158, em Bom Jesus do Araguaia, cruza a sede desse município, Serra Nova Dourada e Novo Santo Antônio. Luiz Alves se situa à margem direita do Araguaia, em Goiás. No trajeto, ao lado de Novo Santo Santõnio, a rodovia cruza o rio das Mortes e não há sequer projeto para uma ponte nessa travessia.

Tarcísio de Freitas revelou que a ponte tem orçamento de R$ 160 milhões, que incluindo os encabeçamentos terá 4 quilômetros de extensão, com altura máxima de 20 metros para não interferir na navegação das balsas. O ministro, no entanto, não revelou a extensão da ponte sobre o leito do rio. Para chegar a esse sinal verde o projeto cumpriu um enervante ritual burocrático e ambiental: em setembro de 2018 recebeu parecer favorável do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), ligado ao Ministério do Meio Ambiente, e em novembro do ano passado o Ministério do Meio Ambiente concedeu a licença para a obra.

Por enquanto, não há obra do lado mato-grossense, mas em compensação dois projetos se sobrepõem em parte do trecho. Além da pavimentação da BR-080, há planos para a construção do Cotorno Leste da BR-158 para retirá-la do trecho de 126 quilômetros  na Terra Indígena Marãiwatsédé da etnia Xavante – caso isso ocorra, a obra contemplará o segmento da BR-080 entre Alô Brasil e Serra Nova Dourada com 40 quilômetros de extensão.

Esse corredor será estratégico para seu entorno escoar commodities agrícolas ao terminal ferroviário da Norte-Sul em Gurupi (TO) distante 270 quilômetros de Luiz Alves.

Os municípios do trajeto e Ribeirão Cascalheira, Querência, Canabrava do Norte, Alto Boa Vista, Porto Alegre do Norte e São Félix do Araguaia seriam diretamente contemplados. Os demais, não, pelas vias preferenciais de acordo com suas localizações. Canarana e Novo São Joaquim, dois dos grandes municípios agrícolas do Vale do Araguaia  não teriam vantagem, por se localizarem próximos ao terminal de embarque da Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (FICO), que entrará em operação na cidade de Água Boa..

Além do Corredor em si, com a pavimentação da BR-080 Mato Grosso tiraria do isolamento três municípios: Bom Jesus do Araguaia, Serra Nova Dourada e Novo Santo Antônio – todos sem acesso pavimentado.

PS – SÃO FÉLIX DO ARAGUAIA – Município emancipado de Barra do Garças em 13 de maio de 1976 por uma lei do deputado Ladislau Cristino Cortes sancionada pelo governador Garcia Neto, São Félix do Araguaia tem 16.713,479 km², 11.708 habitantes, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é 0,668 e a renda per capita R$ 49.583,99. Sede de comarca e de uma prelazia da Igreja Católica, a cidade não tem acesso pavimentado,

São Félix do Araguaia é um dos principais roteiros turísticos mato-grossenses. Sua fundação data de 23 de maio de 1941. O fundador foi Severiano Neves, que chegou ao lugar acompanhado por familiares, amigos e funcionários. A Ilha do Bananal fica defronte a cidade e seu ponto mais ao Sul é no encontro das águas do rio das Mortes com o Araguaia, num ponto próximo da zona urbana.

NOVO SÃO JOAQUIM – Município emancipado em 13 de maio de 1986 de Barra do Garças, Cuiabá e Nova Xavantina, por uma lei das bancadas do PDS e PMDB sancionada pelo governador Jùlio Campos, Novo São Joaquim é sede de comarca, tem 5.231,297 km², 5.074 habitantes, o IDH é 0,649 e a renda per capita R$ 57.085,71.

A cidade não tem acesso pavimentado. A base econômica é o agronegócio representado pela pecuária e as lavouras de soja, milho safrinha e algodão.

FOTOS:

1 – Dnit – Dvulgação

2 – blogdoeduardogomes

3 – Antônio Mendes em São Félix do Araguaia

Uma obra que nunca acaba

 

Demanda por pavimentação é comum a muitos municípios do Vale do Araguaia. O bolsão formado por Ponte Branca, Ribeirãozinho e Torixoréu, todos na divisa com Goiás, é exemplo disso. Os três estão à margem da MT-100, rodovia Norte-Sul que liga Alto Taquari (na tríplice divisa MT/MS/GO) a São Félix do Araguaia. O trecho compreendido de Alto Araguaia a Pontal do Araguaia, de 250 quilômetros, desafia sucessivos governos, que não conseguem asfaltá-lo de ponta a ponta – mas está em obra em ritmo de tartaruga.

No meio do trajeto entre Alto Araguaia e Pontal do Araguaia, se localizam os três municípios e Araguainha, que embora sendo da região do Araguaia é ligado a Rondonópolis em razão da distância.

Trechos que intercalam pavimentação e encascalhamento fazem a ligação daquelas cidades com Pontal do Araguaia e Alto Araguaia. Essa rodovia além de vital para a região é a distância mais curta entre o polo de Barra do Garças e o terminal ferroviário de embarque de grãos a Rumo ALL em Alto Araguaia.

 

Ribeirãozinho, o maior município produtor de grãos no trajeto tem 625,806 km², 2.405 habitantes, seu IDH é 0,692 e a renda per capita R$ 31.720,06.

Ribeirãozinho se emancipou de Ponte Branca em 20 de dezembro de 1991 por uma lei do deputado Pedro Lima sancionada pelo governador Jayme Campos. Alto Araguaia é a sede de sua comarca. A agricultura é a base econômica seguida pela pecuária.

Ponte Branca – Município com 625,806 km² e 1.576 habitantes, seu IDH é 0,686 e a renda per capita R$ 14.586,20. Ponte Branca pertencia a Alto Araguaia, do qual é comarca. Sua emancipação data de 1º de deembro de 1953 por uma lei ddo deputado Clóvis Hugueney sancionada pelo governador Fernando Corrêa da Costa. Sua base econômica é a pecuária

Em Ponte Branca o Araguaia se afunila formando um canyon de rara beleza e que recebe canoístas para a prática de esportes aquáticos radicais.

Torixoréu – Município emancipado de Guiratinga em 10 de dezembro de 1955 por uma lei do deputado Heronides Araújo e sancionada pelo governador Fernando Corrêa da Costda, Torixoréu tem 2.398,210 km², 3.609 habitantes, o IDH é 0,716 e a renda per capita R$ 24.405,29.

A base econômica é a pecuária. A cidade tem ligação pavimentada com Goiás, mas não com Mato Grosso. Separada da goiana Baliza pelo rio Araguaia. Torixoréu tse identifica mais com o Estado vizinho  e permanece isolada de Mato Grosso.

FOTO:S

1 – Lenine Martins – Site público do Governo de Mato Grosso em 2015

2 – Alan Amorim em Ribeirãozinho