Nascido em 23 de abril de 1954, o jornalista cuiabano Jorge Bastos Moreno, se ainda vivo, estaria completando 70 anos e com certeza estaria preparando uma grande festa.
Nascido e criado em Cuiabá, aos 17 anos Moreno foi para Brasília, onde cursou jornalismo na UnB e deu início a uma brilhante carreira. Desde o início, Moreno demonstrou uma habilidade excepcional em desvendar os bastidores da política e trazer informações exclusivas para o público.
Vale a pena lembrar que Moreno era pobre, negro e tinha medo de tudo: medo de escuro, medo de bicho, medo de gente! Mas Moreno tinha um sonho: o sonho de mudar de vida, romper barreiras e ajudar as pessoas. Lembro-me bem de uma vez em que Moreno confidenciou-me: “No começo, o mais difícil era ter que me comunicar com minha mãe por carta.” Moreno era família, afeto, amor!
Para alcançar seus sonhos ele matou muitos dragões do preconceito, enfrentou dificuldades, lidou com salários atrasados, com pessoas duvidando de seu potencial e com todos os obstáculos impostos no caminho de quem vem de baixo.
No entanto, ele mudou a sua história e com seus famosos furos de reportagens mudou também a história da política no Brasil. Foi Jorge Bastos Moreno quem revelou a nomeação do general João Figueiredo como sucessor na Presidência da República durante a ditadura militar. Também foi ele quem expôs o escândalo que levou ao impeachment de Fernando Collor de Mello após a redemocratização do país.
Vencedor do Prêmio Esso de Informação Econômica de 1999, o jornalista foi o primeiro a noticiar a queda do então presidente do Banco Central, Gustavo Franco, publicada na edição de 13 de janeiro, e a consequente maxidesvalorização do real. Para isso, Moreno parou as máquinas do jornal de madrugada, garantindo o furo.
Como enviado do Globo em Roma, o cuiabaninho atrevido entrevistou o Papa João Paulo II, em outro furo histórico, já que o pontífice defendeu a reforma agrária, sem violência, no Brasil e a notícia foi parar na manchete do jornal.
Moreno tinha acesso privilegiado aos bastidores da política e “seduzia” as suas fontes com um insistente compromisso de apurar os fatos. Ele era irônico, crítico, irreverente, observador e sempre atento e pronto para captar qualquer novidade.
Irreverente e criativo, Moreno atuou no impresso, no rádio, na TV, foi professor, autor dos livros “A História de Mora” e “Ascensão e Queda de Dilma Roussef” e ainda nutria uma paixão ardente pela música e até compôs canções como “Giro” e “Afogamento”, em parceria com seu ídolo e amigo Gilberto Gil. “Vou colocar no meu currículo: jornalista e compositor”, dizia Moreno.
Fora dos holofotes políticos, Jorge Bastos Moreno era conhecido por sua habilidade em reunir pessoas e por suas festas na famosa Laje do Moreno, no Rio de Janeiro, onde vira e mexe servia uma comida tradicional cuiabana preparada pelas mãos da talentosa Carlúcia, sua fiel escudeira.
Seu compromisso com o jornalismo e o seu jeito de ser o transformou em uma figura respeitada e influente no cenário nacional. Por isso, Moreno continua vivo!
Jorge Moreno virou documentário na Globo Play com nome que faz jus à sua pessoa, O Repórter do Poder. Virou nome de escola no Rio de Janeiro, nome do Comitê de Imprensa da Câmara Federal, nome de Título Honorífico na Câmara Municipal de Cuiabá e, sobretudo, vive nos corações de familiares e amigos.
Sua partida foi prematura. Ele nos deixou no dia 14 de junho de 2017 e deixou uma lacuna no jornalismo brasileiro, mas seu exemplo de integridade, coragem e dedicação continua e deve continuar a inspirar as gerações futuras por muitos e muitos anos.
Salve, Jorge!
*Vanessa Moreno é jornalista e sobrinha de Jorge Moreno
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