ALTO ARAGUAIA – Prefeito eleito quer nova matriz econômica com reflexos ambientais
Eduardo Gomes
@andradeeduardogomes
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Cidade estruturada, com 17.657 habitantes, Alto Araguaia, na divisa com Goiás e formando conurbação com a goiana Santa Rita do Araguaia, celebra em 26 de outubro, 86 anos de emancipação, mas com um gargalo econômico e ambiental na zona rural criado com o passar do tempo e que se agrava ano após ano: imensa área degradada inaproveitada ou aproveitada parcialmente pela atividade rural. Reinseri-la ao processo produtivo de modo a fazê-la rentável e ao mesmo tempo torná-la ativo ambiental com exploração econômica sustentável é a meta do prefeito eleito Jacson Marlon Niedermeier (União) que planeja uma ousada, mas exequível proposta para tanto. O plano de Jacson ganhará importante sustentáculo, pois o deputado estadual Júlio Campos (União) apresentará um projeto pedindo a criação de um programa de reflorestamento inserido num conjunto bem abrangente de ações e obras para fortalecer o plantio com interesse comercial e o repovoamento com espécies nativas, e para desenvolver campanhas educativas pela conscientização ambiental.
Produtor rural, empresário e líder ruralista, Jacson cultiva em Alto Araguaia desde a juventude. Ao longo dos anos ele observa o processo de degradação ambiental, que pode ser contido – segundo ele – com o plantio de eucalipto e o sistema agrossilvipastoril, também chamado de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF). “Temos (Alto Araguaia) 550 mil hectares agricultáveis, dos quais apenas 40 mil destinados à soja e sua rotação de cultura, pois a maior parte desta área tem solo arenoso!, observa o prefeito eleito. As antigas práticas, o solo arenoso e o desmatamento em encostas e ‘quebradas’, facilitou o processo de erosão, o surgimento de voçoroca e a cupinização. “A consequência é muito grave. Parte da área destinada à pastagem está degradada e outra parte parcialmente degradada, e muitos produtores desistiram de cultivar no município”, revela.
O melhor meio para a retomada da atividade econômica na área atingida é o cultivo do eucalipto e a ILPF, avalia Jacson. levando em conta que o reflorestamento também terá impacto positivo no processo de agroindustrialização de seu município, pois o mesmo assegurará lenha para as indústrias de esmagamento de soja e outras, instaladas naquele e nos municípios vizinhos de Alto Taquari e Alto Garças.
O processo de industrialização em Alto Araguaia e região começou em 6 de junho de 2003, data em que o presidente Lula da Silva e os governadores Blairo Maggi e Zeca do PT (MS), inauguraram o trecho ferroviário ligando aquela cidade a Alto Taquari. Com os trilhos a cidade de Jacson ganhou um terminal ferroviário alimentado pelo modal rodoferroviário que utiliza a rodovia BR-364 e a recém-pavimentada MT-100 que liga Barra do Garças, Pontal do Araguaia, Torixoréu, Ribeirãozinho, Ponte Branca e Araguainha a Alto Araguaia.
O plano de Jacson é que o eucalipto seja plantado numa área com milhares de hectares e de muitos proprietários. A proposta é lutar junto ao Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) pela liberação dos recursos necessários, por meio de linha de crédito específica, com juros reduzidos e carência compatível com o tempo necessário para a extração da madeira. Essa linha, entende Jacson, tem que contar com agentes financeiros para operá-la, como o Sicredi, Sicoob, Banco do Brasil e Banco da Amazônia.
Jacson reconhece que a erosão, a degradação da pastagem e outros problemas do solo devem ser debitados à exploração contínua, em alguns casos desde 1895, quando o lendário João José de Moraes, o Cajango, iniciou o processo de colonização de Alto Araguaia com a pecuária bovina, e logo na sequência com a descoberta de diamante naquele município e nas regiões onde surgiram as cidades de Alto Garças, Araguainha e Itiquira. “A hora é agora”, comemora o prefeito eleito apostando todas as fichas na viabilidade e execução de seu plano, “o que será mais um trunfo de Alto Araguaia para conquistarmos mais indústrias de esmagamento de soja e outras, que dependem da lenha“, cita Jacson.
