Série TRANSPARÊNCIA (20) – Pedro e Mauro Mendes, dois amigos estrategistas
Nenhum governador concentrou tanto poder quanto Pedro Taques (PSDB) no começo e até boa parte de seu mandato. Isolamento da classe política, corrupção, violação de direitos, desentendimento com servidores, enfrentamento com os poderes, crônicos atrasos em repasses e duodécimos, e, não menos pior, a fogueira da vaidade e o culto à personalidade deixaram Pedro politicamente em baixa. Isso, sem falar na pequena quantidade de obras realizadas. Para quem até recentemente não se sentia (pelo menos assim dizia) político, ele se deixou encantar pela cadeira mais importante de Mato Grosso e faz tudo para continuar seu ocupante, mas em determinado momento planejou sua volta ao Senado, de modo a continuar em alta. Porém, se você o encontrar atracado com Mauro Mendes, não tente separa-los, pois não se trata de briga, mas de um abraço apertado de dois amigos, estrategistas, ambos desgastados, mas que souberam criar um espetáculo de divergência e disputa entre eles, para que sobrevivam juntos.
Desnecessário é afirmar que Pedro isolou a classe política no começo de seu mandato; depois, diante das circunstâncias. Aceitou em sua equipe inclusive figuras de proa no governo anterior de Silval Barbosa, a exemplo de Carlos Brito e José Rodrigues Rocha Júnior.
Corrupção pode parecer palavra dura ao se referir ao governo de Pedro. Pode, mas não é. O escândalo do superfaturamento de obras de construção e reforma de escolas, que resultou na prisão do ex-titular da Secretaria de Educação (Seduc), Permínio Pinto – réu confesso – e de assessores que teriam sido nomeados por indicação dos tucanos deputado federal Nilson Leitão e deputado estadual Guilherme Maluf lançaram a primeira nuvem de chumbo sobre a equipe de Pedro. Recentemente o Gaeco denunciou que um grupo palaciano e da Assembleia Legislativa teria surrupiado mais de R$ 30 milhões do Detran; esse caso resulta na prisão preventiva (em 9 de maio) do deputado estadual Mauro Savi e de dois primos de Pedro, os irmãos Paulo e Pedro Taques, sendo que o primeiro foi seu chefe da Casa Civil.
Também não é pesado falar em violação de direitos. O escândalo da Grampolândia Pantaneira, esquema de escutas telefônicas clandestinas de adversários de Pedro e outras figuras, resultou em várias prisões, inclusive em duas do citado Paulo Taques; dos ex-secretários delegado Roger Jarbas (Segurança Pública), coronel PM Airton Benedito Siqueira Júnior (Justiça e Direitos Humanos), coronel PM Evandro Lesco (Casa Militar), do ex-comandante da Polícia Militar, coronel Zaqueu Barbosa e outras figuras. Segundo o desembargador do Tribunal de Justiça, Orlando Perri, 70 mil ligações teriam sido monitoradas por servidores do governo Pedro.
Desentendimento com servidores ficou mais que evidenciado nas greves, marchas, ocupação da Assembleia, cerco ao Paiaguás e outros atos, quando Pedro anunciou que não repassaria a Reposição Geral Anual (RGA) aos funcionários públicos.
Enfrentamento com os poderes e crônicos atrasos em repasses e de duodécimo se completam e são de domínio público.
Fogueira da vaidade e culto à personalidade não devem ser tomados enquanto defeitos, mas por traços do perfil de Pedro.
No começo de 2016 Pedro começou a mexer as peças do xadrez político. Mesmo queimado nas bases ele tinha o controle da cúpula. Para levar adiante seu plano contava (ainda conta) com a submissão da Assembleia. No entanto, havia um problema de complicada solução: o vice-governador Carlos Fávaro (PSD). Não que Fávaro fosse um grande líder, nada disso: é que o governador não confiava nele. Mesmo assim, Pedro soube usar Fávaro para cortar um dos tentáculos do polvo que poderia cruzar seu caminho. Fávaro colocou seu PSD a serviço de Pedro em Lucas do Rio Verde, que é seu domicílio, lançando candidato a prefeito o produtor rural Flori Luiz Binotti (PSD), que por 242 votos derrotou o prefeito Otaviano Pivetta (PSB), que tentava a reeleição. Pivetta é um dos maiores empresários rurais do Brasil e foi braço direito de Pedro em sua eleição ao Senado em 2010 e ao governo em 2014.
