Cúmplices da corrupção assassina
Eduardo Gomes
@andradeeduardogomes
eduardogomes.ega@gmail.com
Nunca a humanidade esteve tão à prova em tempo de paz quanto na pandemia da covid-19, cuja reconhecimento pela Organização Mundial de Saúde aconteceu em 11 de março de 2020 – portanto, há cinco anos. Pena que a memória coletiva não se volte para o trágico período sombrio que estendeu-se até 2024, e que infelizmente ao invés de ser visto em sua fúnebre essência é tratado como mero capítulo a mais entre os inconsequentes e fanáticos grupos bolsonaristas e lulistas. Fiquemos com a abordagem exclusiva sobre Mato Grosso.
Em números oficiais a covid causou 15.260 mortes e infectou 1.082.286 cidadãos mato-grossenses, com casos de reincidência, cujos números as autoridades de saúde não divulgaram. As vítimas fatais correspondem a população de Nobres – 15.753 habitantes.
Uma só morte é motivo de dor, de luto, mas perdemos mais de 15 mil mato-grossenses, dos mais humildes aos poderosos, de terna idade aos anciãos. Quando a doença surgiu, Mato Grosso não estava preparado para uma pandemia, e até mesmo os médicos das UTIs não tinham prática para os procedimentos que a doença exigia. Além disso, não havia leitos de UTIs disponíveis na rede pública para a demanda avassaladora.
As manchetes estampavam a tragédia, que matou o deputado estadual Sílvio Fávero; o ex-reitor da Unemat, Adriano Silva; o prefeito de Alto Taquari, Fábio Garbugio; os jornalistas João Bosquo Cartola, Pedrinho Barros, Paulo Iran, Generoso Rodrigues, Chico Tello, Elisângela Neponuceno, Vítor Aurape Peruare, Nilson Rachid…; o ex-prefeito de Ponte Branca, Sandoval Nogueira; o bispo da Diocese de Rondonópolis e Guiratinga, Dom Juventino Kestering; os caciques Domingos Mãhörõ e Aritana Yawalapiti; o ex-governador Frederico Campos; os médicos Mário Luiz Tenório Perrone, Braz Simões Nogueira e Monique Silva Batista; e milhares de outros.
Em meio ao luto, a dor, a viuvez e a orfandade, com Mato Grosso temendo e sem entender direito o que acontecia, a precariedade da saúde pública abriu um corredor para a corrupção na compra de insumos médicos, contratação de UTIs e outros procedimentos. O Estado era zona de calamidade pública na saúde.
O maquiavelismo da corrupção além das ideologias e das bandeiras partidárias inflamou a inconsequência do desatino bolsonarista e lulista levando-os à troca de insultos nas redes sociais. Enquanto marionetes repetiam o que interessava ao universo corrupto, a farra com o dinheiro público ganhava a blindagem do silêncio para agir.
Transcorridos cinco anos do começo da pandemia não há informação sobre inquérito ou ação judicial sobre a movimentação financeira da Secretaria de Estado de Saúde e das prefeituras. Será que figuras tradicionalmente envolvidas em escândalos de corrupção fizeram do período pandêmico abstinência aos saques dos cofres públicos? Alguém se recorda que a Prefeitura de Rondonópolis, sob o prefeito Zé Carlos do Pátio (PSB), comprou por 4 milhões, respiradores falsos, em Tocantins, e que a Câmara Municipal, covardemente, não apurou aquele fato? Alguém sabe que vergonhosamente Rondonópolis reelegeu vereadores que abafaram aquele caso?
Graças a Deus a pandemia passou. Sobrevivemos! Porém, tenhamos em conta que a movimentação do dinheiro público em Mato Grosso no enfrentamento da pandemia não passou pelas lupas do Ministério Público Estadual e pela Polícia Judiciária Civil. Somos uma terra atípica, onde o jornalismo reconhecido por autoridades e leitores é aquele que faz o jogo do poder. Luz na eternidade aos que tombaram pelo vírus. Que Deus perdoe os que promoveram a degradação moral da vida institucional pouco se importando com as vítimas da pandemia, que morriam nos corredores dos hospitais e nas UTIs capengas, e que tenha pena dos que permanecem calados diante do fato aqui narrado, pois com essa postura eles são cúmplices da corrupção assassina.