Boa Midia

Railda é exemplo para a mulher mato-grossense

Railda do Afonso Leiteiro, não. Prefeita Railda de Fátima Alves. Afinal, ela venceu a disputa pela prefeitura no ano passado e administra o município de Nova Nazaré.

Logo após a instalação do município de Nova Nazaré, em 2001, Railda mudou-se para aquela cidade acompanhando o marido Adercino Xavier de Carvalho e levando a filha Rayça no colo. Trocou Goiás, onde nasceu, pela aventura no Vale do Araguaia, em busca de dias melhores.

A viagem foi penosa na estrada empoeirada. A velha camionete Chevrolet C-10 movida a GLP – o gás de cozinha – levou o casal e a filha para o lugar que mais tarde os adotaria definitivamente.

Adercino é nome complicado. Daí o marido de Railda virou Afonso e mais tarde Afonso Leiteiro, graças a um lance de sorte. Quando a família chegou com a mudança, o Laticínio Xavante se instalava em Nova Nazaré e precisava contratar camionetes para puxar leite. Para não criar atrito, relacionou os interessados no transporte e sorteou alguns nomes. Afonso foi um deles.

O casal não tinha com quem deixar Rayça e a levava na C-10 estrada afora, na linha de leite. Railda dirigia. A filha era mantida numa improvisada cama no assoalho diante do banco do passageiro.

Afonso recebia e desembarcava os latões na plataforma. Railda passou sete anos na estrada, ao lado dele, sempre feliz e solidária. A princípio a filha era a única companhia constante dos pais. Mais tarde nasceu Filipe, que passou a dividir o espaço na cabine com a irmã.

“Quem é aquela morena candidata a vereadora?”, perguntavam os novatos do lugar. “É Railda do Afonso Leiteiro”, respondia a cidade. Com esse registro na Justiça Eleitoral elegeu-se vereadora pelo PPS em 2004, com 139 votos – campeã das urnas. Da Câmara para a Prefeitura foi um pulo. Railda venceu a eleição com 707 votos, pelo PPS.

Mulher obstinada e guerreira, Railda luta pelo município. É uma mistura de mãe e líder política de sua comunidade. É também um dos símbolos das mulheres que na força do trabalho escrevem a página das transformações sociais mato-grossenses.

O texto acima, escrito em 2009, conta parte da trajetória de Railda, que em 2012, pelo PSD reelegeu-se com 880 votos – poucas mulheres conseguiram a façanha da reeleição para prefeitura em Mato Grosso.

A política não isolou Railda da realidade feminina, onde mulheres mundo afora lutam em todas as frentes possível em busca de espaço, de igualdade. A goiana que escolheu Nova Nazaré para viver não perde a simplicidade da leiteira ao volante, mesmo após três vitórias eleitorais consecutivas e de conquistar diploma de Pedagoga, com pós-graduação. Uma vencedora.

Não pensem que administrar um município pequeno igual a Nova Nazaré, hoje com 3.765 habitantes seja fácil. A prefeitura com orçamento reduzido, com receita de tributos municipais quase zero, o que a faz dependente dos repasses da União e Estado. A população engessada pelo turismo de saúde para atendimento de média e alta complexidade no Hospital Regional Paulo Alemão, na vizinha Água Boa, que é sede de sua comarca. A cidade distante dos grandes centros. O mosaico fundiário permeado por assentamentos da reforma agrária, que aguardam por emancipação; e com boa parte da zona rural sem regularização fundiária. Foi nesse cenário que Railda administrou por oito anos.

Quando se critica a classe política – realmente muito desgastada – é preciso que se faça as devidas ressalvas. Nos meios políticos num ponto perdido no Vale do Araguaia existe uma mulher de fibra, corajosa, trabalhadora e dedicada, que um dia deixou o volante de uma camionete que transportava leite para laticínio, subiu ao palanque, colecionou eleições e mostrou o caminho da cidadania e do desenvolvimento aos seus concidadãos na localidade que no passado era chamada de Borecaia.

NOVA NAZARÉ – Em 1984 os agricultores Paulo Sereno e Geraldo Vicente Faria chegaram ao rio Borecaia, área que pertencia a Água Boa. Na sequência outros em busca de terra para plantar e viver em paz iniciaram o cultivo de lavouras de subsistência. Assim, para suporte da comunidade rural nasceu a vila de Borecaia, que é o nome do rio mais próximo – na calha do rio das Mortes da Bacia do Araguaia.

O fluxo migratório fez Borecaia ganhar ares de vila e a igreja católica enviou a Irmã Vita, para evangelizar aquela comunidade. Elétrica, versátil, a religiosa passou a liderar a população e foi quem escolheu o nome Nova Nazaré, para substituir a denominação anterior, por acreditar que o espírito pacato da população lhe dava áreas de Nazaré, a cidade bíblica. Irmã Vita é o nome missionário adotado por Catharina Bubniak.

Prefeitura e Câmara de Nova Nazaré se instalaram em janeiro de 2001. O primeiro prefeito foi o pecuarista mineiro, adventista, José Marques de Queiróz, que não está mais entre nós.

Estudos apontam que Nova Nazaré será o porto mais ao Norte da Hidrovia Mortes-Araguaia, quando a mesma passar a ser explorada pela navegação comercial.

O município de Nova Nazaré tem grandes reservas indígenas da etnia Xavante. A rodovia MT-326, parcialmente pavimentada entre Água Boa e Cocalinho, divide a cidade ao meio. É a terra da guerreira Railda.

Eduardo Gomes de Andrade   

FOTO: Facebook Railda               

3 Comentários
  1. Railda de Fátima Diz

    Muito feliz com sua homenagem senhor Eduardo Gomes Andrade. Muito grata! O senhor tem meu respeito e minha admiração. És um jornalista honrado!
    Railda de Fátima (Nova Nazaré) Facebook

  2. José Marques Braha Diz

    Lido. Água Boa marcou
    José Marques Braga (Várzea Grande) Facebook

  3. Léo Medeiros Diz

    Boas histórias!
    Léo Medeiros (Cuiabá) – Facebook

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