Boa Midia

Uma música no céu, pra Deus

Maestro Marinho Franco
Maestro Marinho Franco

Sexta-feira 24 de março de 2000. No céu, serafins, arcanjos, querubins e anjos entoam cânticos de louvor diante do Senhor. E Deus, onipresente, também está na Terra e a caminho do Seu trono…

As portas do céu se abrem na madrugada daquele sábado 25 de março, de 2000 para passagem ao Senhor, precedido por uma legião de anjos. E Deus estava no céu e ali chegava, sobre os primeiros raios do sol do último dia da semana, com um filho muito querido, que fechou os olhos na véspera.

E Deus estava no céu, e numa nuvem ao céu chegou, com o filho muito querido, para tê-lo sempre Consigo no infinito celestial que reserva àqueles que O amam e são por Ele amados.

O céu se curvou aos pés de Deus para ouvi-Lo, mas o Senhor nada disse.

E o silêncio do Paraíso foi quebrado pelo som do saxofone do filho muito querido de Deus. E as melodias do instrumento musical dobravam as curvas do infinito e se espalhavam além do espaço e do tempo…

O som, lindo, desceu à Terra em forma de sorriso de criança, de paz, de amor, de crença, de esperança e de fé… Espalhou-se por corações, inundou Cassununga, Batovi, Alcantilado, Guiratinga, Coreia, Cafelândia do Leste, Tesouro, Raizinha, Alto Garças, Alto Coité, Poxoréu, Rondonópolis e por onde mais se possa imaginar que garimpeiros dos vales do Garças e do rio Vermelho viveram o ciclo do diamante que fazia fortuna da noite para o dia.

Quando o som, lindo, chegou à Terra, foi sentido por outros meios, como a doce lembrança de tantos casais apaixonados que se uniram pela força do romantismo embalado por aquele sax, nas inesquecíveis domingueiras do clube ABR em Rondonópolis, ou nos rela-buchos dos tempos imemoriais do ciclo do diamante.

O filho muito querido de Deus, quando entre nós, foi tomado como exemplo de dignidade pessoal, de honradez de caráter, de postura cívica e de grandeza de alma, atributos que deixou por legado em seu inventário pobre de bens materiais e rico em predicados morais. Ele foi escutado política e socialmente pela voz da consciência coletiva de Rondonópolis, que tanto lhe deve e que tão pouco lhe deu, por mais que o tenha guardado em seu coração, por mais que o imortalize com um nome de uma de suas ruas e de seu imponente aeroporto.

Deus ouviu, até o silenciar da última nota, o sax que falava a linguagem universal da música. Depois, o Senhor abençoou aquele filho muito querido e lhe concedeu a graça da eternidade com os justos, por sua conduta na Terra.

O filho muito querido de Deus prostrou-se de joelhos diante do Senhor, para louvá-Lo. Antes que o fizesse, o lado brasileiro do anfitrião celestial falou mais alto e Ele pediu a saideira:

– Toca a ‘Mariana’, que é uma de suas músicas preferidas, maestro Marinho de Oliveira Franco. Toca, menino. Toca…

PS – Extraído do livro “Dois dedos de prosa em silêncio – pra rir, refletir e arguir”, publicado em 2015 pelo jornalista Eduardo Gomes de Andrade, sem apoio das leis de incentivos culturais.

 

Da REDAÇÃO

Arte: Generino

 

Comentários estão fechados.

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Vamos supor que você está bem com isso, mas você pode optar por sair, se desejar. Aceitar Leia Mais

Política de privacidade e cookies