Uma sintonia perfeita entre a Prefeitura de Alto Araguaia, sindicatos rurais da região e os órgãos estaduais e federais orientará o proprietário rural interessado, o capacitará e abrirá portas ao mesmo. Jacson acompanhado por seu vice-prefeito Welton Vilela Cardoso (PSB) apresentou esta proposta ao vice-governador Otaviano Pivetta (Republicanos), ao senador Jayme Campos (União) e ao deputado estadual Júlio Campos (União). “Todos se colocaram à disposição para viabilizá-la“, acrescentou.
JÚLIO CAMPOS – O agronegócio é a principal matriz econômica de Mato Grosso, que tem perfil exportador. Os mercados importadores da União Europeia, Japão e América do Norte são cada vez mais exigentes na esfera ambiental. Para evitar a criação de barreiras ambientais é preciso observar os critérios dos importadores. Face a esta realidade, Júlio Campos, que preside a Comissão e Relações Institucionais da Assembleia, apresentará um projeto pedindo a criação de um programa de reflorestamento bem abrangente, que vire a página das áreas degradadas pela ação do desmatamento, garimpo ou atividade do agronegócio. “O Estado é uma complexa engrenagem e todos os dentes devem se encaixar perfeitamente para que ela funcione satisfatoriamente“, diz o deputado.
Os dentes da engrenagem citada por Júlio Campos são as políticas públicas da União, nesse caso representadas pelo Ibama, Incra, Funai e a Agência Nacional de Mineração; de Mato Grosso, pela Secretaria de Meio Ambiente (Sema), Indea e Intermat; e dos municípios por suas prefeituras e câmaras municipais. Além dos órgãos públicos, segundo o deputado, é imprescindível ouvir as federações, que representam os produtores rurais, os trabalhadores rurais, as colônias de pescadores, empresários do comércio e da indústria e os operadores da exportação.
Júlio Campos e Jacson conversaram na segunda-feira, 14, no Cenarium Rural, em Cuiabá, onde aconteceu um debate sobre o projeto de lei que tramita no Senado propondo a modernização do seguro rural no Brasil. Jacson estava acompanhado pelo vice-prefeito eleito Welton Vilela.
O deputado entende que para Mato Grosso consolidar e abrir mercados internacionais será preciso avançar na relação do homem com o meio ambiente. “Não basta dizermos ao mundo que temos um ativo ambiental de 62%. Precisamos mostrar a todos que as incorreções do passado, motivadas pelos costumes da época estão sendo corrigidas“, resumiu. Seu projeto se encaixa perfeitamente no plano de Jacson.
JACSON – O prefeito eleito de Alto Araguaia, Jacson Marlon Niedermeier (União), venceu o pleito com 6.515 votos (73,55%) e sua coligação conquistou ampla maioria na Câmara, o que facilitará sua luta pelo reflorestamento.
Jacson nasceu em Três Passos, no Rio Grande do Sul. Em 1976, quando tinha um ano de idade, seus pais Noêmia e Valdir Antônio Niedermeier, pegaram a BR-163, cruzaram o Sul do país, entraram em Mato Grosso, e pela BR-364 chegaram a Alto Araguaia, onde escolheram viver e trabalhar. Jacson cresceu acompanhando as transformações da cidade que adotou e foi por ela adotado. Presidiu o Sindicato Rural do município e pegou gosto pela política vendo os pais atuarem na vida pública. Seo Valdir foi vereador e vice-prefeito. Dona Noêmia cumpriu mandato de prefeita.
Fotos:
1 e 3 – Marcos Cardial
2 e 4 – Edson Rodrigues
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