Boa Midia

Série TRANSPARÊNCIA (14) – Blairo e o mistério que o afasta da eleição

Blairo, nome ausente nas urnas em 2018
Blairo, nome ausente nas urnas em 2018

No palanque desde 1994, quando foi suplente do senador Jonas Pinheiro. Presente em todas as eleições desde então, ora disputando ora apoiando. Político que mais votos recebeu em um só pleito em Mato Grosso. Duas vezes governador vencendo em primeiro turno. Senador e ministro da Agricultura, Blairo Maggi era apontado enquanto candidato certo ao governo, mas jogou a toalha optando pelo ministério. Se a série TRANSPARÊNCIA não o focalizasse seu conteúdo estaria incompleto, pois com ou sem candidatura seu peso eleitoral é considerável. Qual a razão para o pé no freio? Medo de ação judicial? Evitar críticas de adversários e eleitores? Proteger o patrimônio de seu grupo empresarial? Saco cheio com a política? Acho que se alguém tivesse capacidade de ler a mente das pessoas e tentasse chegar ao pensamento do Rei da Soja, Homem da Botina ou do ‘Brairo’ – como diria Jonas Pinheiro, não mais entre nós – não decifraria absolutamente nada, porque até mesmo ao seu cérebro ele dribla quando o mistério lhe rende algo.

Para tentar compreender o ministro da Agricultura – não confundir com decifrar seu pensamento – é preciso dividi-lo em três Blairo: primeiro, o lavoureirozinho; segundo, o político que ele jura não ser, nunca ter sido e que jamais será; e por fim o empresário de porte internacional.

Até agora não falei sobre filiação partidária de Blairo, mas isso não acrescenta informação ao material. Afinal não se trata de personagem político, muito embora a Justiça Eleitoral registre que em 1994 quando chegou ao Senado na primeira suplência de Jonas Pinheiro (PFL) seu registro de candidatura foi chancelado por um partido, o PPB. Mais tarde ao disputar o governo (2002) botou o jamegão na ficha de filiação ao PPS, que trocou pelo PR e mais recentemente pelo PP. (Considerem esse parágrafo como se fosse um parêntese – voltemos ao 3 em 1 que ora embaralha o 2 com o 3).

 

Lavoureirozinho

 

Blairo juntou a fome com a vontade de comer pra se candidatar ao governo em 2002. Começou a campanha com um traço na pesquisa. Seu pequeno PPS tinha tempo escasso na TV. Os prefeitos, como sempre acontece, estavam grudados ao poder que era controlado pelo PSDB; mesmo assim, alguns arriscaram um olho com sua candidatura: Cidinho dos Santos, em Nova Marilândia; Percival Muniz, em Rondonópolis; Otaviano Pivetta, em Lucas do Rio Verde; Jayme Campos, em Várzea Grande; Roberto França, em Cuiabá, sendo que a mulher de França, Iraci, foi sua companheira de chapa; e outros gatos pingados nas prefeituras.

Querendo, mas dizendo “não”, Blairo empurrou ao máximo a decisão de aceitar a candidatura. Três figuras do PPS assumiram a tarefa de fazê-lo candidato: os deputados estaduais Jair Mariano e Carlos Brito, e o prefeito de Rondonópolis, Percival Muniz (cargos que exerciam à época).

Em 06 de outubro de 2002 o entrevistei no Colégio Sagrado Coração de Jesus, em Rondonópolis, logo após seu voto na 4ª sessão da 10ª Zona Eleitoral. Mais tarde repeti a dose, sua casa, na Avenida Ary Coelho, Vila Birigui, também naquela cidade. A sala estava cheia e o clima era de euforia: afinal, acabava de ser divulgado o resultado da eleição ao governo.

Escrevi e o Diário de Cuiabá publicou no dia seguinte:

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Abraçado à filha adolescente Ticiane, Blairo Maggi chorou. Não foram lágrimas de alegria por se encontrar a um passo do Paiaguás. Foi o choro emocionado de um homem que acabara de honrar o maior compromisso por ele até então assumido com a família: conquistar o governo de Mato Grosso para se empenhar de corpo e alma pela saúde pública e assistência social. A razão é de cunho sentimental: Ticiane foi vítima de uma doença gravíssima e seus médicos deram a pior notícia possível ao casal Maggi sobre o estado de saúde da menina. Removida aos Estados Unidos, ela voltou sã e transbordando de vida. Na recepção da ex-paciente, Blairo jurou consigo mesmo, “vou ser governador para fazer uma saúde modelo aos que não podem pagar medicina privada, em agradecimento a Deus pela recuperação da minha filha”.

