40 Anos – Manoel de Barros, o poeta
Mais que poeta: o mago das palavras unidas, ou juntadas, como dizia. Manoel de Barros era assim, desde que nasceu em Cuiabá e fechou os olhos em Campo Grande – mostrando que o homem mato-grossense está acima da divisão territorial que separa seus estados.
Poeta não morre. Deixa de compor, mas sua obra é eterna e ele vive na sua criação. No dia 13 deste novembro Manoel de Barros fechou os olhos para sempre, vítima de falência múltipla de órgãos, no Hospital Proncor, em Campo Grande (MS), onde se submeteu a uma cirurgia de desobstrução do intestino.
O poeta tinha 97 anos e vivia com sua mulher, Stella e a filha do casal, Martha, à Rua Piratininga, centro de Campo Grande. Sua morte aconteceu às 8h5 e seu corpo foi velado e sepultado no mesmo dia, no Cemitério Parque das Primaveras, naquela cidade.
O governador de Mato Grosso do Sul, André Pucinelli, decretou luto oficial de três dias em seu Estado pela morte do poeta. Pelo mesmo período o governador Silval Barbosa, e o prefeito de Cuiabá, Mauro Mendes, decretaram luto oficial em Mato Grosso e na capital mato-grossense, respectivamente. A Academia Sul-Mato-Grossense de Letras, onde ocupava a Cadeira Nº 1 emitiu nota lamentando seu falecimento.
A obra do Poeta
Poema Concebidos Sem Pecados (1937)
Face Imóvel (1942)
Poesias (1956)
Compêndio Para Uso dos Pássaros (1960)
Gramática Expositiva do Chão (1966)
Matéria de Poesia (1974)
Arranjos Para Assobio (1980)
Livro de Pré-Coisas (1985)
O Guardador de Águas (1989)
Gramática Expositiva do Chão – Poesia Quase Toda (1990)
Concerto a Céu Aberto Para Solos de Aves (1991)
O Livro das Ignorãças (1993)
Livro Sobre Nada (1996)
Das Buch der Unwissenhheiten – Edição da revista alemã Akzente (1996)
Retrato do Artista Quando Coisa (1998)
Ensaios Fotográficos (2000)
Exercícios de Ser Criança (2000)
Encantador de Palavras – Edição Portuguesa (2000)
Tratado Geral das Grandezas do Ínfimo (2001)
O Fazedor do Amanhã (2001)
Águas (2001)
Cantigas para um Passarinho à Toa (2003)
Para Encontrar o Azul eu Uso Pássaros (2003)
Les Paroles Sans Limite – Edição francesa (2003)
Todo lo que no Invento es Falso – Antologia na Espanha (2003)
Poemas Rupestres (2004)
Riba del Dessemblat – Antologia Poética – Edição Catalã (2005)
Memórias Inventadas I (2005)
Memórias Inventadas II (2006)
Memórias Inventadas III (2007)
Poeminha em Língua de Brincar (2007)
Menino do Mato (2010)
Poesia Completa (2010)
Escritos em Verbal de Ave (2011)
Fazendeiro pantaneiro por hereditariedade, advogado por formação acadêmica e a maior expressão poética dos dois lados da divisa que separa Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Manoel Wenceslau Leite de Barros, apelidado Nequinho, nasceu no lendário bairro do Porto, em Cuiabá, no dia 19 de dezembro de 1916. Ainda pirralho embarcou com a família numa chalana para Corumbá, na fronteira com a Bolívia, no Pantanal, de onde sua poesia ganhou o mundo.
Na juventude, comunista convicto, Manoel de Barros desencantou-se com seu então líder, Luiz Carlos Prestes, ao ouvir seu pronunciamento no Largo do Machado, Rio de Janeiro, enaltecendo Getúlio Vargas, o ditador, que pouco antes mandara para a prisão nazista Olga Benário Prestes – mulher do próprio Prestes – que seria executada.
Autor de obra singular, que é a melhor imagem poética do Pantanal, do homem e das coisas pantaneiras. Premiado internacionalmente, ganhador de dois prêmios Jabuti, consagrado, reverenciado. Assim era Manoel de Barros, o poeta cuiabano que inverte a máxima da prevalência da imagem sobre a palavra. Seu texto é capaz de transformar – a tal ponto – uma frase em luz, que a mesma abre espaço a interpretações e divagações que a deixam acima do limitado sentido da imagem.
EDUARDO GOMES/blogdoeduardogomes
FOTO: Arquivo
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