40 Anos – Um senador do mundo e um deputado da aldeia
Não se pode falar em política mato-grossense pós-divisão territorial sem citá-los. Roberto Campos e Mário Juruna representaram dois mundos distintos, mas tinham algo em comum: a origem mato-grossense.
Roberto de Oliveira Campos nasceu em 17 de abril de 1917 em Cuiabá. Foi senador por Mato Grosso (1983/90 – PDS) e deputado federal pelo Rio de Janeiro em dois mandatos consecutivos (1991/98 – PPB). Fora da política ganhou fama e o apelido de Bob Fields por se trânsito internacional e suas ligações com ingleses e americanos; a esquerda o acusava de entreguista. Economista, professor, diplomata, escritor imortal da Academia Brasileira de Letras e articulista político em grandes publicações, era respeitado até mesmo por ferrenhos adversários. Teve importante papel no desenvolvimento nacional: participou da elaboração do Plano de Metas de Juscelino Kubitschek. Foi um dos criadores do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do Banco Nacional de Habitação (BNH). Idealizou o gatilho salarial e a moeda Cruzeiro Novo. Foi ministro de Planejamento e Coordenação Econômica (1964/67). No ministério desafiou o presidente Castelo Branco recusando-se a assinar o ato institucional que cassou Juscelino Kubitschek.
Sua eleição ao Senado marcou época em Mato Grosso pela dinheirama derramada para delírio de políticos, cabos eleitorais e empresários. Depois, desencantado com sua terra, transferiu o domicílio eleitoral para o Rio, onde foi deputado.
Nunca chamado de senador ou deputado, era citado enquanto embaixador. Sua desenvoltura no plano internacional abriu as portas para os dois programas que permitiram Mato Grosso dar o salto que empurrou sua economia para o patamar atual: Cyborg e Carga Pesada – o primeiro, bancou a construção de linhas de energia, e o outro, pavimentou rodovias.
Vítima de um infarto agudo, morreu em 9 de outubro de 2001 aos 84 anos. Seu corpo foi enterrado no mausoléu da ABL no Cemitério São João Batista, no Rio.
Mato Grosso o esqueceu e não rende homenagem à sua memória.
JURUNA – Líder indígena Xavante, Mário Juruna caiu como luva para Leonel Brizola que anistiado voltava do exílio e tentava se eleger governador do Rio de Janeiro pelo PDT nos braços do populismo, o que conseguiu. Brizola o lançou candidato a deputado federal por seu partido. O Rio deu o mandato a ele.
Juruna ficou famoso nacionalmente por andar com um gravador – novidade tecnológica à época – e gravar compromissos de políticos, que nunca eram cumpridos.
Nascido em 3 de setembro de 1943 na reserva indígena São Marcos, perto de Barra do Garças, Juruna morreu na noite de 17 de julho de 2002, aos 62 anos, no Hospital Santa Lúcia, em Brasília, onde morava, vítima de complicações renais e pneumonia em decorrência do diabetes.
Juruna saiu da aldeia, entrou na política e chegou ao folclore. Indivíduos com biótipo parecido com o dele, invariavelmente são apelidados com seu nome.
Indiferente ao único índio brasileiro que chegou ao Congresso Nacional, Mato Grosso não reverencia sua memória. Foi jogado na galeria do esquecimento.
EDUARDO GOMES/blogdoeduardogomes
Fotos: ARQUIVO
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