CURTAS – Prisão do ministro Goldman
Aos sábados, domingos e feriados nacionais CURTAS é substituída por capítulos do livro “Dois dedos de prosa em silêncio – pra rir, refletir e arguir“, escrito e publicado em 2015 pelo jornalista Eduardo Gomes de Andrade, sem apoio das leis de incentivos culturais. A obra foi ilustrada por Generino. Capa: Édson Xavier.
Capítulo:
Prisão do ministro Goldman
Em 1994, Alberto Goldman era ministro dos Transportes indicado pelo seu partido, o PMDB, e esteve em Rondonópolis vistoriando o recapeamento da Rodovia BR-364 no trecho compreendido entre as serras da Petrovina e São Vicente.
O ministro foi recebido pelo governador Jayme Campos (PFL) e por Carlos Bezerra (PMDB), prefeito da cidade e virtual candidato ao Senado.
Lances provincianos entre assessores de Jayme e Bezerra preocupavam a equipe do ministro, antes mesmo de seu desembarque no Aeroporto José Salmen Hanze, ao lado da BR-364.
Goldman desembarca e se vê enrodilhado por quatro braços: dois de Bezerra e, os demais, de Jayme. Um puxa pra lá, outro arrasta pra cá. O ministro, sem entender, vira marionete nas mãos dos anfitriões.
Bezerra arrasta o companheiro para um grupo de peemedebistas. Jayme se impacienta, agarra o visitante e o coloca diante dos holofotes da mídia oficial. Depois de muito beija-mão, de prosa política e da coletiva, Goldman finalmente se imagina livre para percorrer um trecho da obra.
O que parecia ser o começo da liberdade para Goldman se revelou em mais um suplício. Empurrado pelo Cerimonial do Palácio Paiaguás, o ministro aproximava-se do oficial do governador. Antes de entrar no carro, o grupo de Bezerra impediu a passagem do companheiro. No meio do empurra-empurra, a voz de Paulo Bezerra, irmão do prefeito anfitrião, determina:
– Por aqui, companheiro ministro. O senhor vai no carro do futuro senador Bezerra.
Agarrado por uns, puxado por outros, Goldman impacienta-se e faz valer sua autoridade. Grita que o deixem. Todos recuam. Vê uma viatura da Polícia Rodoviária Federal (PRF) próxima ao Veraneio e chama seu motorista.
– Qual seu nome e sua função? – pergunta ao policial rodoviário federal.
– Sou Santos, Pedro Santos, inspetor e chefe da PRF em Rondonópolis – responde com humildade o policial.
– Você já prendeu ministro alguma vez? – questiona Goldman.
– Nossa Senhora, Deus me livre, Excelência – responde o inspetor Santos em voz baixa e arrumando os óculos de lentes grossas.
– Pois então, está na hora de prender. Bote-me no seu camburão e vamos sair daqui, já – determina o ministro.
Goldman dispensa a carona de Bezerra e do governador. Entra na viatura do inspetor Santos, senta-se ao lado do inspetor, senta-se ao seu lado, bate a porta e imagina-se livre dos dois chatos.
Engana-se o ministro. Chato não se dá por vencido. Jayme e Bezerra sentaram-se no banco traseiro da viatura antes mesmo que Goldman se acomodasse ao lado do inspetor Santos.
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