Ao longo dos noventa dias de campanha Blairo nunca citou esse caso. “Não queria que isso fosse distorcido por adversários nem visto como um pedido de compaixão”, revelou. Na entrevista Blairo chorou e não procurou esconder as lágrimas. Ele se emocionou e levou à emoção a mulher Terezinha e os filhos do casal: Ticiane, Belisa e André. “Pode confiar que o pai vai cumprir, filha; o pai vai cumprir”, disse entre lágrimas ao ser beijado pela menina.

Naquela entrevista Blairo me disse que há 26 anos, quando cruzou a divisa de Mato Grosso do Sul com Mato Grosso, procedente do Paraná, “eu não passava de um lavoureirozinho sem nenhuma pretensão política”.

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Político desde o primeiro choro

 

Quando ainda estava no ventre de sua mãe, dona Lúcia Borges Maggi, Blairo entrou no processo político. Seu pai, André Antônio Maggi, gaúcho tradicionalista e morador no Paraná, não aceitava a ideia de registrar o primeiro – e único filho numa família que se completa com quatro filhas – com a naturalidade paranaense. Por isso, no cartório, declarou com toda a pompa que nas veias do piá corria o sangue do Rio Grande do Sul, mais exatamente de Torres. Assim, logo após o primeiro choro, o varão dos Maggi dava um nó geográfico de identidade.

A política propriamente dita chegou para ele aos 38 anos, ao ser eleito suplente de senador. Pela segunda vez “o pai” – assim que ele se refere ao saudoso seo André – botou o dedo traçando seu caminho, como fez na escolha oficial de sua naturalidade. Jonas era político atrelado ao agronegócio, que sequer carregava esse nome, e precisava de um suplente desse segmento. Daí, que ele bateu à porta dos Maggi em Rondonópolis oferecendo a suplência ao patriarca da família. Seo André não aceitou, mas botou o piá em seu lugar.

Suplência fora do plenário é sepultura de político otário, diz a sabedoria popular. Só que Blairo  jurava não ser, nunca ter sido e que jamais seria político, mas mesmo assim Jonas tinha compromisso de abrir espaço com rodízio parlamentar para ele. Não deu outra. Em 1999 o senador deixou a vaga ao piá, que pegou gosto pela coisa, muito embora fizesse silêncio, para não deixar que ‘aquilointerferisse nos negócios da família.

Blairo recebe de Rogério Salles a faixa governamental
Blairo recebe de Rogério Salles a faixa governamental

Chegou 2002. O PSDB à época dava as cartas na política mato-grossense e os irmãos Jayme e Júlio Campos oriundos da Arena (PFL e DEM) estavam em baixa, sem força eleitoral para trombar com a máquina do poder azeitada pelo governador Dante de Oliveira, que no começo daquele ano renunciou ao Paiaguás para concorrer ao Senado e entregou o cargo ao vice e correligionário Rogério Salles. A força tucana era descomunal, mas os ocupantes do ninho brigaram entre si e perderam peças importantes. O longo período de Dante no poder (eleito em 1994 e reeleito em 1998) gerou desgastes.

Em 2002 Blairo entrou em cena ao governo. Era o “novo”, sem as máculas políticas que mais tarde ficariam visíveis em seu grupo, no grupo de Silval Barbosa e no grupo de Pedro Taques agora no poder. “Tá na palma da mão/ Tá na mão de quem sabe…”. Esse refrão chegou como uma forte ventania moralizadora Mato Grosso afora anunciando a candidatura de um empresário bom, que nem político era. Do outro lado da disputa, o senador tucano Antero Paes de Barros, que quatro anos mais tarde seria novamente vencido.

Blairo assumiu o Paiaguás. Ele sozinho, não, boa parte de seu grupo empresarial, de onde foram arrancados os secretários Terezinha Maggi, Luiz Pagot, Clóves Vettorato e Waldir Teis. Poucos dias antes da posse, em Lucas do Rio Verde, numa reunião para ouvir companheiros, o governador eleito foi desafiado pelo prefeito anfitrião Otaviano Pivetta e seu colega em Tapurah, Reinaldo Tirloni, a pavimentar por meio de PPP Caipira, a MT-449 chamada Rodovia da Mudança. O desafio foi aceito, a obra realizada e Mato Grosso ganhou o Programa Estradeiro. A posse – na solenidade o novo dono do poder anunciou que o secretariado teria metas para cumprir, como se a nomeação fosse uma espécie de contrato de risco. Naquele evento e em seu primeiro ato, desonerou do ICMS o feijão, arroz e carne produzidos em seu Estado para o consumo interno.

