Bons para gastar e ruins para pagar…
A equipe da Rádio Difusora Bom Jesus de Cuiabá não via a hora de encerrar a transmissão da jornada esportiva daquela domin¬gueira – mais um clássico entre Mixto e Dom Bosco – para ir correndo parti¬cipar do grande acontecimento da noite: a inauguração da boate do Balneário Santa Rosa, no Coxipó da Ponte.
Fim da transmissão, os radialistas – Edipson Morbeck, Roberto França, Jair Figueiredo, Romeu Roberto Memeu e Márcio de Arruda – saíram do Dutrinha direto para o local da badalada festa, onde chegaram por volta das 19h30.
Estava todo mundo mais duro do que pedra. Mas a falta de dinheiro não era problema. Afinal, ninguém ia gastar nada mesmo. Só que como comu-nicadores e formadores de opinião, não podiam deixar de marcar presença no evento.
Logo que chegaram e foram acomodados numa mesa, apareceu o garçom com o cardápio. Quando Memeu viu os preços de bebidas e petiscos, quase caiu duro: uma porção de camarão, por exemplo, custava Cr$ 150,00.
Edipson Morbeck não ligou para o preço e foi o primeiro a pedir. E pediu sem parcimônia: uma porção de camarão e uma dose do uísque do mais caro. Animados com o entusiasmo de Morbeck, os companheiros de mesa fi-zeram também seus pedidos ao garçom.
Nem bem foi servida a primeira rodada para o pessoal da mesa, Edipson Morbeck pediu repeteco e não parou mais. Os outros embarcaram na canoa de Morbeck e afundaram o pé nos petiscos e bebidas.
Lá pela 1 hora da matina a rapaziada se deu conta que a segunda¬-feira era dia de batente. Estava na hora de ir embora…
Quando chamaram o garçom para fechar a conta, bateu um sono em Edipson Morbeck que não havia santo ou diabo que o acordasse! Fizeram de tudo para despertar Morbeck, mas que nada! Era erguer sua cabeça da mesa e paft!… lá estava ela de volta.
O garçom trouxe a nota e nada de Morbeck acordar. Entre a turmi¬nha de radialistas, nunca ninguém tinha visto alguém com um sono tão pesa¬do, pois nem as fortes pancadas de sua cabeça na mesa despertavam Morbeck.
Memeu percebeu que daquele mato não ia sair coelho. E sem con¬seguir dissimular sua vergonha, pegou a nota e foi falar com o dono do Santa Rosa, João Celestino Correa Cardozo, o João Balão, para ele segurar a conta por umas duas semanas, até a rádio pagar o pessoal. Aí o Morbeck faria uma vaquinha entre os companheiros e pagava a despesa daquela noite.
Quando Memeu retornou à mesa, dizendo que o problema da conta estava resolvido, Morbeck acordou de repente e levou a mão ao bolso, como se fosse pegar a carteira de dinheiro, enquanto perguntava apressadamente: “O garçom já trouxe a conta? Quanto foi a despesa?…”
O cobrador do Balneário Santa Rosa gastou muita sola de sapato na tentativa de receber de Morbeck o dinheiro da despesa dos radialistas na inau-guração da boate. Uma hora ele estava no ar, outra hora gravando programa, fazendo entrevistas, etc., e não podia ser interrompido…
Depois de tempão de enrolação, Memeu ligou para João Balão e sugeriu que o empresário fizesse umas propagandas na rádio para divulgar seus empreendimentos comerciais em troca da dívida, porque o dinheiro da pendura, se dependesse de Morbeck, ele nunca ia ver. Sem outra alternativa, Balão teve que topar a parada, porque o dinheiro mesmo da farra, babau !…
PS – Capítulo do livro Folclore da bola (volume 2 do Casos de todos os tempos) e desmembrado em três capítulos: futebol, arbitragem e radialismo, que está na editora à espera da publicação pelo jornalista e escritor Nelson Severino.
A obra, ambientada em Mato Grosso, focaliza personagens do esporte e do jornalismo esportivo.
Aposentado e residindo em Várzea Grande, Nelson Severino se dedica a escrever livros. Em breve terá novo lançamento.
Em Mato Grosso o autor é uma das referências do jornalismo, profissão à qual se dedicou com seriedade e profissionalismo durante décadas, sem se deixar seduzir por políticos e poderosos, atuando em jornais e revistas regionais, e na condição de correspondente de grandes jornais do eixo Rio-São Paulo.
Resgate da história. Parabéns brigadeiro