Fávaro sangrou Pivetta em Lucas e paralelamente a isso, Pedro estimulou seu correligionário Rogério Salles, então vice-prefeito de Rondonópolis, a disputar o mandato de prefeito com Percival Muniz (PPS). Rogério e Percival morreram abraçados e Zé Carlos do Pátio (SD), ganhou a eleição com a votação batendo na trave. Percival foi peça de importante nas eleições de Pedro.
Com dois tentáculos a menos o plano de Pedro seria menos difícil, mas para o caminho ser aplainado em Rondonópolis seria preciso destituir Percival da presidência da comissão provisória do PPS em Mato Grosso. Pedro e o líder nacional do partido, Roberto Freire, bateram o martelo e o PPS foi jogado no colo do então secretário de Educação do governo, Marco Marrafon, agora pré-candidato a deputado federal.
O controle do PSB seria estratégico para Pedro. Seu presidente era o deputado federal Valtenir Pereira, que sempre troca de partido. Pedro botou seu então chefe da Casa Civil e deputado estadual Max Russi à frente do PSB, ao qual já era filiado. Essa mexida foi importante, mas não era tudo. Aproveitando a janela de filiação, Pedro costurou a ida de Mauro Mendes, do deputado federal Fábio Garcia e dos deputados estaduais Mauro Savi e Eduardo Botelho (presidente da Assembleia), para o DEM. Mauro Mendes é a figura estratégica de Pedro. Garcia é ligado ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM/RJ) e com ele integra a ala jovem do Democratas. Maia tratou de abrir alas para o amigo presidir seu partido.
Com a filiação de Garcia, o poder do principal líder do Democratas, Jayme Campos, ficou minado, muito embora não haja registro de desentendimento entre eles. Jayme já articulava sua candidatura ao Senado e assim continua; Garcia faz o jogo de Pedro – e de seu padrinho político Mauro Mendes, do qual foi secretário na prefeitura de Cuiabá – e nesse caso seria secundado por Savi, o que até agora não aconteceu em razão do constrangimento carcerário do deputado, que é apontado enquanto suposto líder da quadrilha que teria surrupiado mais de R$ 30 milhões do Detran. Botelho, também envolvido e investigado no mesmo caso, tem papel de dualidade: acende uma vela para Jayme, mas não apaga a de Pedro. Dilmar Dal’Bosco, deputado estadual e há mais tempo no DEM, é Pedro desde criancinha, tanto quanto foi Silval Barbosa quando esse governava.
Pedro consolidou poder no DEM, mas o fez com maestria para não ferir Jayme nem seu irmão Júlio Campos – ambos ex-senadores e ex-governadores. As figuras ligadas a Pedro botaram fogo na pré-candidatura de Mauro Mendes ao governo com Jayme ao Senado. Generosa, a mídia não questionou o fato de ambos serem da grande Cuiabá (Pedro da capital e Jayme de Várzea Grande) nem de pertencerem ao mesmo partido. Mauro Mendes absorveu bem essa proposta, mas nunca assumiu que seria candidato; sempre protela. Sua cautela não evitou que o nome de Pivetta surgisse para a composição daquela que seria sua chapa, repetindo a disputa ao governo que travaram em 2010 quando foram batidos em primeiro turno por Silval Barbosa (então no agora extinto PMDB).
Com Mauro Mendes num desconfortável papel de Viúva Porcina, Pivetta que estava em cena no PDT para viabilizar sua candidatura ao governo foi arrastado para a aluvião de Pedro no DEM. Essa dobradinha além de tudo teria muita dificuldade de se viabilizar porque Jayme não engole Pivetta.
PLANO B – Mauro Mendes e Pedro trocam suaves farpas. Uma das figuras bem próxima a um deles garantiu que há um entendimento entre eles e que esse acerto seria o plano B. Detalhando: Tanto um quanto outro está desgastado. A situação de Pedro não é confortável eleitoralmente e seu índice de rejeição é alto, conforme atestam até mesmo pesquisas amigas. O caso de Mauro Mendes é perturbador, pois seu grupo empresarial está metido numa recuperação judicial que exige sua presença constante para tentar salvar os anéis, já que os dedos foram queimados. Não soaria bem um candidato ao governo subir ao palanque devendo a centenas de funcionários, a fornecedores, ao fisco etc.
