Assembleia Legislativa sempre foi casa de prefeitos
Eduardo Gomes
@andradeeduardogomes
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Faça o que digo, mas não copie o que falo. Esta frase representa bem a máxima política atual, pela qual parlamentares com sangue no olho criticam ex-prefeitos e prefeitos reeleitos que querem candidatar-se a deputado estadual em 2026, como se a Assembleia Legislativa historicamente não fosse casa de prefeitos. Os fatos:
A renovação política em Mato Grosso é pequena. O político quase sempre perpetua-se no poder e não raramente a manobra chamada sanfona mostra políticos correndo de prefeitura para a Assembleia e vice-versa. Assim: prefeito vira deputado, que vira prefeito.
Na legislatura em curso são ex-prefeitos: o presidente da Assembleia, Max Russi/PSB (duas vezes em Jaciara), Wilson Santos/PSD (duas vezes em Cuiabá), o vice-presidente Júlio Campos/ União (Várzea Grande), Valdir Barranco/PT (Nova Bandeirantes), Nininho/PSD (três vezes em Itiquira) e Valmir Moretto/Republicanos (duas vezes em Nova Lacerda.

O vaivém pelo poder em Mato Grosso é intenso. Passaram por prefeituras e a Assembleia, e vice-versa; Jair Benedetti (Comodoro), Zé Carlos do Pátio (Rondonópolis), José Riva (Juara), Cláudio Ferreira (Rondonópolis), Luciane Bezerra (Juara), Airton Português (Araputanga), Oscar Bezerra (Juara), Gonçalo Pedroso de Barros (Várzea Grande), Chico Monteiro (Nossa Senhora do Livramento), Percival Muniz (Rondonópolis), Ságuas Moraes (Juína), Emanuel Pinheiro (Cuiabá), Licínio Monteiro da Silva (Várzea Grande), Romoaldo Júnior (Alta Floresta), Saturnino Masson (Tangará da Serra), Eduíno Orione (Guiratinga), Carlos Bezerra (Rondonópolis), Dante de Oliveira (Cuiabá), Ezequiel Fonseca (Reserva do Cabaçal), Chico Galindo (Cuiabá), Rodrigues Palma (Cuiabá), Candinho Borges Leal (Rondonópolis), Valdizete Nogueira (Jaciara), José Domingos Fraga Filho (Sorriso e Nobres), Altir Peruzzo (Juína), Juarez Costa (Sinop), Wilmar Peres de Farias (Barra do Garças), Walace Guimarães (Várzea Grande), Zanete Cardinal (Rondonópolis), Otaviano Pivetta (Lucas do Rio Verde), Thaís Barbosa (Tangará da Serra), Walter Fidélis (Cáceres), Vicente Vuolo (Cuiabá), Edivaldo Paiva (Mirassol D’Oeste), João Marinho Falcão (Poxoréu), André Bringsken (Vila Bela da Santíssima Trindade), Jaime Muraro (Tangará da Serra), Hermínio Barreto (Rondonópolis), Ary Leite de Campos (Várzea Grande), José Antônio de Almeida/Baú (São Félix do Araguaia), Silval Barbosa (Matupá), Sarita Baracat (Várzea Grande), Meraldo Sá (Acorizal), Nilson Santos (Colíder), Lincoln Saggin (Torixoréu), Teócles Maciel (Barão de Melgaço), Valdon Varjão (Barra do Garças), Roberto França (Cuiabá), Dionir de Freitas Queiroz (Pontes e Lacerda), Gabriel de Mattos Müller (Várzea Grande), Joaquim Nunes Rocha (Poxoréu), Nilson Leitão (Sinop), Hilton Campos (Juína), Valter Miotto (Matupá) e Joemil Araújo (Rosário Oeste), dentre outros.
Portanto, mesmo com a pequena renovação política, não é fato atípico ex-prefeito candidatar-se a deputado estadual. Porém, a avalanche de pré-candidatos oriundos de prefeituras rouba o sono de muitos deputados, mesmo sabendo-se que na próxima legislatura haverá aumento de três cadeiras, o que deixará o Legislativo com 27 parlamentares.
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Quem são os prefeitos e ex-prefeitos que causam urticária em deputados estaduais? Política não é ciência exata e as citações podem não se confirmar, mas se as eleições fossem hoje, certamente estariam concorrendo os seguintes políticos, porém, nem todos por suas atuais siglas, pois mudança partidária é coisa natural para boa parte dos homens públicos:
Nelson Antônio Paim (PSD), que foi prefeito de Poxoréu nos dois últimos mandatos. Paim é piloto e dono de uma empresa de aviação agrícola. Tem base eleitoral tanto em Poxoréu, quanto em Primavera do Leste, que é a sede de seus negócios. Paim é apontado como puxador de votos para a legenda do senador licenciado e ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, que deverá disputar o governo com as bençãos do presidente Lula.
Maurício Tonhá (União). Maurício foi presidente da Câmara e duas vezes prefeito de Água Boa, no Vale do Araguaia.
Ele não admite que pretenda candidatar-se a deputado justificando que seu perfil é de executivo. Porém, no cerne do bolsonarismo no Vale do Araguaia, seu nome é defendido como forma de conter o avanço dos partidos de centro-esquerda na região. Também de Água Boa é o deputado estadual Dr. Eugênio (PSB), que tentará seu terceiro mandato consecutivo.
Maurício é empresário do agronegócio e preside a leiloeira Estância Bahia, que é uma das maiores do ramo no Brasil. Nos incontáveis leilões de bovinos que realiza com transmissão pela televisão em canal fechado, é um dos mato-grossenses mais conhecidos. Hábil na oratória, Maurício faz de cada evento, uma janela para comunicar-se com a população.
