A mão estendida por Mato Grosso ao Rio Grande do Sul é louvável sob todos os aspectos. Tanto a doação dos 50 milhões de reais feita pelo governo estadual quanto as doações financeiras de empresas e cidadãos, e os alimentos, roupas, remédios, ração animal e outros itens entregues pela população e encaminhados aos gaúchos mostram o humanismo mato-grossense, reforçam o princípio federativo e evidenciam os fortes vínculos entre os dois estados. Esta corrente tem que ser mantida enquanto houver dor, pranto e carência. Porém, tão logo o cenário volte à normalidade no extremo Sul, será preciso socorrer nossos irmãos nordestinos.
Passei a infância morando ao lado da Rio-Bahia, que à época era praticamente o único acesso rodoviário do Nordeste a São Paulo e ao Rio de Janeiro. Vi famílias de paus-de-arara cozinhando e lavando fraldas de crianças no córrego que cruza aquela grande via longitudinal em Alpercata (MG), onde residia. Das carrocerias, pais com a face desbotada e os olhos marejados, envergonhados por pedir ajuda, estendiam as mãos por um pedaço de pão. Alguns com sorte conseguiam trabalho interrompendo a viagem tão bem narrada na poesia de Patativa do Assaré musicada e interpretada por Luiz Gonzaga em:
A Triste Partida:
Em um caminhão / Ele joga a famía / Chegou o triste dia / Já vai viajar / (Meu Deus, meu Deus) /
A seca terrive / Que tudo devora / Ai, lhe bota pra fora / Da terra Natal / (Ai, ai, ai, ai) /
O carro já corre / No topo da serra / Olhando pra terra / Seu berço, seu lar / (Meu Deus, meu Deus) /
Aquele nortista / Partido de pena / De longe da cena / Adeus meu lugar / (Ai, ai, ai, ai)…/
Às muitas cenas que presenciei na infância, junta-se minha experiência percorrendo a Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Piauí e Maranhão, onde estive frente a frente com a dor nordestina pela inclemência do sol e a falta de chuva.
O cenário no Nordeste melhorou em relação ao ontem, sobretudo ao período da grande migração para o Acre. Porém, o nordestino fora do litoral e das grandes e médias cidades enfrenta o flagelo da fome silenciosa e implacável, da falta de água e da seca que o impede de cultivar.
Mato Grosso carrega em sua identificação o DNA nordestino, e de modo mais acentuado, esse traço está na origem de Barra do Garças, Torixoréu, Poxoréu, Guiratinga, Tesouro, Alto Garças, General Carneiro, Paranatinga, Alto Araguaia, Itiquira, Rondonópolis e outras cidades dos vales do Garças e do Araguaia.
Distrito de Espigão do Leste, em São Félix do Araguaia é chamado de Os Baianos; o maior centro de boêmia em Poxoréu se chamava Rua da Bahia; Nortelândia é nome alusivo ao Nordeste – antigamente era comum o nordestino ser chamado de nortista; o trecho da MT-270 entre Rondonópolis e Fátima de São Lourenço (de Juscimeira) recebeu o nome de Rodovia João Antônio Fagundes – João Baiano. O médico Francisco Sabino Álvares da Rocha Vieira, o Dr. Sabino, liderou o movimento Sabinada, que tentou implantar uma república baiana; condenado à morte, teve a sentença comutada pelo degredo em Cáceres, onde prestou relevantes serviços médicos e em sua memória a cidade denominou uma de suas ruas de Dr. Sabino Vieira.
Está na hora da colônia nordestina e seus descendentes repetirem o que se faz agora pelo Rio Grande do Sul. É imperativo que se criem grupos de padrinhos em socorro às vilas e cidades que morrem pela seca. O montante para tanto é bem menor do que o necessário para reerguer o estado do Sul. Poços artesianos e semi artesianos, cisternas para armazenar água da chuva que é rara na região, e uma acanhada infraestrutura para o lar e a pequena propriedade.
Por amostragem citando nordestinos e seus descendentes na vida pública mato-grossense na atualidade e no passado recente, é possível ver que se os mesmos se mobilizarem parte da dor da Terra da Asa Branca e o Mandacaru estará cicatrizada e curada. Algo deve ser feito. Não podemos mais presenciar, de braços cruzados, a dor nordestina.
São eles: o senador Wellington Fagundes e os ex-senadores Louremberg Nunes Rocha e Carlos Bezerra; os deputados federais José Medeiros e Fábio Garcia; a ex-deputada federal Rosa Neide; o deputado estadual Cláudio Ferreira; os ex-deputados estaduais Antônio Ferreira Neto, Pedro Lima e João Batista do Sindspen;
os prefeitos Zé Elpídio (Nova Olímpia), Janailza Taveira (São Félix do Araguaia), Zé Carlos do Pátio (Rondonópolis) e Eliene Liberato (Cáceres);
os ex-prefeitos Percival Muniz (Rondonópolis), Luciano Alencar (Vila Rica), Maurício Tonhá (Água Boa), Olivan Ferreira Trindade (Santa Terezinha), Eliane Lins da Silva (Denise), Sinvaldo de Brito (Peixoto de Azevedo), Elias Mendes Leal Júnior (Curvelândia e Mirassol D’Oeste), Filemon Limoeiro (São Félix do Araguaia), Arivaldo Santana (São José do Povo), Cezalpino Mendes Teixeira Júnior, o Pituchinha (Alto Garças), Bettt Sabah Marinho da Silva (Rondolândia), Raimundo Nonato de Abreu Sobrinho (Barra do Bugres), Francisco Soares de Medeiros (Nova Olímpia), Marcionilo Corte Souza (Pedra Preta) e Tonho do Menino Velho (Poxoréu); o vice-prefeito Sivirino Souza dos Santos (Barra do Garças);
os vereadores Reginaldo Santos (Rondonópolis), Cabo Odenilio (Feliz Natal) e Dilemário Alencar (Cuiabá); e os ex-vereadores Thiago Muniz (Rondonópolis), Manoel Nascimento da Silva, o Manezinho (Sapezal), José Domingos Nunes, o Biro Biro (Paranaíta) e Lourisvaldo Manoel de Oliveira, o Fulô (Rondonópolis) .
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