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237 ANOS DE POCONÉ – Transpantaneira nasce de um projeto de integração nacional

A grande reta chamada Transpantaneira
A grande reta chamada Transpantaneira

O primeiro multimodal de transporte brasileiro para a integração do trem com balsa e rodovia foi planejado no começo dos anos 1970 para interligar São Paulo e Mato Grosso, com trecho na área ora pertencente a Mato Grosso do Sul. Esse projeto fazia parte do Plano de Integração Nacional criado pelos militares que governavam o Brasil, dentro da política nacionalista de “Integrar para não Entregar”. Dele nasceu a Rodovia Transpantaneira.

No primeiro passo o multimodal com suas matrizes de transporte utilizaria a ferrovia, de São Paulo a Corumbá(agora Mato Grosso do Sul); a pantaneira Hidrovia Cuiabá-Paraguai, de Corumbá a Porto Jofre, no município de Poconé; e a Rodovia Transpantaneira, de Poconé a Porto Jofre. Num segundo passo a ligação rodoviária se estenderia de Corumbá a Poconé sendo alternativa ao transporte fluvial no trajeto.

A Transpantaneira avançou 140 quilômetros pelo município de Poconé, da cidade à margem direita do rio Cuiabá. A rodovia é uma grande reta em maior parte do trajeto suspensa por aterro com 124 pontes pequenas e médias sobre corixos, o que mostra o grau de dificuldade que foi sua construção. A obra foi cumprida na parte que mais tarde seria o remanescente mato-grossense após a divisão territorial para a criação de Mato Grosso do Sul, mas não foi executada no trecho da área seccionada.

Transpantaneira é a MT-060. Ela é Estrada-Parque e recebeu a denominação de Rodovia José Vicente Dorileo – Zelito Dorileo, por uma lei de autoria do deputado estadual Paulo Moura sancionada em 21 de janeiro de 1999 pelo governador Dante de Oliveira. Zelito foi pecuarista em Poconé e dirigente sindical patronal rural.

A construção da Transpantaneira começou em 5 de setembro de 1972 quando Mato Grosso era governado por José Manuel Fontanillas Fragelli. A obra foi executada pela Companhia de Desenvolvimento de Mato Grosso (Codemat), sob responsabilidade técnica dos engenheiros Enzo PerriHilton Campos (foi deputado estadual e prefeito de Juína), Kikuo Ninomiya Miguel (foi deputado estadual) e outros.

Em 1974, o governo federal inaugurou a ligação asfáltica de Cuiabá com Campo Grande (BR-163) e Goiânia (BR-364) via Rondonópolis. Paralelamente a isso a Transpantaneira foi concluída, mas perdeu importância pela natural opção pelo transporte rodoviário nas rodovias federais recém-construídas. Diante dessa realidade a obra não avançou além de Porto Jofre, rumo sul, na área agora de Mato Grosso do Sul.

A Transpantaneira ganhou algumas pontes de concreto, mas cintura fina – com passagem em sentido único. Sua construção retirou fazendas do isolamento e criou um corredor turístico de pesca e contemplação, já que surgiram pousadas em suas margens. Na sua área de influência é intenso o fluxo de turistas europeus, japoneses, australianos, norte-americanos e de países vizinhos

A imagem que vale por mil palavras

A imagem que vale por mil palavras

Percorrer a Transpantaneira é mergulhar visualmente na beleza pantaneira com sua exuberante flora e uma fauna de cair o queixo.

À margem da rodovia pachorrentos jacarés se espalham. Garças brancas, quatis, capivaras, ariranhas, tuiuiús, biguás, talhamares, veados, jaguatiricas, bugios, tatús, antas, canários e muitos outros pássaros, répteis e animais se misturam entre os ipês, aguapés, aricás, lixeiras, babaçus, bocaiuveiras, pequizeiros, lobeiras e aquela mistura infinitiva do verde da vegetação com o azul do céu e a tonalidade da água, que vai da transparência ao escuro, do esverdeado ao azul.

Não tenha pressa ao viajar pela Transpantaneira. É comum o trânsito de grandes boiadas conduzidas por comissários e peões, todos montados em imponentes animais da raça Cavalo Pantaneiro, que é rei nos dois estados, quando o assunto é montaria.

 

PROTEÇÃO – A rede de energia avançou pelo Pantanal acompanhando o curso da Transpantaneira para atender as fazendas da região. Enormes tuiuiús que voavam entre os pios em paralelo batiam as asas na fiação à direita e à esquerda: morriam eletrocutados. Um estudo feito pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) detectou a causa da mortandade e o governo mandou a Cemat, a estatal que distribuía energia em monopólio, aumentar a distância entre um e outro fio. Os tuiuiús agradecem.

 

Eduardo Gomes/blogdoeduardogomes

FOTOS: José Medeiros

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