A dignidade de Kolinda e o circo aqui armado
Passear pela história croata é um salutar exercício mental, que não exclui a resistência e vitória sobre os nazistas pelos povos que formaram a república da Iugoslávia sob a liderança do marechal Josip Broz Tito, um não alinhado – da qual a Croácia fazia parte – que não se curvava aos americanos e muito menos aos soviéticos. Essa terra de encantamento, magia e felicidade acaba de mostrar ao mundo sua bela presidente Kolinda Grabar-Kitarović que à sua beleza e charme soma ainda a dignidade no exercício do cargo. Seria repetitivo citar a verdadeira postura de estadista e cidadã de Kolinda em sua viagem à Rússia para apoiar sua seleção. No entanto, não é maçante lamentar que na Presidência do Brasil, no governo de Mato Grosso e na prefeitura de Cuiabá não há governante que nos transmita a postura exemplar que ora a mandatária europeia deixa fluir com naturalidade.
Michel Temer, Pedro Taques e Emanuel Pinheiro estão mais distantes dos exemplos de Kolinda do que de sua Croácia. Nós, que somos capazes de admirar a grandeza da presidente que se mistura aos croatas nas cadeiras no estádio e que chega até o calor de sua torcida a custo zero para seu país, precisamos de uma lupa democrática para para encontrar alguém com a dignidade da croata para presidir o país, governar Mato Grosso e administrar Cuiabá.
Pobre país presidido por Temer, o mandatário cercado por amigos que correm com mala de dinheiro, que guardam milhões em espécie no canto de apartamento na Boa Terra; o dirigente nacional que tem assessores processados, investigados, afastados e presos, e que se sustenta graças ao Congresso viciado, subalterno e devoto da Prece de São Francisco.
Pobre Mato Grosso onde nos últimos três anos e meio foram presos seis secretários e ex-secretários de Estado por crimes de desobediência ao descumprir decisão judicial, por suposta escuta telefônica clandestina e suposta corrupção – essa última admitida pelo ex-secretário de Educação, Permínio Pinto, que é réu confesso.
Permínio Pinto (Educação), Paulo Taques (chefe da Casa Civil), coronel PM Airton Siqueira (Justiça e Direitos Humanos), Luiz Soares (Saúde),coronel PM Evandro Lesco (chefe da Casa Militar) e delegado da Polícia Civil Roger Jarbas (Segurança Pública), todos ex-secretários de Pedro, além do coronel PM Zaqueu Barbosa (comandante geral da Polícia Militar) e outras figuras de menor importância no contexto do poder foram presos e respondem por alguns crimes; Paulo Taques, que é primo do governador, permanece trancafiado no Centro de Custódia de Cuiabá, para onde foi encarcerado em 9 de maio por decisão do desembargador José Zuquim, que decretou sua prisão preventiva. Além deles outras figuras da cúpula administrativa de Pedro também são investigadas.
Pobre Terra de Rondon, onde milhares foram grampeados recorrentemente por um esquema chamado Grampolândia Pantaneira – a arapongagem acima citada e que por duas vezes levou Paulo Taques à cadeia. Esse episódio que atenta contra as garantias individuais e fere princípio constitucional, segundo o Ministério Público era operado a partir do Palácio Paiaguás e levava a chancela de boa parte da assessoria de Pedro. Pobre Estado com mais de 150 mil famílias abaixo da linha da pobreza ou nela, e onde Pedro tem a seu serviço uma considerável frota aérea incluindo jatinho executivo.
Pobre Estado com 3,3 milhões de habitantes, baixa densidade demográfica em seus 141 municípios; campeão do agronegócio, rico em minérios, com regularidade climática, topografia favorável ao cultivo mecanizado e um povo que em sua essência é trabalhador, e que apesar de tudo isso sofre com a ausência do Estado na saúde, na segurança e na capacidade de atrair investidores para criar postos de trabalho, distribuir renda e gerar riquezas.
Pobre Cuiabá onde o prefeito Emanuel Pinheiro (MDB) quando deputado estadual foi flagrado em vídeo recebendo maços de dinheiro – a ponto de um deles cair do bolso de seu paletó – de Silvio Corrêa, então chefe de Gabinete do à época governador Silval Barbosa. Em delação ao Ministério Público homologada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Luiz Fux, Silval disse que o dinheiro entregue a Emanuel era parte do pagamento de propina que ele (e outros deputados, também) recebia para fazer vistas grossas aos deslizes de seu governo.
Ainda na pobre Cuiabá onde Emanuel Pinheiro aos 32 anos conseguiu a proeza de se aposentar pelo Fundo de Assistência Parlamentar (FAP) da Assembleia Legislativa, com salário integral de deputado estadual.
Pobre chão mato-grossense onde esses escândalos continuam quase todos impunes desafiando a lei, a lógica e a paciência coletiva.
Kolinda não será nossa candidata a presidente, a governadora nem a prefeita em 2020. Distante de nós a líder croata continuará com sua beleza de mulher madura que não se dobra ao tempo, e que na vida pública não se curva às benesses do poder, não bota a mão no erário público nem mesmo no entre aspas bom sentido – no caso da visita à Rússia – o que a lei lhe facultaria. Por aqui ficaremos ou remoendo em votar no menos ruim ou fazendo vistas grossas em nome de nossos inconfessáveis interesses.
Que o Deus croata que é o mesmo do Brasil nos dê capacidade para encontrarmos nossas Kolinda por aqui antes que as Forças Armadas botem fim a esse circo com seus palhaços.
PS – Editorial temático sobre os cargos executivos. Aquilo que responde pelo nome de Câmara de Cuiabá, a Assembleia que sangra e a bancada federal quase toda franciscana e mergulhada em escândalos serão tema de outro editorial .
Eduardo Gomes de Andrade é editor de blogdoeduardogomes
eduardogomes.ega@gmail.com
FOTOS:
1 – Fifa
2 – Kremlin
3 – Agência Brasil
4 – Gabinete de Comunicação do Governo de MT
5 – Sobre imagem da TV Globo
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