Assim se escolhe conselheiro do TCE
Lamentável sob todos os aspectos a essência da disputa da vaga aberta no Tribunal de Contas do Estado (TCE) em 2014 com o afastamento judicial e posterior aposentadoria precoce do conselheiro Humberto Bosaipo. Não menos lamentável é a forma como essa ‘eleição‘ chega ao público leitor em incontáveis reportagens superficiais que tratam postulantes – como se os mesmos não tivessem passado – com histórico de vida que não lhes confere o predicado da ilibada moral, exigido para a função.
A cadeira que foi ocupada por Bosaipo no TCE deveria ser ponto de partida para uma nova era naquela corte auxiliar de contas. Em nome do Estado desejado pelo brasileiro, a mesma não poderia ser destinada a alguém que enfrente problemas com a Justiça. Mais: ao invés da escolha de um, deveriam ser escolhidos os sete conselheiros, uma vez que cinco estão afastados judicialmente, Bosaipo aposentou-se, e o único titular, Campos Neto, foi denunciado enquanto mensaleiro pelo ex-presidente da Assembleia Legislativa, José Riva.
Assembleia e Imprensa – com as devidas exceções – deveriam contribuir para que alcançássemos o verdadeiro Estado.
O Parlamento não incluindo à disputa deputado sob o crivo da Justiça, ainda que não tenha condenação com trânsito em julgado. É incômodo ver o deputado tucano Guilherme Maluf, que acaba de se tornar réu no Tribunal de Justiça, pleiteando uma vaga no TCE. O mesmo pode se dizer do democrata Dilmar Dal’Bosco, que figura na lista dos deputados que teriam recebido mensalinho do ex-governador Silval Barbosa, segundo ele; dessa lista também fazem parte Maluf e Sebastião Rezende (PSC) – todos de olho no TCE.
A Imprensa simplificando a informação, pois do modo que a mesma é repassada, dificulta o entendimento para muitos, tamanho o conteúdo com superficialidades, prognósticos e conversas de bastidores. Bastaria que os textos apontassem o dedo para cada deputado que quer suceder Bosaipo.
O corporativismo parlamentar reservará a vaga para algum deputado.Trocaremos o seis pelo meia dúzia.
A população, que tanto espaço ocupa nas redes sociais debatendo questões alheias a Mato Grosso, deveria reagir, defender a exclusão dos ‘candidatos‘ sujos. Mais: deveria cobrar definição judicial sobre os cinco conselheiros afastados desde setembro de 2017, acusados de receberem R$ 53 milhões de propinas de Silval Barbosa. São esses os afastados: Valter Albano, Sérgio Ricardo, Waldir Teis, José Carlos Novelli e Antônio Joaquim.
Há muitos anos Assembleia e TCE caminham abraçados aprovando todas as contas de políticos que estiveram presos ou que sofreram condenações por improbidade administrativa, a exemplo de Silval Barbosa e José Riva. Esse tipo de postura é o que se chama de conivência. Na composição atual do TCE, considerando-se a cadeira que foi de Bosaipo, cinco foram deputados estaduais: Campos Neto, Bosaipo, Sérgio Ricardo, José Carlos Novelli e Antônio Joaquim. Ou seja, entre os parlamentares alguns são escolhidos para serem conselheiros – e a ciranda continua de um para outro endereço.
A Assembleia não tem força nem vontade de estancar a forma como são escolhidos os conselheiros – pois essa eleição lhe interessa. Quem poderia fazê-lo? O povo. Somente as vozes das ruas, mas isso não acontecerá.
Não há dúvida que o silêncio sepulcral da população facilita para que deputados continuem repovoando o TCE e que as duas instituições – Parlamento e corte auxiliar de contas – permaneçam como sempre foram: palácios recheados de mordomias pagas pelo dinheiro público nesta terra carente de saúde, segurança, educação, boas rodovias, saneamento, com grande deficit habitacional e com milhares vivendo abaixo da linha da pobreza.
Que o Brasil avance. Que as próximas gerações exerçam mais a cidadania, a começar pela escolha de melhores representantes políticos e que ao invés do palacianismo tenhamos os poderes – em toda suas esferas – atuando satisfatoriamente no vácuo do Estado criado pela priorização de recursos para os afortunados donos do poder.
Eduardo Gomes de Andrade – editor de blogdoeduardogomes
eduardogomes.ega@gmail.com
FOTO: Arquivo Secretaria de Comunicação da Assembleia Legislativa
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