Kalil Baracat (MDB) não conseguiu reeleger-se prefeito de Várzea Grande. Sua derrota, mesmo apoiado por grandes nomes da política local e estadual é considerada normal, em razão da crise de abastecimento de água na cidade, o que causou revolta na população. Porém, o município tem o segundo maior eleitorado estadual e ele conseguiria facilmente votação suficiente para o cargo. Kalil é filho do ex-vice-prefeito e ex-deputado estadual Nico Baracat, já falecido, e neto da professora Sarita Baracat, que foi prefeita e deputada estadual.
Várzea Grande vive uma lua de mel política com a prefeita Flávia Moretti (PL), que derrotou Kalil, mas esse tipo de romance é comum em começo de mandato. O momento político em 2026 definirá a votação para todos os cargos. Kalil deverá concorrer diretamente com Júlio Campos (União) e Fábio Tardin (PSB), ambos em primeiro mandato, e que tentarão a reeleição na Assembleia.
Alcindo Barcelos(Republicanos) – De Pontes e Lacerda, Barcelos cumpriu dois mandatos consecutivos e anunciou que pretende candidatar-se a deputado estadual.
Barcelos foi o mais polêmico prefeito mato-grossense; seu município é o segundo maior na faixa de fronteira, e Pontes e Lacerda é o domicílio eleitoral do deputado Valmir Moretto (Republicanos) e eles poderão morrer abraçados, como se diz no jargão político, embora Moretto em função do cargo tenha bases eleitorais em outros municípios.
Ari Lafin (PSDB) – Ex-prefeito de Sorriso por dois mandatos consecutivos, Ari Lafin não esconde a vontade que tem de ser deputado estadual.
Principal município agrícola do mundo, Sorriso sempre elege políticos ligados ao agronegócio, com o qual Ari Lafin tem total identificação. O suplente de deputado estadual, ex-vice-prefeito de Sorriso e ex-deputado estadual Xuxu Dalmolin (União) tentará voltar à Assembleia e os dois travarão disputa em seu município.
Emanuel Pinheiro (MDB) – cumpriu dois mandatos consecutivos de prefeito de Cuiabá, onde foi vereador. Ex-deputado estadual aposentado pelo Fundo de Assistência Parlamentar (FAP), Emanuel Pinheiro recebeu o jocoso apelido de Paletó, por conta de um vídeo onde ele deixa cair um maço de notas do bolso de um paletó. O vídeo foi exibido em horário nobre na Globo, é de domínio público, mas não foi capaz de impedir a reeleição de Emanuel Pinheiro para prefeito em 2020.
Pai do deputado federal Emanuel Pinheiro (MDB), e vídeo à parte, pois nem a Justiça nem o eleitorado cuiabano o condenaram por aquele episódio, o ex-prefeito de Cuiabá poderá trocar a função de servidor da Assembleia, onde é lotado, pelo cargo de deputado estadual.
Zé Carlos do Pátio (PSB) conhece bem o caminho da Prefeitura de Rondonópolis para a Assembleia e vice-versa. Pátio foi prefeito em três mandatos e por quatro vezes foi deputado estadual. Crítico do agronegócio e de perfil socialista, Pátio é considerado um dos maiores líderes políticos mato-grossenses.
Em 2024 Pátio não conseguiu eleger o correligionário Paulo José, seu sucessor. Analistas políticos insistem que Pátio deixará o PSB, mas legenda não altera sua relação com a parte do eleitorado rondonopolitano que o segue. Alguns entusiastas insistem que o mesmo será candidato ao governo, mas com os pés no chão, o ex-prefeito nunca aventurou-se por candidaturas majoritárias estaduais.
Presidente da Associação Mato-grossense dos Municípios (AMM) e ex-prefeito de Primavera do Leste, Léo Bortolin (MDB) tem impedimento para disputar a eleição em 2026, mas pode recorrer do mesmo: em 18 de outubro do ano passado foi condenado pelo juiz da 40ª Zona Eleitoral, Roger Augusto Bim Donega, a perda dos direitos políticos por oito anos, por promoção pessoal em evento custeado pela prefeitura.
Eleito vereador em 2016, Léo Bortolin conquistou a presidência da Câmara. Com a cassação da chapa do prefeito Getúlio Viana (PR) Léo Bortolin assumiu a prefeitura, foi mantido no cargo em eleição suplementar, e em 2024 reelegeu-se
Em 2024, então prefeito no segundo mandato consecutivo em Primavera do Leste, Léo Bortolin não conseguiu eleger o sucessor, o vice-prefeito Ademir Góes (União).
Carlos Sirena (PL) foi prefeito de Juara, um dos principais municípios do Nortão. Seu nome é citado para representar o Vale do Arinos na Assembleia. Sirena integra o grupo bolsonarista, e nas entrelinhas admite que deverá disputar a eleição para deputado estadual.
Carlos Amadeu Sirena foi vice-prefeito de Luciane Bezerra, cassada pela Câmara por improbidade administrativa, e assumiu o cargo. Em 2020 venceu a eleição para a prefeitura.
Fernando Gorgen (União) foi prefeito de Querência em três mandatos. Gorgen transferiu a prefeitura em janeiro para Gilmar Wentz (PRD) e seu nome é citado para deputado estadual.
A base eleitoral de Gorgen é o Norte do Vale do Araguaia, formado pelo seu e os municípios de Vila Rica, Santa Terezinha, Confresa, Porto Alegre do Norte, Canabrava do Norte, São José do Xingu e Santa Cruz do Xingu. Gorgen é empresário do agronegócio.
Nos bastidores comenta-se que Gorgen teria sido convidado para formar uma dobradinha com ele para deputado federal e o deputado estadual Dr. Eugênio tentando a reeleição. O convite não teria sido aceito.

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