Boa Midia

Barão de Melgaço (final)

 

Assumindo a Presidência da Província, Leverger tratou de organizar a Guarda Nacional, devido necessidade de proteção do território, em razão das frequentes fustigações do Paraguai. Fazendo-o de forma imparcial para evitar as disputas políticas já existentes desde aqueles tempos, a exemplo do 1º Batalhão da Capital – composto por 8 Companhias, dispondo por igual os oficiais entre os grupos políticos, dos quais 13 Conservadores e 13 Liberais. Hábil postura do Presidente, primando o interesse da defesa, apazigua contendas políticas, tinha leve tendência conservadora.

Leverger por decreto de 26 de janeiro 1852, passa a responder também pelo Comando das Armas da Província, em 03 de março foi promovido ao posto de Capitão de Mar e Guerra. Acirram-se as relações quando Carlos Antonio Lopez entrega o passaporte do Ministro brasileiro em Assunção… “por dedicar-se à intriga e impostura em ódio à pessoa do chefe supremo da nação paraguaia”. Isto era na verdade um pretexto para adiar a abertura da navegação do rio Paraguai, em decorrência, enfraquecer e distanciar Mato Grosso da Metrópole, e mais tarde a nossa invasão.

Seguindo sua ascensão na carreira militar em 2 de dezembro de 1854 Leverger foi promovido ao posto de Chefe de Divisão – hoje Contra-Almirante. O império inquietara-se com a evolução das beligerâncias, e ordenou ao Presidente que fizesse seguir para a fronteira do rio Apa e Forte de Coimbra, toda força disponível em Cuiabá e outros pontos, designando para tal tarefa oficial de sua total confiança. Justamente esse o local da fronteira litigiosa, posterior dos conflitos terrestres, como a Retirada de Laguna e houve atuação do guia Lopes. O presidente chamou a si a tarefa e parte em 1º de fevereiro de 1855 para o Forte de Coimbra, ali instalou a sede do governo com o fito de ficar claro a intenção, enquanto fosse necessário aos magnos interesses nacionais. Sendo o valor de Leverger reconhecido pelo próprio presidente paraguaio, impunha respeito e supunham estar fortemente preparados, quando na verdade havia “falta quase absoluta de recursos de guerra”, pois nenhuma ajuda providenciara nosso Império. Permaneceu na vigilância em Coimbra até 15 de novembro de 1856 – 22 meses, sendo uma das fases mais atribuladas de sua existência.

Parecia que no ano de 1856 reinaria a paz, e retornando Leverger para Cuiabá, reitera pedido de sua demissão do cargo de Presidente, quando em 1º de abril de 1857 assume Joaquim Raimundo Delamare. Fazendo-se em 28 de fevereiro de 1858, o “Bretão Cuiabano”, 1º Vice-Presidente da Província e substituto obrigatório; na ordem de Aviz foi promovido a Comendador.

Já não dispondo das forças de outrora, com 56 anos, recolhe-se em sua casa do Coxipó, obtendo a reforma em 6 de junho de 1859 no posto de Chefe de Esquadra – hoje Vice-Almirante.

Extinto o armistício negociado pelo Chanceler Silva Paranhos em 6 de abril de 1862, arregimentam-se forças na fronteira e Francisco Solano Lopez, já empolga o governo do Paraguai.

Volta Leverger ao trabalho, pois era afeito aos estudos cartográficos e da hidrografia, para coordenar e complementar a carta de Mato Grosso, partindo em 8 de abril de 1864 para Corumbá e Miranda!!! A comitiva, composta pelo Cap. Antonio Maria Coelho, 2 marinheiros, um serviçal e mais tarde se juntou o famoso guia Lopes, realiza levantamentos ainda em Nioac, colônias militares de Miranda e Dourados, Porto de Sete Voltas e rio Brilhante. Retornando por razões adversas do tempo para Cuiabá em 20 de novembro de 1864, e se afasta do que seria o epicentro da guerra que logo inicia em 13 de dezembro, com o tropel mortal da cavalaria lopesina.

Coimbra cai em mãos paraguaias em 28 de dezembro 1864, em 3 de janeiro de 1865 com a retirada, apesar de abrigar o comandante das armas, Corumbá estava dominada. Chegando em Cuiabá estas notícias em 7 de janeiro instaura-se o pânico geral, e fuga desordenada ao sertão. Resolve então o Presidente arregimentar forças e fazer a defesa em Melgaço, chegando as tropas em 16 de janeiro, e recebendo um falso alarde que as tropas paraguaias estavam na foz do Cuiabá, ao amanhecer o dia 18, haviam todos abandonados, e se entricheiram em Cuiabá. Leverger sendo informado da situação, ofereceu ajuda ao Presidente, logo nomeado Chefe da Esquadra, ainda Cmte. Superior da Guarda Nacional, reestimula a tropa, faz voltar para Melgaço, acalma a capital. Em 21 de janeiro, ele desembarca a tropa e o material trazidos de Cuiabá… “6 peças calibre 6”, com os mesmos expedicionários que timoratos, haviam deixados a posição, e voltam a defendê-la. Terminando o período das águas, ficou afastada a hipótese dos vapores subirem o rio, assim reconhece o Império a coragem de Leverger, decide conceder-lhe as honras de Barão de Melgaço. Seu brasão de armas confecionado pelo patrício Boulanger, possuí um rio de prata carregado de uma âncora acolhendo a divisaː “Sempre Prompto”, bem ressumia a história de vida e trabalhos. Conforme Visconde de Taunay em sua biografia – p. 146, foi Presidente da Província por 4 vezes.

Dentre inúmeras produções notáveis de A. Leverger, exsurge por ocasião do Tratado de Petrópolis – 1903, onde Joaquim Murtinho e o Barão de Rio Branco, impugnaram a sessão de terras às pretensões bolivianas, sem compensação alguma, foi prestado por uma carta de Melgaço.
O Almirante A. Leverger foi o antemural de Cuiabá e todo Brasil, que hoje sente a falta de vultos como o “Bretão Cuiabano”, expirou em 14 de janeiro de 1880, e descansa no Piedade!!!

 

Ubiratã Nascentes Alves, membro da AML – cadeira nº 1
ubirata100@gmail.com

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