O período dos alertas ambientais passou. Agora, a natureza reage. Creio que a reação está aquém do que nos aguarda no amanhã, mas tenhamos certeza que sobre nós recai a safra que plantamos nos últimos 30 anos. O cenário é catastrófico no mundo inteiro e Mato Grosso não é exceção – ao contrário. O que podemos fazer para recuperarmos florestas e cerrados, desassorear e despoluir rios e lagos, restaurarmos áreas comprometidas com a erosão, ampliar a faixa ciliar, enfim estabelecermos uma relação lógica com o meio ambiente?
São perguntas com respostas óbvias, porém inviáveis por conta do interesse econômico, a irresponsabilidade coletiva e a maléfica classe política – com suas exceções de praxe.
Mato Grosso tem uma legislação ambiental considerada modelo e rígida para os padrões brasileiros, mas ainda assim a mesma não tem a resolutividade necessária pelo perfil econômico mato-grossense da produção agrícola superlativa. Creio que ela seria boa para o Amazonas, a Paraíba ou Rio Grande do Sul, estados diferentes um do outro, porém bem abaixo do volume produzido pela economia mato-grossense sobre três biomas tão distintos quanto o sol e o luar, embora ambos lancem luz sobre a humanidade.
Em nome da tradição e do direito adquirido ou assegurado em sua origem, o agronegócio não pode ocupar a totalidade da área onde planta em rotação de culturas, lavouras em escala e dependentes dos agroquímicos. O lucro, o volume exportado e a parcela consumida internamente com a transformação de proteína vegetal em proteína animal não podem se sobrepor ao direito à saúde e consequentemente à vida.
Mudar as regras exige responsabilidade ambiental por parte do Congresso Nacional, o que não será possível com a legislatura em curso que se embala aos bordões de Nelson Barbudo (PPL) e outros que comungam seu pensamento tanto em Mato Grosso quanto nos demais estados. No mínimo, teremos que esperar dois anos para podermos pensar numa nova representação congressista.
Porém, nas eleições municipais poderemos mudar parte desta triste realidade exorcizando políticos, e quando não for possível votar em um bom nome, que optemos pelo menos ruim.
O descompromisso de prefeitos, vereadores e partidos com a coleta e tratamento de esgoto é revoltante. Não existe uma voz legitimamente defensora do meio ambiente. Não tentem argumentar que o vice-prefeito de Cuiabá, José Roberto Stopa, é filiado ao Partido Verde, pois em Mato Grosso essa sigla é fake quando se trata do mote de sua atuação.
Quantos prefeitos e vereadores desmatadores e poluidores estão em cena em busca da reeleição? Creio que pelo quantitativo populacional Cuiabá seja a maior poluidora do rio Cuiabá formador do Pantanal, e nunca vi seu prefeito Emanuel Pinheiro (MDB) e os 25 vereadores vestindo realmente a camisa da coleta e tratamento de esgoto. A política municipal cuiabana no poder é um monjolo que bate no mesmo lugar. Recentemente, Emanuel Pinheiro pediu autorização à Câmara para contratar um empréstimo de 139 milhões – no apagar das luzes de seu governo – e dois vereadores rotulados de críticos de sua administração, Demilson Nogueira (PP) e Dilemário Alencar (União), prontamente votaram favoráveis. Está claro que não há preocupação com o meio ambiente, mas sim, com a manutenção do status quo. Creio ainda que proporcionalmente quem mais polui é a cidade de Cáceres, banhada pelo rio Paraguai, a julgar pelo Ranking da Universalização do Saneamento elaborado pela Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes). Coincidência ou não, nos últimos 12 anos aquele município foi administrado por Francis Maris (PL) e Eliene Liberato (PSB); Francis é candidato a prefeito e Eliene busca a reeleição.
Dentre os grandes municípios, somente Rondonópolis universalizou o tratamento do esgoto que lança no rio Vermelho, que drena para o Pantanal. Justiça se faça, parte desta conquista tem que ser creditada ao político Carlos Bezerra (MDB), que no exercício de mandatos legislativos e executivos, tirou sua cidade das trevas ambientais no tocante às águas.
Lamentável a incapacidade de Várzea Grande, Barra do Garças, Pontes e Lacerda, Torixoréu, Nova Xavantina, Porto Alegre do Norte, Alto Araguaia, Itiquira, Poxoréu, Juscimeira, São Pedro da Cipa, Rio Branco, Salto do Céu, Porto dos Gaúchos, Lucas do Rio Verde, Lambari D’Oeste, Sapezal, Apiacás, Cocalinho, Luciara, Santo Antônio de Leverger, Acorizal, Nortelândia, Peixoto de Azevedo, Reserva do Cabaçal, Novo Santo Antônio, Araguaiana, Santa Terezinha, Paranatinga, Guiratinga, Porto Esperidião, Pontes e Lacerda, Vila Bela da Santíssima Trindade e outras grandes, médias e pequenas cidades ribeirinhas de tratarem o esgoto,
Além da falta de saneamento, a agressão ambiental passa pelo agro, garimpo e a ocupação desordenada do solo urbano e, também, pela incapacidade política do governador Mauro Mendes e de seus antecessores que exerceram mandato nos últimos 30 anos, período em que aconteceu a chamada revolução no campo que tirou Mato Grosso da condição de estado periférico e o fez campeão nacional na agricultura e pecuária bovina; pela negligência da bancada federal, da Assembleia Legislativa e dos prefeitos e vereadores nesse ciclo econômico.
Temos exemplo de políticas públicas completamente erradas sobre a questão ambiental. No boom da colonização mato-grossense o Incra condicionava a expedição do título da terra ao seu desmatamento ou abertura, como se dizia. Na área da Saúde Pública a extinta Sucam tinha uma cartilha educativa que ensinava desmatar as margens dos rios e córregos para eliminar o mosquito transmissor da malária. Hoje tais práticas são inconcebíveis, mas uma névoa política nos impede de apontar mudanças nas novas políticas que se comparam ao entendimento do Incra e da Sucam no ontem.
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A inconstância climática leva municípios à falta d’água, como em Poconé, onde o rio Bento Gomes secou literalmente, e em Cáceres, onde o rio Paraguai agoniza. Ela é a principal causa das doenças respiratórias que afetam bebês, crianças e idosos. Além disso ela nos estampa na cara que algo tem que ser feito, já.
O título desta editorial e seu texto reverenciam a memória do trabalhador no campo, Paulo Henrique Pereira Souza, que morreu queimado quando tentava apagar um incêndio em um canavial da usina Sonora, em Itiquira, na divisa com Mato Grosso do Sul, onde aquela indústria é instalada na cidade que lhe empresta o nome.
Não tenho a qualificação de Paulo Henrique Pereira Souza, que morreu no dia 22, mas que até o momento a usina não conseguiu informar à imprensa, sua qualificação. Descanse em paz! Aqui a população continuará em silêncio como se a mesma não fosse a grande vítima do desequilíbrio ambiental em Mato Grosso.
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