O plano seria a candidatura do ministro da Agricultura e senador Blairo Maggi (PP) ao governo e Pedro ao Senado. Isso, antes do prazo final de desincompatibilização, o que não aconteceu, por duas razões: primeiro Blairo decidiu que não disputaria eleição; e segundo, que Pedro não confia em Fávaro, que em tal circunstância assumiria o Paiaguás para concluir o mandato. Sem alternativa e mordido pela mosca azul Pedro partirá para a reeleição.
MANGA – O projeto de Pedro e Mauro Mendes é manter troca de suaves farpas até o mais próximo possível das convenções, com o segundo sempre empurrando com a barriga sua decisão por candidatura. Com isso, Pedro permanece controlando o PSDB, PPS, PSB, DEM e uma dúzia de partidos nanicos, além de neutralizar o PDT de Pivetta. Na hora H, Mauro Mendes recua e seu partido se atira no colo político de Pedro, com Jayme ao Senado.
Pedro sabe que nacionalmente o deputado federal tucano Leitão é muito forte e que não deve cutuca-lo com vara curta. Daí, Leitão será um dos candidatos ao Senado por sua coligação.
Quanto ao DEM, fatura liquidada com Jayme ao Senado, Garcia à reeleição e os deputados estaduais concorrendo a novo mandato – a exceção pode ficar por conta de Savi, caso o mesmo continue trancafiado até a data da convenção.
FÁVARO – Seu partido é o PSD, mas podem chama-lo de espólio político de José Riva. Fávaro é o presidente regional e em tese seu principal líder, mas a exemplo da costura que fez com Roberto Freire, para exorcizar Percival, Pedro pode repetir a dose com Gilberto Kassab, o cacique nacional da sigla. O que os dois poderiam conversar ninguém jamais ficaria sabendo, mas argumento para dissolução da executiva provisória do PSD não faltaria: basta que sua bancada estadual formalize pedido a Kassab. Essa bancada é integrada por Gilmar Fabris, Nininho, Wagner Ramos, Pedro Satélite e José Domingos. Os quatro primeiros rezam pela cartilha de Pedro; José Domingos sonha acordado em voltar a rezar por ela, mas por enquanto está no limbo, pois Pedro o empurrou para essa condição. Porém, é preciso que se leve em conta que José Domingos é irmão de Neurilan Fraga (PSD), que preside a associação dos prefeitos (AMM); Neurilan estava em cena para deputado federal, mas estranhamente recuou para cumprir seu mandato que se estende a 31 de dezembro. A grande indagação é essa: o que levou Neurilan a sair da disputa teria a ver com o restabelecimento da ligação de Pedro com José Domingos – como aconteceu no começo do mandato do governador – a ponto de reabilita-lo enquanto candidato à reeleição?
José Domingos nega nesse momento que seja candidato a reeleição e o faz como uma espécie de ato penitencial por ter sido pego junto com outros deputados recebendo maços de dinheiro de Sílvio Corrêa então chefe de Gabinete de Silval; em delação ao Ministério Público Federal homologada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Luiz Fux, Silval revelou que o dinheiro recebido pelos deputados seria propina.
Na legislatura anterior da Assembleia, vários deputados e ex-deputados receberam pacotes de dinheiro de Sílvio Corrêa, conforme mostraram reportagens do Jornal Nacional da Rede Globo. Dentre os que embolsaram a dinheirama, além de José Domingos: Alexandre Cesar (PT), que exerce a função de procurador do Estado; Ezequiel Fonseca (PP), agora deputado federal; e Emanuel Pinheiro (MDB), que foi eleito prefeito de Cuiabá em 2016; Emanuel, num momento de distração, deixou cair do bolso já abarrotado de seu paletó, um pacote de dinheiro, o que resultou no apelido de Paletó, que a sabedoria popular lhe deu. Todos negam angelicalmente.
