Igualdade racial é tema da Festa da Literatura Negra
A luta por igualdade social será um dos principais temas da 5ª Festa do Conhecimento, Literatura e Cultura Negra (FlinkSampa), de 16 a 18 de novembro, na capital paulista. O evento, que cuja programação foi lançada terça-feira (12), é promovido pela Faculdade Zumbi dos Palmares e pela organização não governamental Sociedade Afro-Brasileira de Desenvolvimento Sócio-Cultural (Afrobras). Além dos encontros com escritores nacionais e internacionais, o festival terá contação de histórias, festival de curtas-metragens e um palco de samba.
Outro destaque da festa será o intercâmbio com autores de países africanos que falam português. “Eu acho que é o momento de ressaltar a necessidade de sermos lidos lá, de eles conhecerem os nossos autores e vice-versa, de uma interação mais produtiva, de uma expansão dessa identidade para além das fronteiras nacionais. Criar uma comunidade mesmo de países de língua portuguesa”, afirma a curadora Guiomar de Grammont. Entre os convidados estão o ensaísta Francisco Noa, de Moçambique, e o escritor Filinto Elíseo, de Cabo Verde.
A proposta de trazer temas atuais, como as relações da violência urbana e a desigualdade social é, segundo Guiomar, catalizar essas discussões na sociedade. “A Flink acorda a sociedade civil, levanta questões que iluminam a consciência em busca de um Brasil mais igualitário, da retomada das pautas que são essenciais para a população negra, que é maioria populacional, mas minoria de acesso”, enfatizou Guiomar, que assim definiu o mote da mostra: “eu quero liberdade”.
Temas sociais
A Flink deste ano homenageará a atriz Zezé Motta (Foto), que interpretou Xica da Silva no cinema, e o romancista e roteirista Paulo Lins, autor do livro Cidade de Deus, que inspirou o filme de mesmo nome.
Com Zezé, Paulo Lins e outros convidados, como o escritor Ferrez e o pesquisador Luiz Eduardo Soares, o festival pretende falar sobre temas ligados à situação da população negra no país. “Sobre as comunidades, sobre [o filme] Cidade de Deus, sobre essas realidades que estão apontadas ali: de exclusão e violência. E como a cultura e a educação podem ser as nossas armas para lidar com essas questões, para fazer com que o mundo se transforme”, ressalta Guiomar, ao falar sobre as possibilidades de discussão que a programação da Flink pretende abrir.
“Nós estamos lutando ainda para ter igualdade social e racial. A gente sabe que o Brasil é o país que mata mais negros no mundo, sempre matou. A gente sabe da guerra da escravidão. A gente sabe que hoje o negro ainda está no escalão baixo da sociedade: a guerra continua”, acrescenta Paulo Lins, ao comentar a posição social da população negra e a importância de uma produção cultural vinda desse lugar para a sociedade brasileira.
Para o escritor, a conquista de espaços como a Flink e o crescimento do número de artistas são frutos da luta social ao longo das últimas décadas. “Autores negros existem desde que o Brasil é Brasil. Mas, agora, com a luta que sempre existiu e vai continuar, muita gente negra está na literatura.”
Na opinião de Lins, as artes são uma forma de enfrentar a violência do racismo e disputar espaço na sociedade. “A cultura é amor, paz, reflexão, inteligência. E a gente quer igualdade social. Quando a gente faz isso, a gente fala que é uma luta, mas não é uma luta armada. Merecia uma luta armada, mas o amor é melhor. Então, a gente fazendo cultura é uma forma de dar um beijo para acabar com essa guerra”, concluiu.
DANIEL MELLO
Da EBN
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