Vi seu modo de administrar em seus dois governos e de se relacionar com políticos e a população.

Em 04 de abril de 2003 o acompanhei a Santa Rita do Trivelato. Foi sua primeira visita oficial a um município após a eleição. Recebido pelo saudoso prefeito Ilson Matschinske, Blairo lançou um conjunto habitacional e a pavimentação da Rodovia da Produção, a MT-235, daquela cidade a Nova Mutum.

Não foi por acaso que Santa Rita recebeu a primeira visita de Blairo. Tratou-se de retribuição por sua votação naquele município, que proporcionalmente foi a maior entre todos os municípios. No dia seguinte, publiquei no Diário de Cuiabá:

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Ontem, o sol de 11 horas em Santa Rita do Trivelato incomodava inclusive os produtores rurais acostumados à sua inclemência. Diante da placa alusiva ao protocolo de intenção para pavimentação dos 113 quilômetros da rodovia que liga aquela cidade à Nova Mutum, o governador Blairo Maggi se preparava para um rápido pronunciamento, quando o cerimonial foi quebrado pela pequena Camila Caroline Menezes de Oliveira, 05.

Com passos decididos, Camila foi ao locutor do cerimonial que acabara de anunciar que o governador falaria aos presentes, e lhe pediu o microfone sem fio. Com voz firme para uma criança de aparência frágil, Camila cantou o refrão da música de campanha de Blairo Maggi ao Paiaguás: “Tá na palma da mão, tá na mão de quem sabe/ O povo já decidiu governador é Blairo Maggi”.

Surpreendido, Blairo Maggi beijou Camila, lhe afagou os cabelos e estampou um dos poucos sorrisos ao longo de sua visita a municípios do Médio-Norte para assinar protocolos de intenção na área rodoviária e autorizar o início da pavimentação de 96 quilômetros ligando Lucas do Rio Verde à Tapurah.

Camila é cuiabana e mudou-se para Santa Rita juntamente com o pai, o mecânico de tratores, Luiz Carlos de Oliveira, e com a mãe, Rosângela Menezes de Oliveira. “A música que essa menina cantou representa nossa confiança em Blairo Maggi. Na eleição de outubro ele teve 83,5% da nossa votação. Se (a eleição) fosse hoje, ele teria 100%“, comentou o prefeito Ilson Matschinske (PPS).

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Máquinas do MT 100% Equipado
Máquinas do MT 100% Equipado

Governar também é viver a solidão do poder. Entrevistei Blairo logo após sua saída do Paiaguás. “Eu não sabia mais abrir maçaneta, não conseguia ir ao cinema com a Terezinha, andar nas ruas”, desabafou.

Seu governo teve momentos de céu e de inferno. No começo de 2010, Blairo estava com os dois pés fora do governo pensando em deixar o cargo ao vice Silval Barbosa (PMDB) dentro de um cenário político em que seu grupo elegeria o governador em outubro. Porém, naquele momento a imprensa noticiou suposto superfaturamento no Programa MT 100% Equipado, do governo estadual, que comprou 705 equipamentos rodoviários para doar aos 141 municípios. A transação de R$ 241 milhões foi o primeiro financiamento de Mato Grosso junto ao BNDES em mais de uma década.

Aquele escândalo e outro fato mudaram em parte os planos de Blairo. Detalhe: MT 100% Equipado foi abafado na Justiça Federal, pois virou mula sem cabeça.

Mesmo atingido pelo escândalo Blairo manteve o plano, mas teve que modificá-lo. Ele queria Mauro Mendes ao governo, com Silval apenas cumprindo o restante do mandato; Mauro encolheu e começou uma briga de foices na cúpula do Paiaguás. Diante disso, Blairo deu sinais de que apoiaria Pagot. O secretário Eumar Novacki fez um levante conspiratório contra Pagot em defesa de Silval. A cúpula palaciana gemia e rangia os dentes.

