29 de junho: 39 anos de Paranaíta – Do café à geração de energia elétrica
Picadeiros, tratoristas, topógrafos, motoristas e os demais profissionais que trabalhavam para Ariosto da Riva, dono da Integração, Desenvolvimento e Colonização (Indeco), tiveram duas razões para comemoração com o chefe, em 29 de julho de 1979: o Dia de São Pedro e a fundação da vila de Paranaíta, que Ariosto planejara para centro urbano de um polo produtor de café e guaraná.
Ariosto quase sempre acertava. Mas na aposta sobre o tal polo deu com os burros n’água, porque no nascedouro a povoação perderia a identidade que lhe estava reservada. A razão é simples: a descoberta de ouro na região. Garimpeiros maranhenses, paraenses e não se sabe mais de onde invadiram as terras, reviraram o subsolo e mudaram cursos das águas em busca do metal mais cobiçado do mundo.
Potenciais compradores de terra recusavam as ofertas tentadoras de Ariosto. Os agricultores e pecuaristas que se mudaram para o lugar entraram em polvorosa. Tudo em Paranaíta era comprado e pago com grama de ouro. Na Boate Sombra da Mata e na concorrência a mulherada fazia festa madrugada adentro e garimpeiros lavavam o chão com cerveja. Malária. Assassinatos. Congestionamentos aéreos. Dinheirama correndo solta. Era um fuzuê. A vila, perdida num canto do imenso município de Aripuanã, divisa com o Pará, não tinha lei.
Em Cuiabá, na cúpula da Polícia Militar, coronéis brigavam longe da população civil para nomearem subordinados de sua confiança para a região. Era voz corrente que a PM fazia segurança nos garimpos à base de uma moderna derrama parecida com aquela dos idos da Inconfidência Mineira, com o pequeno detalhe que a entre aspas receita não chegava aos cofres do Estado.
Em meados da década de 1990 o ouro murchou, ficou difícil de ser garimpado e o presidente Fernando Collor complicou ainda mais as coisas com uma política nociva ao garimpo. Paranaíta entrou em declínio e o êxodo botou fim às vilas que lhe pertenciam.
Em 1995, com a garimpagem desativada, a população remanescente era de 15.255 residentes. Transcorridos 21 anos o número de habitantes é de 10.864 e a densidade demográfica é de 2,23 habitantes por quilômetro quadrados. Ou seja, no período a queda populacional foi de 28,79%.
O município faz divisa com o Pará e limites com Apiacás, Nova Monte Verde e Alta Floresta. Sua área é de 4.796,013 km². O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é de 0,672 numa escala de zero a um. O Produto Interno Bruto (PIB) é de R$ 881.350.000 e a renda per capita de R$ 81.433,04. Paranaíta não exportou nem importou em 2016.
A exemplo do que acontece em praticamente todos os municípios da região e na maioria em Mato Grosso, Paranaíta não faz captação nem tratamento de esgoto. O precário saneamento é feito por meio de fossas. De igual modo, também não tem aterro sanitário e o lixo é deixado a céu aberto num lixão.
A cidade aos poucos retoma o crescimento, mas ainda ressente. A malária de ontem sumiu, pelo menos na área urbana. A saúde melhorou e conta com um hospital particular conveniado com o SUS. Um matadouro garante a sanidade da carne consumida pelos moradores.
Empresários e instituições se uniram em Paranaíta para a construção da sede do fórum da comarca, que foi criada em 13 de abril de 2004 por uma lei de autoria do Tribunal de Justiça, aprovada pela Assembleia Legislativa e sancionada pelo governador Blairo Maggi.
A cidade tem acesso pavimentado pela MT-206. Parte do centro é pavimentada. A maioria dos terrenos urbanos tem escritura. Na zona rural o mosaico fundiário é bem capenga, mas o maior problema agrário foi resolvido: o Estado fez uma composição com os proprietários de uma área de 100 mil hectares (ha) regularizando a situação de aproximadamente 300 famílias de posseiros que a ocupavam.
O Projeto de Assentamento São Pedro, com 35 mil ha, na margem da MT-208 foi subdividido em 764 lotes, mas estima-se que o número atual de parceleiros não passe de 650.
Topografia acidentada. Invernadas com pedras. Aguada boa. Paranaíta é ideal à pecuária e tem um rebanho bovino com 425.419 cabeças de mamando a caducando. O ciclo do ouro findou-se, mas o garimpo não morreu de vez e aventureiros ainda arriscam a sorte no Garimpo Zé da Onça.
A maior usina hidrelétrica de Mato Grosso é a Teles Pires, no rio do mesmo nome, com capacidade para gerar 1.820 MW. Sobre esta UHE leia o tópico Energia, no segundo capítulo.
TACA – José Maria Pereira Luz é nome estranho em Paranaíta. Porém, se alguém se referir ao Goiano, a cidade em peso sabe quem é. Pioneiro no lugar e ex-picadeiro da Indeco, Goiano trocou de profissão em 1981 e se tornou garimpeiro de ouro. Malhou em ferro frio. Foi vítima da Taca na Paranaíta que não tinha juiz, promotor nem delegado. Apanhou e foi levado na carroceria de um caminhão caçamba para Alta Floresta por jagunços armados que retiravam garimpeiros das áreas reservadas pela Indeco para venda a agricultores.
Nome mais apropriado impossível: Taca é uma espécie de chicote e esse instrumento de tortura era usado pela jagunçada que expulsava garimpeiros na região de Alta Floresta, quando dos primórdios de sua colonização, para abrir caminho à venda de lotes rurais.
Em 2001, transcorridos 20 anos da Taca, ouvi o empresário Vicente da Riva, filho e sucessor de Ariosto da Riva dono da Indeco, que negou envolvimento do pai já falecido e da empresa com a Taca.
Goiano continua em Paranaíta com as marcas psicológicas da Taca, agressão que não tem paternidade. Filho feio não tem pai.
PS – Transcrito do livro “NORTÃO BR-163: 46 ANOS DEPOIS”, publicado em 2016 pelo jornalista Eduardo Gomes de Andrade, sem apoio das leis de incentivos culturais
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