Santa Casa de Cuiabá morreu; que a de Rondonópolis se cuide
Eduardo Gomes
@andradeeduardogomes
eduardogomes.ega@gmail.com
Hospital não se fecha. Porém, em Mato Grosso não é assim. O governador Mauro Mendes (União) decidiu riscar o Hospital Estadual Santa Casa de Cuiabá do mapa e definiu quando fechará o caixão: em setembro. Que a Santa Casa de Misericórdia se cuide.
Não será o fechamento pelo fechamento, pois os pacientes internados na Santa Casa – como o hospital é conhecido há dois séculos – serão removidos para o Hospital Central de Cuiabá. Portanto presenciaremos duas situações atípicas: o fim da Santa Casa e a canibalização de seu atendimento, o que não permitirá à nova unidade hospitalar ofertar todos seus leitos como sendo novos, pois na verdade quase a metade funcionará para repor os leitos que a decisão de Mauro Mendes desativará na Santa Casa.
É uma explicação simples, fácil de ser entendida, mas uma medida amarga, difícil de ser engolida.
Detalhes: na quarta-feira (16) a Assembleia Legislativa aprovou um projeto de Mauro Mendes para transferir a gestão do Hospital Central de Cuiabá para uma Oscip do Hospital Israelita Albert Einstein da capital paulista. Sem consulta pública e sequer sem que a Oscip contemplada esteja habilitada para prestar serviços ao governo estadual (via Secretaria de Estado de Saúde) o governante ganhou um cheque em branco para no próximo dia 22 firmar um convênio com a Oscip, que receberá mensalmente 34,9 milhões (desse montante, 10 milhões do Ministério da Saúde, para atendimento a algumas especialidades). Mais: sem contemplar os servidores aprovados em concurso público com a chancela da Fundação Getúlio Vargas para a Secretaria de Estado de Saúde e que aguardam chamamento.
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O encantamento com a grife Albert Einstein permitiu a decretação da morte da Santa Casa, muito embora os deputados estaduais Lúdio Cabral e Valdir Barranco (ambos do PT) e Wilson Santos (PSD) tivessem protestado contra tal decisão. Daqui a pouco a bicentenária Santa Casa será passado e reeditará fisicamente sua segunda morte, como se fosse uma instituição reincarnável. Vejamos:
A antiga Santa Casa de Misericórdia morreu pela primeira vez em 2019, deixando uma dívida de 118 milhões e 800 servidores sem receber salário há seis meses. A primeira morte foi causada por gestões temerárias, pagamentos astronômicos de salários a burocratas afilhados de dirigentes da entidade e abusos de todas as naturezas. Foi um crime o que aconteceu com aquele hospital, mas uma cortina social blindou o caso e ninguém respondeu pelo mesmo.
A decretação da primeira morte da Santa Casa de Misericórdia aconteceu em 2 de maio de 2019, data em que o governo estadual assumiu sua gestão e a transformou no Hospital Estadual Santa Casa. A segunda está marcada para setembro, enquanto o Tribunal Regional do Trabalho da 23ªRegião em Cuiabá administra sua massa falida.
O absurdo da segunda morte não foi questionado por Mato Grosso. Ela simplesmente acontecerá, quando ao invés da mesma, Mato Grosso poderia ganhar mais um hospital público em sua capital. Lamentável sob todos os aspectos.
ANALOGIA – Não há nenhum projeto para a construção de um novo hospital público em Rondonópolis, mas a Santa Casa de Misericórdia daquela cidade está na UTI pela incúria administrativa que a mergulhou numa dívida superior a 90 milhões.
Uma das principais referências em Saúde Pública naquela cidade e em seu raio de influência, a Santa Casa foi sucateada, e recentemente seus médicos entraram numa grave que durou 11 dias e somente foi contornada após um acordo político com vigência de 45 dias para que os profissionais tenham seus salários regularizados.
Em busca de socorro para a Santa Casa, os deputados estaduais Nininho (PSD) Marildes Ferreira (PSB), Thiago Silva (MDB) e Sebastião Rezende (União) juntamente com o prefeito Cláudio Ferreira (PL) e a secretária municipal de Saúde Tânia Balbinotti foram ao governador e ao secretário estadual de Saúde, Gilberto Figueiredo, pedindo por intervenção estadual naquele hospital, mas a resposta foi curta e grossa “não”.

Uma comissão da Câmara Municipal tenta passar a limpo as finanças da Santa Casa numa investigação pirotécnica de superficialidade, pois se o caso sair da profundidade de pires para a realidade será muito complicado para parte da elite rondonopolitana.
MENSAGEM – Diante da segunda morte da Santa Casa de Cuiabá, Rondonópolis deveria tentar salvar sua Santa Casa, com emendas parlamentares, apoio da prefeitura e uma assepsia funcional em suas assessorias que recebem muito além da realidade, quando a receita daquele hospital deveria ter destinação coerente, digna e para o pessoal da saúde.
A Santa Casa complementa o papel do Hospital Regional Irmã Elza Giovanella de Rondonópolis no atendimento a 601.041 moradores em 19 municípios, numa área territorial de 89 mil km² onde caberiam com folga a Suíça e a Bélgica. Sem dar conta de resolver a questão da Santa Casa, políticos rondonopolitanos defendem a construção de mais um hospital regional naquela cidade. No entanto, o melhor seria a criação do Hospital Regional de Primavera do Leste (92.227 habitantes), o que reduziria a demanda em Rondonópolis e melhoria o atendimento para 204.976 residentes naquele e nos vizinhos municípios de Poxoréu, Campo Verde, Paranatinga e Santo Antônio do Leste, que correspondem a 34.10% da base populacional de 601.041 residentes atendidos por Rondonópolis.
Que Rondonópolis aja rápido, pois Mauro Mendes tem tradição de fechar escolas, delegacias e centros de detenção provisória, e não hesitaria em inviabilizar a Santa Casa de Rondonópolis, como anunciou para a Santa Casa de Cuiabá.
Resumindo: que a lamentável morte da bicentenária Santa Casa de Cuiabá motive Rondonópolis a lutar contra o mesmo fim de sua Santa Casa, pois Mauro Mendes e gestões temerárias não faltam.
Fotos:
1 – Secom MT
2 – Arquivo
3 – Assessoria Deputado Nininho