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ITIQUIRA – Município pioneiro da soja e que teve o primeiro prefeito cassado em MT comemora aniversário

A cidade e o rio que lhe empresta o nome
A cidade e o rio que lhe empresta o nome

Itiquira completa 64 anos neste primeiro de dezembro.

Município na divisa com Mato Grosso, sua história se divide em dois ciclos econômicos: do diamante e do agronegócio. Mais: no plano estadual foi pioneiro no cultivo de soja e teve o primeiro prefeito cassado pela Câmara Municipal, por improbidade administrativa.

Com 8.659,91 km² entre as rodovias federais 163 e 364, Itiquira tem 12.789 habitantes.

Sua renda per capita de R$ 71.683,25 lhe confere a condição de 10º colocado em Mato Grosso e 91º no Brasil.

Seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,693 numa escala de zero a um atesta que sua qualidade de vida é parecida com a realidade nordestina – a cidade não tem tratamento de esgoto e quem paga o pato é o rio que lhe empresta o nome e que passa ao seu lado em sua descida para o Pantanal.

Sede de comarca e distante 140 quilômetros de Rondonópolis por rodovia pavimentada, Itiquira é cidade de vida pacata. Naquele município a vila de Ouro Branco do Sul à margem da BR-163 aos poucos ganha consistência urbana e sonha em se emancipar.

 

Diamante e prefeito cassado

 

Por volta de 1930, garimpeiros, sobretudo, da região de Alto Garças, estabeleceram frentes de caça ao diamante nas áreas denominadas Goiabeira e Cavouqueiro, nas imediações do ribeirão das Velhas. Para abastecer a população que trabalhava na extração, surgiu no local uma vila que recebeu o nome do rio que a banhava: Itiquira.

Ainda nos anos 1930, uma endemia de malária matou muitos dos garimpeiros que ali residiam.

BR-163 no município de Itiquira
BR-163 no município de Itiquira

A vila de Itiquira pertencia a Coxim (hoje Mato Grosso do Sul). Nessa condição foi elevada a distrito. Em 1938, passou a integrar o município de Alto Araguaia. Em tupi, “itiquir” significa água em abundância. O nome do município e do rio que banha a cidade deriva dessa palavra e foi alterado para melhor pronúncia.

Um dos referenciais de Itiquira é a fazenda Leopoldina, entre a cidade e a BR-364. Por décadas ela serviu de pouso para comitivas de boiadas que cortavam o cerrado da região. Por longos anos, sua proprietária foi a viúva Leopoldina de Pinho Carvalho, matriarca de uma das famílias mais importantes da região.

Seo Anfilófio de Souza Campos, não mais entre nós, conhecia a história de Itiquira na palma da mão. Incorrigível solteirão nascido em Santa Maria da Vitória (BA), que igual a todo bom garimpeiro do passado não dependia de casamento para ter filhos, teve dois: dona Maria Paixão, viúva do ex-prefeito Roberto Silva, e José Antônio, que o ajudava no posto de abastecimento de combustíveis do qual foi dono por décadas.

Anfilófio chegou a Itiquira em 18 de setembro de 1938, quando o garimpo era praticamente a única atividade na região. Sempre teve duas paixões: o diamante e a política. Pedra valiosa jamais pegou, mas em compensação, foi vereador em três legislaturas, vice-prefeito e prefeito por três anos em substituição ao titular, Melquíades Miranda, cassado em 1963 – ano em que foi empossado – por corrupção, por não repassar duodécimos à Câmara e não pagar salários aos servidores.

Melquíades era avó do prefeito de Rondonópolis, Zé Carlos do Pátio, que por sua vez também foi cassado, mas não pela câmara e sim pela Justiça Eleitoral, em 2012. No ano passado, quando exercia mandato de deputado estadual Pátio novamente conquistou a prefeitura.

Por 60 anos, o município de Itiquira viveu o boom do diamante. No começo da década de 1990, a exemplo do que aconteceu nas demais áreas garimpeiras, a extração sofreu drástica redução. Anfilófio dizia que nem mesmo nos anos 1940, 50 e 60, quando era intenso o fluxo de garimpeiros no município, havia violência. Segundo ele, a população vivia em paz, a mesma paz que a população desfruta hoje na Itiquira tranquila onde crianças brincam nas calçadas e velhos se reúnem nas portas das casas para bate-papos intermináveis.

Em 1942, quando o Brasil se preparava para enviar continentes da Força Expedicionária Brasileira (FEB) para a Itália, o Exército implantou uma pista de pouso na cidade e, paralelamente a isso, o governo construiu uma ponte de madeira sobre o rio Itiquira, cuja travessia até então era feita por uma balsa. Nos idos de 1940, 50 e 60, aviões da extinta companhia Real, faziam escalas em Itiquira, de um dos vôos da rota Cuiabá-Belo Horizonte.

 

Agronegócio

 

Itiquira foi a primeira área cultivada com soja na parte remanescente de Mato Grosso. Antes a leguminosa avançou pelo cerrado em Dourados, município que pertence a Mato Grosso do Sul, mas que à época era território mato-grossense.

O patriarca dos Maggi, André Antônio Maggi, iniciou sua atividade empresarial em Mato Grosso por Itiquira.

A multinacional francesa de pneus Michelin cultivou em Itiquira o segundo maior seringal contínuo do mundo; essa área foi comprada pelo Grupo André Maggi (Amaggi) e transformada em lavouras de soja, algodão e milho.

Favorecido pela altitude do Planalto Central, Itiquira é um grandes polos de produção de sementes de soja em Mato Grosso.

O trem da Rumo ALL (foto) apita em Itiquira desde novembro de 2012. O município tem um dos quatro terminais ferroviários de escoamento de commodities agrícolas para Santos. Alto Taquari, Alto Araguaia e Rondonópolis são os outros.

A produção agrícola de Itiquira é vendida para os quatro cantos do mundo. Em 2106 o volume exportado em soja, milho e algodão alcançou US$ 119,2 milhões (FOB) sendo os principais destinos a China seguida pelo Vietnam, Taiwan, Japão e outros 30 países. Entre janeiro e outubro deste ano sua economia exportou US$ 142,6 milhões (FOB) e em igual período em 2016 chegou a US$ 113,6 milhões (FOB).

 

Eduardo Gomes/blogdoeduardogomes

FOTOS:

1 e 2 – Eduardo Gomes

3 – Cairo Lustoza

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