As dez mais
JÊ FERNANDES – A morte do jornalista Gonçalo José Fernandes, neste início de semana, entristece as redações de Cuiabá. Jê era uma pessoa alegre, ativa, que fará falta ao jornalismo de Mato Grosso. Revivo As Dez Mais, com as quais ele ilustrou páginas de jornais e de sites, durante tantos anos.
ANOS 80 – Quando cheguei a Cuiabá, no final dos anos 80, para editar o Jornal do Dia, Jê Fernandes comandava a redação de O Estado de Mato Grosso. O Diário de Cuiabá, sob comando do Papazian, reinava na capital. A Gazeta era apenas um espermatozoide nos testículos do Dorileo Leal.
O DUELO – Passamos anos sem nos conhecer; eu e o Jê, duelando diariamente nas bancas de jornais. O Jornal do Dia sob a influência do grupo político do Dante e O Estado de Mato Grosso já sob o controle da família Campos. Sim, houve um tempo em que esses dois grupos eram inimigos figadais. Hoje Anterinho abraça Júlio Campos, como se não tivesse cuspido naqueles que chamava de caciques.
CORREIO DA SEMANA – Quem me aproximou do Jê foi o José Maia de Andrade, o Jota Maia, quando passei a frequentar a redação do Correio da Semana, naquele prédio da Mitra Diocesana, no centro, ao lado da Janina.
PLÊIADE DE JORNALISTAS – No Correio da Semana, além do Jê, conheci uma plêiade de velhos e competentes jornalistas, comandados pelo José Eduardo do Espírito Santo, Ronaldo de Castro, Vanderlei Meneguini e Marcos Antônio Moreira, o folclórico Villa. Zé Eduardo, Ronaldo e o Maia morreram antes do Jê, que sempre lembrava deles com saudade.
JORNAL DO ÔNIBUS – Foi na redação do Correio que Jê, inspirado pelo Meneguini, junto com Mara Carnevale, teve a sacada genial e criou o Jornal do Ônibus, feito para ser distribuído dentro dos coletivos, com notas curtas e bom humor. O sucesso foi fulminante e se sustentou durante anos. Eu nunca entendi como o Meneguini, um dos fundadores, acabou abandonando o projeto. O jornal se inviabilizou quando a Mara, que cuidava do comercial, também se cansou.
VACAS MAGRAS – Jê Fernandes viveu até o fim desse sucesso, o Jornal do Ônibus, ultimamente passado ao controle do JPM, João Pedro Marques. Sobrevivera durante muitos anos como uma espécie de panfleto, sustentado por diversos políticos. Aldo Locatelli foi um dos patrocinadores, num tempo em que o Jê estava feliz, pois trabalhava ao lado da bonitona Liz Ramalho.
O FIM – Ia escrever dez, mas meu espaço está acabando. Lembro que o Jê costumava falar da fila em que todos nós vivemos, esperando a hora de morrer. Ele deixou vivos jornalistas mais velhos do que ele. Furou a fila. Partiu cedo demais, esse amigo querido.
Enock Cavalcanti, jornalista, advogado e blogueiro, é editor de Cultura do Diário de Cuiabá
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