Blairo leva Temer a uma lavoura de seu grupo
Blairo leva Michel Temer a uma lavoura de algodão de seu grupo

Torpedeado por Novacki, Pagot ficou no limbo. Matreiro que só ele, Blairo decidiu que seria candidato ao Senado, puxando votos para Silval. Acho que sua candidatura foi a primeira ao cargo, no Brasil, cujo titular era laranja, uma vez que o mandato foi jogado no colo do primeiro suplente Cidinho dos Santos. Na verdade – acredito – Blairo precisava matar dois coelhos com uma só cajadada: garantir que seu sucessor fosse alguém de sua ligação e arrumar um passaporte para o Ministério da Agricultura. Danado, esse Blairo. Pois não é que conseguiu!

Antes de Michel Temer o Ministério da Agricultura povoava a mente de Blairo, mas sempre escapulia entre seus dedos. No dia 13 de maio de 2016 finalmente o cargo lhe foi entregue graças ao bilhete azul recebido pela senadora tocantinense e então presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Kátia Abreu, que defendeu Dilma Rousseff, muito embora da boca para fora as duas tenham posicionamentos diferentes sobre propriedade e função social da terra. O afago de Kátia a Dilma rendeu sua expulsão do PMDB em novembro de 2017 e ela correu para os braços do PDT.

Ministro, Blairo tem muito mais poder de fogo nos países importadores de commodities agrícolas brasileiras. Um senador é um senador e nada mais. Ministério é mais relevante. É nessa área que ele mistura o 2 com o 3 e nem poderia ser diferente. Afinal, seu grupo compra em torno de 25% da soja mato-grossense, tem bandeiras nos quatro cantos do mundo e boa parte de seus lucros é arrancada no exterior.

Enquanto cuida do Ministério Blairo deixa sua cadeira no Senado com Cidinho. Recentemente, para ampliar o rodízio de sua suplência, o titular pediu que Cidinho arrumasse algum argumento para sair do plenário e entregou a vaga para o segundo na sua linhagem de sucessão, Rodrigues Palma, o Titito.

 

PATROLANDO – É preciso destacar que ao assumir a candidatura ao Senado Blairo atropelou o então deputado federal e à época seu correligionário Wellington Fagundes (PR), que há três anos corria atrás de votos ao Senado.

Wellington avaliou que não deveria confrontá-lo, recuou e foi eleito para seu sexto mandato consecutivo na Câmara. Articulado, Wellington desconversou sobre o fato, de forma bem-humorada, “manda quem pode e obedece quem tem juízo”.

Naquele pleito para renovação de duas cadeiras, Blairo (PR) foi eleito ao Senado com 1.073.039 votos (37,06%). O segundo colocado ao cargo foi Pedro Taques (PDT) com 708.440 votos (24,48%).

Silval (PMDB) ganhou em primeiro turno com 759.805 votos (51,21%) e seu vice foi Chico Daltro (PP); com 472.475 votos (31,85%) Mauro Mendes (PSB) encabeçou a segunda chapa mais votada ao governo tendo Otaviano Pivetta (PDT) na composição.

Para a Câmara dos Deputados Wellington Fagundes recebeu a maior votação entre os oito eleitos: 145.460 votos (10,22%).

 

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O pai, exemplo e fonte de inspiração

 

A estátua de seo André
A estátua de seo André

André Antônio Maggi, o patriarca dos Maggi da geração Blairo, nasceu em Torres, no Rio Grande do Sul. Filho de Antônio Maggi, italiano, e Carolina Lumertz, alemã, seo André herdou um pouco do temperamento de seus pais: dele, assimilou o espírito alegre e otimista, e dela, o senso de organização.

Seo André transferiu do Paraná para Mato Grosso a sede de seus negócios. Passou a residir em Rondonópolis. Fundou Sapezal e em 1996 foi eleito prefeito daquele município pelo PDT concorrendo em chapa única. Antes da posse combinou com o vice-prefeito Aldir Schneider e os vereadores, que todos abririam mão do salário, para reforçar o caixa da prefeitura que ensaiava seus primeiros passos. Necessitando de tratamento médico seo André foi ao Paraná e o vice assumiu o cargo. Ao retornar, Aldir e todos os vereadores recebiam salário. Desgosto, renunciou.

A Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso (Fundação MT), então presidida por Gilberto Goellner, concedeu o título de “O Último Bandeirante do Século XX” ao seo André. Na solenidade de entrega da honraria o entrevistei. Perguntei sobre a conduta de Aldir e os vereadores. Falando baixo e com dificuldade para ouvir, me disse que ficou muito triste com a atitude “daquela gente, que não respeitou a palavra empenhada nem Sapezal”.

Vítima de um acidente vascular cerebral, seo André morreu em 22 de abril de 2001, aos 73 anos, no Hospital do Coração, em São Paulo. Seu corpo foi velado em Rondonópolis, Sapezal e São Miguel do Iguaçu (PR), onde foi sepultado.

