Cadê a Santana Textiles que estava aqui?
Eduardo Gomes
@andradeeduardogomes
eduardogomes.ega@gmail.com
Mato Grosso ganhou a maior e mais moderna fábrica de tecido para confecção de jeans no Brasil. Em dezembro de 2006 a Santana Textiles hasteou sua bandeira em Rondonópolis, numa região cercada pelo branco do algodão por todos os lados. A meta inicial foi cumprida: a indústria produzia mensalmente 1,5 milhão de metros lineares de tecido denim, gerando 1.100 empregos com 900 operários residentes naquela cidade e anualmente comprava 12 mil toneladas de algodão. Em 2015, depois de dois tropeções que suspenderam temporariamente o funcionamento de seu parque industrial, a empresa baixou definitivamente suas portas.
Tão silenciosos quanto as máquinas inativas da Santana Textiles está a classe política, a começar pelo governo. O sindicalismo que representa os ex-operários agora no olho da rua, também não se pronuncia.
Que mistério se esconde por trás do fechamento da Santana Textiles em Rondonópolis?
O grupo empresarial dono da indústria não abre a boca, o governo estadual está calado, a classe política rondonopolitana não sai da moita e o mesmo faz o sindicalismo.
A Santana Textiles oficializou seu fechamento em maio de 2015. Em fevereiro daquele ano e por alguns meses em 2014 suspendeu a produção temporariamente. Enquanto Rondonópolis fica fora da operação industrial, as cinco fábricas do grupo estão a todo o vapor produzindo mais de 7 milhões de metros lineares de denim mensalmente, em suas quatro plantas no Nordeste e uma na Argentina.
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Um dos argumentos da Santana Textiles para se instalar em Rondonópolis era convincente: cerca de 80% de sua matéria-prima, no caso o algodão, era comprado em Mato Grosso. Somando-se a isso seu maquinário moderno, que era considerado o mais avançado do Brasil, a oferta de mão-de-obra, o suprimento regular de energia elétrica e rodovias pavimentadas para os principais mercados, em São Paulo, Sul e os países do Cone Sul, a fábrica tinha tudo para dar certo naquela cidade. Mais: além da soma de fatores positivos, o governo estadual a enquadrou para receber os benefícios concedidos pelo Programa de Desenvolvimento Industrial e Comercial (Prodeic), que pode ser melhor entendido pela palavrinha que enternece os corações do empresariado: desoneração. Isso, renúncia fiscal para atrair investidores.
Não houve quebra na produção algodoeira no polo de Rondonópolis, que abrange aquele e os municípios de Campo Verde, Jaciara, Itiquira, Guiratinga, Tesouro, Pedra Preta, Alto Garças, Alto Araguaia, Alto Taquari, Dom Aquino, Juscimeira, Poxoréu, São Pedro da Cipa, Primavera do Leste, Santo Antônio do Leste, Novo São Joaquim, General Carneiro, Araguainha, Ponte Branca, Ribeirãozinho, Santo Antônio de Leverger, Paranatinga, Gaúcha do Norte, Planalto da Serra e Nova Brasilândia. A energia elétrica continua firme na ponta. O governo nem sonha em derrubar os incentivos fiscais, A região ganhou em logística com a chegada do trem da Rumo Logística, que escoa commodities para o porto de Santos e que bem antes do fechamento da indústria já apitava por aquelas bandas. O mercado nacional do denim está em alta.
Nem mesmo essa realidade despertou o então governador Pedro Taques, que estava no poder quando a Santana Textiles fechou. O sucessor de Taques, Mauro Mendes, também não abre o bico. O prefeito Zé Carlos do Pátio toca a administração como se o maior empregador privado do município continuasse em atividade. A Assembleia Legislativa, como tradicionalmente procede, finge que o fato não existe. Na bancada federal, em Brasília, não se ouve voz cobrando a retomada da produção, quer seja pelo grupo empresarial dono da fábrica ou por meio de alguma composição com empresários ou cooperativas.
DENIM – O jeans é feito com o tecido denim oriundo de tecelagem tendo o algodão enquanto matéria-prima. Há quem confunda o jeans com o denim e o índigo que também é chamado de índigo blue (blue em inglês é azul, a cor predominante do jeans).
Jeans é a roupa. Denim o seu tecido. Índigo é sua cor.
Infografia:
Marco Antônio Raimundo
Foto:
Eduardo Gomes
Pegaram incentivos, financiamento público e deram no pé, única coisa que fizeram foram doações de alguns retalhos para as escolas de corte e costura do município, eu mesmo fui buscar algumas vezesegaram incentivos, financiamento público e deram no pé, única coisa que fizeram foram doações de alguns retalhos para as escolas de corte e costura do município, eu mesmo fui buscar algumas vezes
Josué Murta Brandão – Rondonópolis