40 Anos – De povo mato-grossense
Usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) em Mato Grosso são vítimas de uma política silenciosa, bem abafada, covarde, recorrente com sua face cruel: a falta de recursos para o funcionamento da máquina da Saúde Pública. Isso acontece pela incapacidade administrativa do governador Pedro Taques.
O funcionamento do SUS na ponta depende da engrenagem financeira de seus três entes federativos, União, Estado e Município. Acontece que Taques sistematicamente atrasa repasses com rubrica assegurada para a Saúde. Sem recursos, os hospitais, programas de saúde e centros de saúde padecem, murcham.
Incontáveis vezes hospitais regionais entraram em greve contra o descumprimento dos repasses por parte de Taques. O mesmo acontece com os hospitais filantrópicos. Em maio deste ano o médico e então diretor técnico do Hospital Regional de Sorriso, Roberto Satoshi, chorou copiosamente durante uma entrevista que concedia a uma televisão. O choro foi por conta dos sistemáticos atrasos dos repasses ao seu hospital. Imediatamente uma máquina promocional entrou em cena tentando desqualificar Satoshi. Dias depois ele entregou o cargo.
Em conversas reservadas com jornalistas, prefeitos reclamam dos atrasos, mas todos – sem exceção – pedem que seus nomes não sejam citados. Entre eles há temor de retaliação por parte de Taques. A conduta dos prefeitos reforça a máquina dos atrasos e vira aliada do apunhalamento dos usuários do SUS.
Em maio deste ano a Associação Mato-grossense dos Municípios (AMM) criou uma comissão de prefeitos para discutir com o governo e a Assembleia Legislativa o caos na Saúde. Seus componentes Rosana Martinelli (Sinop), Altir Peruzzo (Juína), Fábio Faria (Canarana), Nelson Paim (Poxoréu) e Jeferson Gomes (Comodoro) são figuras decorativas de uma crise que parece não ter fim. Em agosto, num evento do Palácio Paiaguás, o presidente da AMM, Neurilan Fraga, foi abordado sobre o funcionamento da citada comissão. Sua resposta: “quando você não quer apurar nada ou não fazer alguma coisa, cria uma comissão”.
Neste momento em que você lê este editorial, usuários do SUS enfrentam a dor do não atendimento na rede pública, por seu sucateamento causado pelos crônicos atrasos dos repasses. Paralelamente a isso Mato Grosso em desencanto vê o tempo avançando sem que Taques cumpra o compromisso assumido e reiteradas vezes repetido, de construir quatro hospitais regionais. Seus anúncios sobre os hospitais, por mais que ele tentasse transmitir firmeza em sua fala, deixava claro que algo não batia. Com quase dois anos e meio de governo Taques sequer tinha definido as cidades para receberem as obras (ora citava que uma seria em Alegre do Norte ora em Confresa; ora Pontes e Lacerda ora Comodoro); esse tema saiu da pauta dos discursos do governador.
Isso acontece num governo que em menos de três anos tem na Secretaria de Saúde o quarto secretário: Luiz Soares. Outros três exerceram o cargo, mas o deixaram sem que a população fosse informada dos reais motivos que os levaram a pegar o boné.
Que Mato Grosso reflita sobre o caos na saúde. Que os cidadãos saibam que em silêncio pacientes do SUS padecem por falta de atendimento, remarcação de cirurgias – pior, não se sabe se alguém morreu por conta dessa vergonha. Que o Ministério Público Estadual, tão atuante em outras áreas, volte seu olhar para esse crime recorrente, que vai além do descumprimento das regras orçamentárias, que fere a lógica administrativa, que desconsidera a condição humana do público ao qual os recursos se destinam e que em sua essência não merece outro título senão de crime contra a humanidade, contra o povo mato-grossense.
Eduardo Gomes de Andrade
Editor
blogdoeduardogomes2017@gmail.com
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