Uma estátua em tamanho natural de seo André,na Praça Lúcia Maggi, no centro de Sapezal, demonstra o respeito do município à sua memória. No pedestal, sua frase predileta: “Dizem que tem uma tal de crise por aí. Mas eu nunca me encontrei ela“.

Blairo cultua a memória do pai, no qual tenta se espalhar. Em homenagem a ele, registrou seu filho com o nome de André.

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Sempre jogando com o 2 e o 3

 

Na vida pública Blairo pisa em brasas. Qualquer passo em falso pode comprometer a credibilidade internacional de seu grupo. No governo ele cuidou bem disso.

Em novembro de 2004, cerca de 300 membros índios Yawalapiti, Aweti, Suyá e de outras etnias xinguanas tentaram impedir a saída de Blairo, sua mulher Terezinha e outras figuras do governo, de um encontro no salão paroquial da igreja católica de Canarana, onde o tema em pauta era a discussão sobre o projeto de construção da Hidrelétrica Paranatinga II, no rio Culuene – formador do Xingu. A discussão estava tranquila, mas assim que o secretário de Infraestrutura Luiz Pagot argumentou que o projeto da obra da Hidrelétrica Belo Monte levaria progresso ao Pará, o circo pegou fogo sob as ordens de ambientalistas ligados ao Instituto Socioambiental (ISA) que deram a senha para o clima esquentar. Por sorte, a Casa Militar do governo sabia do estado de ânimo e mandou para a cidade dezenas de policiais militares da região. A saída foi assegurada por um corredor de fardas e ao bico de metralhadoras. Cobri aquele evento e segui do salão para o aeroporto no carro com o casal Maggi. No trajeto, pra demonstrar segurança, Blairo brincou, “vou ter medo de índio com a PM ao meu lado? Nunca, nunca mesmo…”.

Com Minc e a soja nos Andes
Com Minc e a soja nos Andes

Em junho de 2005 a Polícia Federal deflagrou em Mato Grosso e outros estados a Operação Curupira, que foi coordenada pelo procurador da República Mário Lúcio Avelar – que segundo tucanos faria dobradinha petista com o então juiz federal Julier Sebastião da Silva contra o sistema produtivo. Com a tradicional pirotecnia as prisões pipocaram e numa delas foi trancafiado o presidente da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Fema) e ex-deputado estadual Moacir Pires.

Moacir Pires não foi preso por corrupção nem por crime ambiental: foi vítima de conspiração política. Explico: Mato Grosso reconhecia legalmente o bioma de transição entre cerrado e floresta. Presidente da Fema, Moacir Pires chancelava as licenças ambientais para o uso racional em áreas daquela natureza. Parece-me que aí entra o petismo de Mário Lúcio Avelar e Julier. Com cadeias abarrotadas por servidores do Ibama, madeireiros, advogados e contadores, acharam por bem aumentar a população carcerária com Moacir Pires atrás das grades. Correram atrás dele em Primavera do Leste, onde Blairo participava de um evento. Seria impactante a prisão de um membro do governo com status de secretário num recinto lotado e com a presença do governador (a TV que cobriria o ‘teje preso’ voltou para Cuiabá, de onde saiu, sem as imagens que esperava). Acontece que o procurado não se encontrava no local. Depois de tudo isso, mas de imediato, o empresário Jorge Pires de Miranda, irmão de Moacir Pires, procurou Blairo para avisá-lo que o mano entregaria carta com pedido de demissão. O governador franziu a testa e não concordou. Demitiu o presidente da Fema. Acho que aquela medida amarga foge à prática entre políticos cavalheiros: foi a prevalência do 3 sobre o 2.

Motorista do cerebral Unger
Motorista do cerebral Unger

Prevalência, sim. Nos primeiros anos de seu duplo governo Blairo foi mantido sob fogo cruzado da esquerda reforçada por ambientalistas. A ministra de Meio Ambiente, Marina Silva, veio a Cuiabá logo após Curupira e assinou convênio com Mato Grosso transferindo ao seu governo a gestão florestal em seu território, Blairo extinguiu a Fema e criou a Secretária de Meio Ambiente (Sema) nomeado seu primeiro secretário o promotor de Justiça Marcos Machado, que atuava em outra área do governo – que era recheado por promotores.