Ainda sobre Fávaro, recentemente ele renunciou ao cargo de vice-governador, pois temia que Pedro se ausentasse de Mato Grosso viajando ao exterior, o que automaticamente o transformaria em governador deixando-o inelegível para eventual disputa ao Senado. Foi o primeiro caso dessa natureza no Brasil.
Caminho livre
Pedro tem amplo domínio partidário. Controla a Assembleia Legislativa. A mídia, salvo um ou outro veículo, é atrelada a ele. Para continuar na cadeira que tanto o seduz precisava de um limpa-trilhos e o encontrou em Mauro Mendes. Os dois grandes caciques não cruzarão seu plano: Jayme está no pacote do DEM. Carlos Bezerra, que controla do MDB, quer se reeleger deputado federal, participar da campanha de alguns candidatos a deputado estadual, mas sem colocar em risco a fragilidade de sua saúde abalada pela idade.
Fávaro, se não criar alterações políticas, poderá até ser candidato a deputado federal no palanque de Pedro. Se partir para o confronto ficará sem legenda e terá que se consolar com Percival.
Por enquanto, entre os grupos com expressiva densidade eleitoral, resta a candidatura do senador Wellington Fagundes (PR) ao governo. Nos bastidores políticos quando o nome Wellington é falado não falta alguém dizendo que Pedro tem em mãos uma pasta verde que jogaria por terra o diploma de honesto do senador. Tal pasta teria comprovações de improbidade administrativa na Secretaria de Infraestrutura e Logística (Sinfra) no governo de Silval, quando seu titular era Cinésio Nunes, indicado por Wellington. O quê da questão quanto a isso – se é que existe improbidade – é que o estrago atingiria tanto o denunciante quanto o denunciado. Afinal, o programa Pró-Estradas, de Pedro, que pavimenta rodovias, substituiu o programa MT Integrado, do governo Silval Barbosa; o Pró-Estradas é executado pelas mesmas construtoras que atuaram no passado, os recursos são oriundos de financiamento obtido pelo ex-governador, a qualidade das obras e seu custo são os mesmos.
Caso exista, a pasta verde se sair do discurso e ganhar contornos materiais jogará a elite empresarial mato-grossense num lugar onde há fogo e ranger de dentes. Em dois anos Pedro desmontou boa parte da oposição que poderia sofrer. Faltando menos de quatro meses para a eleição ele teria que derrotar o empresariado de onde saiu Carlos Avalone – dono de construtora –, que foi seu secretário.
RESUMO – Os acontecimentos. A recusa de Mauro Mendes em assumir a candidatura. A troca superficial de farpas entre Mauro Mendes e Pedro. A revelação do amigo de um deles e os fragmentos jornalísticos juntados no cotidiano não deixam dúvidas que ninguém deve apartar Mauro Mendes e Pedro se os encontrar atracados.
Eduardo Gomes/blogdoeduardogomes
FOTOS: Arquivo
PS – Atualizada às 07h36 de 22 de junho
Capítulos anteriores:
1 – PPP Caipira nasce da ousadia de Pivetta
2 – Suplente de última hora chega ao Senado
3 – Riva mesmo caido derrota Taques
4 – Páginas da vida
5 – Leitão, o único preso entre os pré-candidatos ao Senado e governo
6 – Carona na Arca de Noé
7 – O dedo de Kassab
8 – Taques e o cadeado na hidrovia
9 – Escândalos tomam discurso moralista de Pedro Taques
10 – O temperamento de Jayme Campos.
11 – Rossato, político profissional que diz não ser político.
12 – Selma aplaina caminho ao Senado.
13 – Assembleia Legislativa no fundo do poço.
14 – Blairo e o mistério que o afasta da eleição
15 – Mais que professora: uma lição de vida.
16 – Mauro acuado e num beco sem saída.
17 – Tu és Pedro!
18 – O Japão é aqui
19 – Fundadora do PT, Enelinda quer ser senadora
Arrebentou mais uma vez, meu amigo Brigadeiro parabéns
este alerta é bom pois eu não tinha visto esse mimimi pelo angulo que vc mostra
gostei tem mais é que desmascarar esses santinhos do pau oco
isso mesmo é verdade eles são assim ó
cara se esse mauro for candidato ele ganha