Uma curva no caminho
Curva fechada em trecho arenoso é sempre perigosa e principalmente quando o gado malha no leito da estrada. Foi num lugar assim, na calha do rio Cabaçal, num ponto perdido da estradinha que ligava Cáceres a Lambari D’Oeste, Rio Branco e Salto do Céu, que um caminhão em alta velocidade atropelou vários bois de uma boiada. Desse acidente surgiu a primeira denominação do lugar: Curva do Boi. Isso em 1971. O nome foi bem aceito por todos e inclusive pela meia dúzia que vivia naquele ponto.
De 1975 a 1978 costumava frequentar o bolicho do Rosino, que não passava de um casebre de tábuas coberto com folhas de babaçu, piso de chão, mas que em compensação servia a Brahma mais gelada daquelas bandas, na Reserva Nacional da Caiçara, no município de Cáceres. Já o tira-gosto não era nada aconselhável: ovo cozido, que ficava azulado no expositor, invariavelmente coberto pelo pó da estrada ao lado. Bons tempos aqueles…
A posse da terra na Curva do Boi e na Caiçara como um todo, era pacífica, mas o Incra ao invés de buscar solução para a regularização fundiária, costumava criar dificuldades. Vivi essa realidade.
Sete anos depois do acidente com os bois o agricultor José Pedro da Silva, cearense de Crato, comprou uma cessão de direito de 25 hectares de um lote, para se dedicar ao plantio de arroz e milho. Devoto do pai do Menino Jesus, José Pedro deu ao seu lote o nome de sítio São José. Porém, vendo que era grande o número de moradores na região, criou arruamento e destinou 20 hectares para a construção de uma vila, que manteve o nome de Curva do Boi.
Ouvi duas versões sobre a origem do nome do município. No final de outubro de 2014 fui a Curva do Boi passar o caso a limpo. Conversei com moradores antigos, mas somente o secretário de Obras e Serviços Públicos, Gabriel Frades da Silva, que chegou ao lugar pouco antes de sua emancipação, contou a história da mudança, que retirou a bonita denominação de Curva do Boi para a atual, que julgo fria e distante.
Frades contou-me – e seu irmão Luis Pereira Frades confirmou – que na campanha eleitoral de 1986 o suplente de deputado estadual Jalves de Laet reuniu-se com correligionários e simpatizantes em Curva do Boi. Além da luta encarniçada por votos o político sugeriu a troca do nome para Curvelândia. A sugestão foi aceita por José Pedro; Diorando Marques de Azevedo – pioneiro -; Luis – o irmão de Gabriel -, e que mais tarde seria vereador; e outras figuras do lugar. Em 10 de julho de 1987, ogovernador Carlos Bezerra sancionou a lei oriunda de um projeto do deputado José Lacerda e aprovado pela Assembleia Legislativa elevando a vila de Curvelândia a distrito de Cáceres.
Em 28 de janeiro de 1998 o governador Dante de Oliveira sancionou a lei de autoria do deputado Amador Tut, aprovada pela Assembleia Legislativa criando o município de Curvelândia em áreas seccionadas de Cáceres, Mirassol D’Oeste e Lambari D’Oeste.
Curvelândia se situa no polo regional de Cáceres, na faixa de fronteira e distante 48 quilômetros daquela cidade. Anualmente o município promove a Festa do Queijo e na edição de 2014 produziu o maior queijo minas frescal do mundo, com 1.830 quilos. Esse evento é promovido pela prefeitura em parceria com um laticínio local e divulga a pecuária leiteira da região, que ocupa lugar de destaque na economia desse segmento em Mato Grosso.
A rodovia MT-170, asfaltada, cruza a cidade e faz a ligação com Cáceres e Lambari D’Oeste. A MT-250 dá acesso pavimentado a Mirassol D’Oeste, distante 23 quilômetros.
CURVELÂNDIA – Município do polo de Cáceres, na fronteira, com 5.192 habitantes. Texto extraído do LIVRO 44, publicado em 2014 pelo jornalista Eduardo Gomes de Andrade, sem apoio das leis de incentivos culturais.
Eduardo Gomes/blogdoeduardogomes com foto em arquivo
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