Nordeste de Mato Grosso celeiro em franca expansão
No princípio (década de 1940) o melhor caminho eram os rios. Navegando as águas do Araguaia em batelões, aos poucos, migrantes do Norte e Nordeste, especialmente do Pará, Piauí e Maranhão foram chegando e habitando as margens do Berohokã o Grande Rio, como assim denominam os índios Carajás. Surgindo então, pequenas vilas ao longo do Araguaia, hoje importantes cidades do Nordeste mato-grossense a exemplo de Santa Terezinha, a primeira da margem quase na divisa com o Pará, seguida de Luciara, São Félix do Araguaia, Cocalinho, Araguaiana e Barra do Garças.
Aqueles que buscavam por terras pastais e lavradias iam se acomodando. Outros almejavam o bambúrrio nos garimpos de diamantes de Baliza/GO e Torixoréu e com tal propósito continuavam a jornada rio acima.
Assim, começava a saga de uma região que atrairia aventureiros, empreendedores e notáveis personalidades do cenário nacional à época.
Por ela, nos idos de 1943 passaram os irmãos Orlando, Cláudio e Leonardo Vilas Boas à frente da Expedição Roncador-Xingu. Ainda, não menos importante a “Bandeira Piratininga” da qual o renomado jornalista paulista, Willy Aureli foi fundador e comandante, e que nos anos de 1945 e 1946 realizou a circunavegação da Ilha do Bananal (a maior ilha fluvial do mundo), no rio Araguaia do lado goiano, cuja aventura foi digna de homenagem da parte do Marechal Cândido Mariano Rondon que, numa carta de aplausos assim dizia: “Com o seu trabalho, transformou completamente a fisionomia topográfica de toda a região”.
Nesta seara, Juscelino Kubitscheck não ficou atrás. O sonho do Presidente era transformar a Ilha do Bananal (na localidade conhecida por Santa Izabel, próxima a São Félix do Araguaia), no maior polo turístico de água doce do Centro-Oeste brasileiro.
“O desejo de Juscelino era de instalar um cassino no Hotel JK”, afirma Zé Dedinho, ex-servidor da Fundação Brasil Central que numa terça-feira, 26 de janeiro de 1961, por ocasião da inauguração do Hotel JK transportou de barco da Ilha do Bananal até o vilarejo de São Félix do Araguaia o Presidente Juscelino e alguns de seus ministros. A infraestrutura na Ilha do Bananal compreendia um luxuoso hotel, hospital, base aérea com pista pavimentada (1.540m) e a residência do presidente, uma réplica (menor) do Palácio do Catetinho.
Já nas décadas de 1960 e 1970 impulsionado por incentivos da SUDAM, o agronegócio se desenhava na região com aberturas de grandes fazendas, a exemplo da Suiá Missú, Bela Manhã, CCO, Roncador, Bordolândia, Guanabara, Macife, Alvorada, Bonança, Taquaral, Cedro e Santa Maria. Inclusive Sílvio Santos, em 1972 adquiriu do Grupo Ometto-Almeida Prado o controle da Agropecuária Tamakavy, uma área de 70 mil hectares. Nesta época o município de Barra do Garças abrangia boa parte do Nordeste mato-grossense.
Contudo, a região tomou outra dimensão a partir da colonização promovida pelo memorável jornalista, empresário e pastor luterano Norberto Schwantes, com a migração de famílias do sul brasileiro, descendentes de alemães, italianos e poloneses dispostos à exploração do vasto cerrado do Vale do Araguaia, o que resultou nas cidades de Água Boa, Canarana e mais tarde Querência. Nesta premissa mais ao norte surgiram Confresa e Vila Rica. Formando assim a denominada e próspera região Nordeste Mato-grossense com 25 municípios que vai de Barra do Garças a Vila Rica. Esta, subdivide-se em 3 microrregiões: Médio Araguaia, Canarana e Norte Araguaia.
Por muito tempo a pecuária foi a vocação predominante nesta região. A exemplo do Norte Araguaia, composta de 14 municípios, com área territorial de aproximadamente 85.000 km², 133 mil habitantes, e que detém um rebanho de pouco mais de 2,9 milhões de cabeças de gado, segundo dados do Indea.
O município de Vila Rica na divisa com o Estado do Pará ocupa o podium com um rebanho de 610 mil cabeças, seguido por Confresa com 400 mil e Ribeirão Cascalheira com 280 mil cabeças.
Todavia, de 2010 para cá um novo ciclo começou especificamente no Norte Araguaia, antes rotulada de “O Vale dos Esquecidos”, agora se destaca como a “última fronteira agrícola” haja vista a disponibilidade de 3,110 milhões de hectares propícios ao cultivo de soja.
Para Fernando Gorgen, sojicultor e prefeito de Querência, o Araguaia era considerado o fim da linha. “Com a construção da BR-242 ligando a 158 com a 163, da 080 ligando Goiás ao Mato Grosso; a conclusão da 158 nesse trecho do Norte Araguaia e a implantação da FICO, o Araguaia será o começo de Mato Grosso, terá a melhor logística do Estado” – afirma Gorgen.
Nesta safra por exemplo, Querência plantou uma área de 400 mil hectares de soja e 230 mil hectares de milho. A irrigação entra com força total no município, que já conta com um significativo número de áreas licenciadas. No entanto, a maior expectativa está na possível instalação de uma usina de etanol de milho em Querência, prevista para o segundo semestre de 2021. “O Município está em plena expansão, a tendência é duplicar a população em quatro anos com a instalação dessa usina de etanol” – ressalta Gorgen.
O Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária – IMEA estima para a safra (soja) 2020/2021, no Vale do Araguaia, região Nordeste, o plantio de pouco mais de 1,8 milhão de hectares com uma colheita prevista de quase 6,2 milhões de toneladas de grãos.
Região pujante, produtora de alimentos, rica em história e cultura. Palco dos mais belos cenários naturais ornamentados pelas belas paisagens do Araguaia e seus afluentes, a exuberância do Xingu e o misticismo da Serra do Roncador. Do político e escritor Valdon Varjão aos sertanistas irmãos Vilas Boas. Do Coronel Fawcett ao líder indígena cacique Raoni Metuktire. Do colonizador Norberto Schwantes ao Bispo das causas populares D. Pedro Casaldáliga. Do Araguaia ao Xingu. Assim é a história, assim foi e assim será o Nordeste Mato-grossense, agora em nossas mãos.
Antonio Mendes. Advogado e jornalista
Antonio Mendes, natural de São Félix do Araguaia. Ingressou no serviço público municipal em 1989. Na bagagem a experiência da implantação administrativa de dois municípios literalmente da “estaca zero” como secretário geral da Administração. O primeiro, Canabrava do Norte em 1993 e o segundo, Novo Santo Antonio em 2001 onde atuou por quase oito anos consecutivos. Foi colaborador da Associação dos Municípios do Aragduaia (AMA) em Cuiabá, de 2010 a 2017.
Atualmente com escritório de advocacia em São Félix do Araguaia
FOTOS: Antônio Mendes
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