Marina acendeu o cachimbo da paz com Blairo, mas Carlos Minc, que a sucedeu no ministério, ironizou o governador afirmando que se descuidassem ele plantaria soja até nos Andes. Blairo tratou de neutralizar Minc, com a ajuda Mangabeira Unger, figura cerebral do presidente Lula da Silva.

Sempre atento para não trombar com a onda verde, Blairo tratou de fazer parceria com o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), então dirigido pelo cientista norte-americano Daniel Nepstad. O acordo entre eles, com 10 anos de validade, entre outras coisas resultava na provocação de pequenos focos de calor para calibragem dos satélites que monitoram a Amazônia Legal em tempo real. O saudoso Homero Pereira, que presidia a Federação da Agricultura e Pecuária (Famato) e mais tarde seria deputado federal dizia que Nepstad “era ongueiro ‘dos nossos’”, no sentido de que ele oferecia uma capa de proteção aos produtores rurais contra o WWF e outras gigantes ecológicas mundiais.

 

Compra de vaga e adeus

Blairo ladeado por Silval e Alencar Soares (esq.) e Sérgio Ricardo e Riva
Blairo ladeado por Silval e Alencar Soares (esq.) e Sérgio Ricardo e José Riva

Blairo sai da cena eleitoral, mas está em alta com Temer. É investigado e responde a uma ação complicada por obstrução de justiça numa suposta jogada que teria resultado na compra da vaga de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE), de Alencar Soares (ex-deputado estadual) para o à época deputado estadual Sérgio Ricardo. Blairo nega tal fato, mas sua voz perde força, porque na mesma ação figuram o ex-presidente da Assembleia, José Riva, Silval e o ex-secretário de Fazenda, Éder Moraes, todos atolados até o pescoço com a Justiça, já condenados em primeira instância por outros supostos crimes. Também, contra a negativa de Blairo, pesa o fato de o TCE estar no centro de um furacão após a delação premiada de Silval ao Ministério Público Federal com homologação pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, dando conta do pagamento de milionária propina aos conselheiros Antônio Joaquim, Sérgio Ricardo (olha ele ai de novo), Waldir Teis, Valter Albano e José Carlos Novelli. Da composição titular do TCE, somente Campos Neto não figura na lista, mas seu nome foi citado por Riva enquanto mensaleiro quando deputado estadual. Aquele órgão técnico de contas auxiliar da Assembleia tem sete membros, mas uma de suas cadeiras, antes da delação de Silval, já estava ocupada interinamente, pois seu titular Humberto Bosaipo se encontrava afastado por determinação do Superior Tribunal de Justiça. Por orientação de seu advogado, Bosaipo pediu aposentaria, perdeu a prerrogativa de foro que então vigorava e ganhou fôlego porque as ações que motivaram seu afastamento baixaram para a primeira instância.

Segundo informações de Brasília, Blairo montou uma grande equipe jurídica para limpar seus trilhos. Independentemente do curso processual, a vida segue.

Sem Blairo, mas com todos os candidatos ao governo e Senado querendo seu apoio, o calendário eleitoral avança. Sua decisão foi no campo pessoal e não passou por seu partido e aliados. Entre acertos e tropeços o piá paranaense de nascimento, gaúcho por documentação e mato-grossense por adoção cravou seu nome enquanto governador na Terra de Rondon e esse cargo foi importante para que ele chegasse ao Ministério da Agricultura. Se a partir de janeiro de 2019 continuará ou não à frente do setor rural brasileiro, nem Deus sabe. Se der certo, ótimo para seus negócios – e para o Brasil também, porque enquanto ministro faz bom trabalho. Em caso contrário, nenhuma reclamação, porque ele jura não ser, nunca ter sido e que jamais será político – que é a figura mais indicada para a esfera ministerial.

 

Eduardo Gomes/blogdoeduardogomes

FOTOS: Arquivo

Montagem: blogdoeduardogomes

 

 

Capítulos anteriores;

 

1 – PPP Caipira nasce da ousadia de Pivetta

2 – Suplente de última hora chega ao Senado

3 – Riva mesmo caido derrota Taques

4 – Páginas da vida

5 – Leitão, o único preso entre os pré-candidatos ao Senado e governo

6 – Carona na Arca de Noé

7 – O dedo de Kassab

8 – Taques e o cadeado na hidrovia

9 – Escândalos tomam discurso moralista de Pedro Taques

10 – O temperamento de Jayme Campos.

11 – Rossato, político profissional que diz não ser político.

12 – Selma aplaina caminho ao Senado.

13 – Assembleia Legislativa no fundo do poço.

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