Boa Midia

40 Anos – Transpantaneira nasceu de um projeto de integração

A grande reta chamada Transpantaneira
A grande reta chamada Transpantaneira

O primeiro multimodal de transporte brasileiro para a integração do trem com balsa e rodovia foi planejado no começo dos anos 1970 para interligar São Paulo e Mato Grosso, com trecho na área ora pertencente a Mato Grosso do Sul. Esse projeto fazia parte do Plano de Integração Nacional criado pelos militares que governavam o Brasil, dentro da política nacionalista de “Integrar para não Entregar”. Dele nasceu a Rodovia Transpantaneira.

No primeiro passo o multimodal com suas matrizes de transporte utilizaria a ferrovia, de São Paulo a Corumbá (agora Mato Grosso do Sul); a pantaneira Hidrovia Cuiabá-Paraguai, de Corumbá a Porto Jofre, no município de Poconé; e a Rodovia Transpantaneira, de Poconé a Porto Jofre. Num segundo passo a ligação rodoviária se estenderia de Corumbá a Poconé sendo alternativa ao transporte fluvial no trajeto.

A Transpantaneira avançou 140 quilômetros pelo município de Poconé, da cidade à margem direita do rio Cuiabá. A rodovia é uma grande reta em maior parte do trajeto suspensa por aterro com 124 pontes pequenas e médias sobre corixos, o que mostra o grau de dificuldade que foi sua construção. A obra foi cumprida na parte que mais tarde seria o remanescente mato-grossense após a divisão territorial para a criação de Mato Grosso do Sul, mas não foi executada no trecho da área seccionada.

Transpantaneira é a MT-060. Ela é Estrada-Parque e recebeu a denominação de Rodovia José Vicente Dorileo – Zelito Dorileo, por uma lei de autoria do deputado estadual Paulo Moura sancionada em 21 de janeiro de 1999 pelo governador Dante de Oliveira. Zelito foi pecuarista em Poconé e dirigente sindical patronal rural.

A construção da Transpantaneira começou em 5 de setembro de 1972 quando Mato Grosso era governado por José Manuel Fontanillas Fragelli. A obra foi executada pela Companhia de Desenvolvimento de Mato Grosso (Codemat), sob responsabilidade técnica dos engenheiros Enzo Perri, Hilton Campos (foi deputado estadual e prefeito de Juína), Kikuo Ninomiya Miguel (foi deputado estadual) e outros.

Em 1974, o governo federal inaugurou a ligação asfáltica de Cuiabá com Campo Grande (BR-163) e Goiânia (BR-364) via Rondonópolis. Paralelamente a isso a Transpantaneira foi concluída, mas perdeu importância pela natural opção pelo transporte rodoviário nas rodovias federais recém-construídas. Diante dessa realidade a obra não avançou além de Porto Jofre, rumo sul, na área agora de Mato Grosso do Sul.

A Transpantaneira ganhou algumas pontes de concreto, mas cintura fina – com passagem em sentido único. Sua construção retirou fazendas do isolamento e criou um corredor turístico de pesca e contemplação, já que surgiram pousadas em suas margens. Na sua área de influência é intenso o fluxo de turistas europeus, japoneses, australianos, norte-americanos e de países vizinhos

A imagem que vale por mil palavras
A imagem que vale por mil palavras

Percorrer a Transpantaneira é mergulhar visualmente na beleza pantaneira com sua exuberante flora e uma fauna de cair o queixo.

À margem da rodovia pachorrentos jacarés se espalham. Garças brancas, quatis, capivaras, ariranhas, tuiuiús, biguás, talhamares, veados, jaguatiricas, bugios, tatús, antas, canários e muitos outros pássaros, répteis e animais se misturam entre os ipês, aguapés, aricás, lixeiras, babaçus, bocaiuveiras, pequizeiros, lobeiras e aquela mistura infinitiva do verde da vegetação com o azul do céu e a tonalidade da água, que vai da transparência ao escuro, do esverdeado ao azul.

Não tenha pressa ao viajar pela Transpantaneira. É comum o trânsito de grandes boiadas conduzidas por comissários e peões, todos montados em imponentes animais da raça Cavalo Pantaneiro, que é rei nos dois estados, quando o assunto é montaria.

 

PROTEÇÃO – A rede de energia avançou pelo Pantanal acompanhando o curso da Transpantaneira para atender as fazendas da região. Enormes tuiuiús que voavam entre os pios em paralelo batiam as asas na fiação à direita e à esquerda: morriam eletrocutados. Um estudo feito pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) detectou a causa da mortandade e o governo mandou a Cemat, a estatal que distribuía energia em monopólio, aumentar a distância entre um e outro fio. Os tuiuiús agradecem.

 

EDUARDO GOMES/blogdoeduardogomes

FOTOS: José Medeiros

Comentários estão fechados.

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Vamos supor que você está bem com isso, mas você pode optar por sair, se desejar. Aceitar Leia Mais

Política de privacidade e cookies