Encontro debate sucessão familiar no campo
De cada 100 empresas familiares do agronegócio, apenas quatro conseguem chegar sob o comando da família em sua quarta geração. O dado foi apresentado pela professora da Fundação Dom Cabral (FDC), Juliana Gonçalves, responsável pela abertura do evento “Elas no Campo 2018”, que acontece nesta sexta-feira (15.06), em Cuiabá. Com o tema “Desenvolvendo Líderes para o Agro”, o encontro oferece conteúdo sobre Gestão e Governança, além de proporcionar a troca de conhecimento entre as participantes.
Cerca de 400 mulheres envolvidas com o segmento Agro acompanham o evento, realizado no hotel Gran Odara, número que foi comemorado pela diretora executiva do Grupo Valure, um das realizadores do evento, a coach e mentora de gestão Lorena Lacerda. “Foram oito meses de planejamento e preparação para apresentar aos participantes um conteúdo de ponta. O ‘Elas no Campo’ foi pensado justamente para proporcionar uma experiência única de aprendizagem e aprimoramento contínuo”, destacou.
Na abertura da palestra, Gonçalves trouxe números que demonstram a importância destas companhias no desenvolvimento do país. “Em todo o mundo, dois terços das empresas são de origem familiar. No agronegócio, esse percentual chega a 87%, o que dá a dimensão do assunto”.
Se chama a atenção o fato de que apenas 4% das empresas familiares ligadas ao agronegócio entram na quarta geração dos fundadores, o fato de que 70% deixam de existir ou ser controladas pela família que iniciou o negócio é um dado ainda mais alarmante. Uma análise dos motivos que levam à dissolução das empresas familiares aponta que seis de cada 10 ocorrem por dificuldades na relação entre os herdeiros. “Grande parte disso poderia ter sido evitado. Poder evitar significa tomar atitudes hoje que evitam os problemas futuros”, pontou Gonçalves.
PLANEJAMENTO DE SUCESSÃO – Entre os casos apresentados pela especialista está o de uma família em que as duas filhas do fundador do negócio moravam nos Estados Unidos e se viram à frente da companhia com a morte do pai. Ao chegarem ao Brasil, a intenção inicial delas era a de se desfazer da empresa e retomarem suas vidas no exterior. Entre as dificuldades encontradas por ela estava o fato de que toda a estratégia da companhia se foi junto com o fundador. Depois de meses de muito esforço, elas decidiram permanecer no Brasil e assumiram a empresa. “Assim como este caso, 55% das empresas familiares não fazem um planejamento de sucessão. O sofrimento destas meninas foi desnecessário, poderia ter sido evitado”, ressaltou a professora da FDC.
Um dos processos de sucessão mais bem sucedidos ocorreu com o empresário Jorge Gerdau. Entre o anúncio de seu afastamento dos negócios e a finalização do processo, explicou Juliana Gonçalves, foram necessários oito anos, período usado para a capacitação dos candidatos a sucessor dele no comando da empresa, para que eles pudessem demonstrar sua capacidade de gerir os negócios e que se legitimassem perante fornecedores, clientes e colaboradores. “E a escolha final, quando havia dois candidatos, não coube ao senhor Jorge, mas a um trabalho de consultoria externa realizado”.
Profissionalizar a sucessão passa pela criação de uma estrutura de governança que, entre vários aspectos, separa as figuras dos herdeiros, pessoas que possuem direitos sucessórios sob as empresas, mas não participam da gestão, e os sucessores, que além dos mesmos direitos dos herdeiros, são responsáveis pelos destinos das companhias. A professora da FDC salientou que é preciso criar ambientes específicos para as discussões de temas familiares, do patrimônio e da gestão. “Se não criarmos estes fóruns, fica muito complicado gerir o negócio”.
PROJETOS SOCIAIS – Vale destacar que a lucratividade do evento será revertida para projetos sociais. O encontro “Elas no Campo 2018” vai até às 18h no Espaço Ágora, em Cuiabá.
Redação com Assessoria
FOTO: Lucas Ninno
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