Boa Midia

ALTA FLORESTA 48 ANOS – A data da vitória de Ariosto

Eduardo Gomes

@andradeeduardogomes

Ariosto da Riva

Calha do rio Teles Pires, município de Aripuanã, quarta-feira 19 de maio de 1976. Ao contrário do Brasil que está em ebulição pelas eleições municipais em novembro, naquele local o assunto era um só: a inauguração de Alta Floresta. Pela manhã Ariosto era a imagem do contentamento acompanhando os tratores arrancando as derradeiras raízes das ruas sem casas, escolas e lojas laterais. À tarde o colonizador estava ainda mais feliz entregando ao Brasil e às gerações futuras um projeto que transformava o vazio amazônico no embrião de uma cidade sonhada para ser moderna. Digo mais: para ser a imagem de seu construtor.

O dia da fundação é a data oficial de Alta Floresta, mas seu distrito foi criado em 19 de setembro de 1977 pelo governador Garcia Neto e a emancipação aconteceu em 18 de dezembro de 1979 com a sanção pelo governador Frederico Campos da lei que criou o município.

As ruas desertas quando da inauguração da cidade mais tarde viveram o boom populacional com o garimpo. Em 1995, quando a atividade entrou em declínio, havia 79.591 moradores. Transcorridos 21 anos, esse número caiu para 50.082, registrando queda de 37,08% no período. Esse enxugamento humano somente não é maior porque o êxodo foi estancado e nos últimos anos houve a retomada do crescimento. Dois indicadores sociais mostram que as sequelas com o fim do garimpo estão cicatrizando: o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) numa escala de zero a um é de 0,714 e a renda per capita alcança R$ 20.853,81. Tratamento de esgoto contribui para a melhoria da qualidade de vida e Alta Floresta está atenta a isso. Por meio de concessão, a cidade coleta e faz tratamento de parte do esgoto. Fé e trabalho nunca faltaram a Alta Floresta; é nesse binômio que se retoma o crescimento. Dentre os líderes religiosos que elevaram e elevam as mãos aos céus pela cidade, o pastor baiano Agenor José dos Santos, que aos 77 anos, em 2 de junho de 2016 se juntou ao coro do justos que ora nos céus.

No auge do garimpo havia um frenesi de pequenos aviões no aeroporto da cidade e, na Boate Saramandaia, mais de 300 mulheres faziam a alegria dos garimpeiros noite adentro sem hora para o sexo e a bebedeira acabar. O pagamento quase sempre era feito em pepitas; dinheiro era raro naquela casa, onde a verdadeira moeda circulante atendia pelo nome de ouro. Sobre isso leia o capítulo dedicado a Peixoto de Azevedo.

As ruas desertas e sem escola não existem mais. A Educação ajudou a povoá-las com suas crianças e quem primeiro ensinou o bê-á-bá na terra de Ariosto foi o professor Benjamin Paula. O desenvolvimento levou para Alta Floresta um campus da Universidade do Estado (Unemat) e outro do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFMT), com extensão em Paranaíta, e faculdades particulares com ensino presencial e a distância. A cidade ganhou hospitais e inclusive o Hospital Regional. Mulheres e homens povoaram essas ruas e lá não se segrega gênero. Por dois mandatos consecutivos a economiária Maria Izaura Dias Alfonso foi sua prefeita. Mais: a cidade não é adepta da máxima de que santo de casa não faz milagre, tanto assim que em 1990 elegeu seu morador mineiro João Batista Teixeira dos Santos primeiro deputado federal do Nortão.

ARIOSTO – Melhor escola, impossível! Ariosto da Riva aprendeu a construir cidades com o maior colonizador do Paraná, Geremia Lunardelli. Do Paraná para Mato Grosso – antes de sua divisão – onde criou Naviraí (agora MS). Depois chegou ao Teles Pires em 1974. Fundou Alta Floresta, Apiacás e Paranaíta. Nasceu de família pobre em Agudos (SP). Sua têmpera esculpida pelo trabalho incessante ao longo de 77 anos abriu caminhos ao desenvolvimento de Mato Grosso e ao sonho de milhares que buscavam no Nortão as oportunidades que não tinham em seus lugares de origem. Em 25 de julho de 1992 fechou os olhos, mas não deixou sua Alta Floresta onde seu corpo foi sepultado. Entrou para a galeria dos que construíram o Brasil. Virou lenda.
As gerações de seus sucessores ganham mais e mais componentes. Em 5 de maio de 2015 nasceram seus primeiros tetranetos: Laura e Arthur. Seu filho Vicente da Riva foi prefeito do município.

No cenário de conquistas e vitórias, Ariosto experimentou uma dor sem fim pela perda de seu filho Ludovico da Riva – seu braço direito na colonização – que morreu num acidente aéreo em 1990, quando disputava o governo.

Ariosto e Ludovico emprestam seus nomes ao principal corredor da cidade, que é separado por um amplo canteiro central com construções de frente para as duas pistas, uma a Avenida Ariosto da Riva e outra a Avenida Ludovico da Riva.

Citando esse grande colonizador, povoador do vazio demográfico amazônico e criador de oportunidades para milhares de brasileiros que encontraram em Alta Floresta, Paranaíta e Apiacás a oportunidade que não tiveram em sua terra natal, encerro este livro. Espero que a obra contribua para dar forma literária à oralidade da história do Nortão. Obrigado a todos. Obrigado meu Deus!

PS – Texto extraído deste livro de minha autoria, publicado em 2016 sem amparo das leis de incentivos culturais.

Comentários estão fechados.

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Vamos supor que você está bem com isso, mas você pode optar por sair, se desejar. Aceitar Leia Mais

Política de privacidade e cookies