82 ANOS – Poxoréu é o verdadeiro diamante na terra dos diamantes
Município criado em 26 de outubro de 1938, Poxoréu completa 82 anos. blogdoeduardogomes lhe rende homenagem .
Uma cidade onde a verdadeira moeda circulante era o diamante, onde tudo se comprava com essa que é a pedra mais desejada do mundo. Onde se lavava chão de cabaré com cerveja e se conquistava fortuna da noite para o dia. Esse lugar é a Poxoréu do passado, que agora, sem o garimpo tenta encontrar caminhos para sua gente.
Poxoréu tem 6874,158 km², emancipou-se de Cuiabá em 26 de outubro de 1938, localiza-se no polo de Rondonópolis e faz limites com Primavera do Leste, Dom Aquino, Jaciara, São Pedro da Cipa, Juscimeira, Rondonópolis, São José do Povo, Guiratinga, Tesouro, General Carneiro, Santo Antônio do Leste e Novo São Joaquim. É divisor das bacias do Tocantins e do Prata. No ontem, com sua riqueza, boemia, sexo e carteado Poxoréu viveu seu esplendor. Agora, mesmo aparentemente blefada, é o verdadeiro diamante na terra dos diamantes.
A cidade situa-se a 360 metros acima do nível do mar e dista 240 quilômetros de Cuiabá por rodovia pavimentada via Campo Verde (e em traçado alternativo exclusivo para veículos leves, via Campo Verde e Chapada dos Guimarães). Principais rios: Cumbuca e Sangradourozinho, afluentes do rio das Mortes, da Bacia do Tocantins; e Vermelho, Poxoréu, do Peixe, Paraíso e Areia, da calha do Paraguai da Bacia do Prata.
Sede de Comarca de Segunda Entrância, Poxoréu tem cinco distritos: Jarudore, Paraíso do Leste, Aparecida do Leste, Nova Poxoréu e Alto Coité. Nas últimas décadas o município registra taxa de crescimento populacional proporcional negativa motivada pelo êxodo de garimpeiros de diamante e por falta de mercado de trabalho para jovens, que também partem em busca do ensino superior. Entre o censo do IBGE de 2010 e setembro deste 2020 a população despencou de 17.599 para 15.916 habitantes.
Aventura do garimpo
Poxoréu surgiu na esteira do garimpo de diamantes. Desde o final do século XIX, aventureiros procuravam lavras nas altas cabeceiras do rio São Lourenço. Mas, somente em 1924, foram encontradas as primeiras gemas que se tornaram atrativos para o povoamento da região.
Em 24 de junho de 1924 os primeiros xibios foram encontrados. Em 29 daquele mês foi garimpado diamante com alto valor comercial em Poxoréu, e no calendário católico, aquele dia é consagrado a São Pedro. Daí a vila que surgiu em torno do garimpo recebeu o nome desse santo da Igreja Católica Apostólica Romana.
Em 1927, as casas de pau-a-pique e cobertas de palha da vila de São Pedro foram destruídas por um incêndio. Os moradores do lugar se transferiram para as fraldas do morro de Mesa – imponente elevação nas imediações de Poxoréu.
A nova vila, distante cerca de 30 quilômetros da extinta São Pedro recebeu o nome de Morro de Mesa, em alusão a um imponente elevado que servia de referência aos que se aventuravam na região nos primórdios de sua colonização. A ela, em 1929, o governo destinou uma área de 3.595 hectares, visando no futuro o surgimento de uma cidade. Posteriormente a denominação foi mudada para Poxoréu, até que uma lei de 7 de julho de 1968, a alterou para Poxoréo. O nome do município é variação da junção das palavras indígenas “Pô-cereu”, que significa água suja ou escura, ou ainda rio de água suja ou escura. “Pô” é água. “Cereu” é escura. Mais recentemente voltou a prevalecer a antiga nomenclatura: Poxoréu.
Área de garimpagem, Poxoréu foi palco de um sangrento enfrentamento no começo de sua formação. Um grupo de baianos matou 11 maranhenses, num dos episódios das contendas entre Morbeck e Carvalhinho.
De 1939, quando foi empossado o intendente Luiz Coelho de Campos, o coronel Luizinho (de patente comprada), até o começo dos anos 1960, Poxoréu era importante termômetro político de Mato Grosso. O ex-senador Louremberg Nunes Rocha, nascido na cidade, recorda que todos os candidatos a presidente da República, em 1950, visitaram o município e ali realizaram comícios.
Intendente, o cargo do coronel Luizinho, equivalia a prefeito. Era o nome que se dava ao encarregado de administrar um município, logo após sua criação, e até a posse do primeiro prefeito eleito.
Nos anos 1940, 50 e 60, a elite econômica e os novos ricos do garimpo de Poxoréu usavam o avião como meio de transporte. A rota Cuiabá-Belo Horizonte-Cuiabá, operada pela extinta companhia Real Aerovias, fazia escalas na cidade com seus modernos bimotores DC-3. O município vivia um período de opulência no ciclo do diamante.
Nas décadas de 1960 e 70, quando a tesouraria da agência do Banco do Brasil não dispunha de numerário para grandes saques, então comuns, o gerente recorria a um velho conhecido de todos, Prisco Menezes, um ex-garimpeiro que se tornou milionário emprestando dinheiro a juros.
Localizada numa área acidentada, espremida entre morros e o rio Poxoréu, a cidade – que por meio século ostentou o título de “Capital dos Diamantes” – é uma sequência de ruas sinuosas permeadas por ladeiras. Os garimpos se espalhavam pelo município. A princípio, a extração do diamante na periferia e na zona urbana, em Alto Coité, Raizinha e por onde mais se possa imaginar, era feita por meia-praça – garimpeiro mantido por um sócio capitalista e, que dividia com esse o resultado de seu trabalho. Depois, apareceram as dragas, que deram cunho mais empresarial à atividade.
Por volta de 1980, com os primeiros sintomas da exaustão do diamante, levas de garimpeiros migraram para Juína. No auge do garimpo – estimava João de Barro, antigo morador de Alto Coité –, seis mil aventureiros de todos os cantos do Brasil arriscavam a sorte em Poxoréu.
Em meados da década de 1990 o diamante se escafedeu e o pouco do que resta enfrenta o travamento do Ibama. Sem garimpo, não há onde trabalhar. Por isso, há silencioso e permanente êxodo em busca de oportunidades. Muitos fazem as malas e se mandam para Primavera do Leste e Rondonópolis, onde mão de obra ociosa é igual fantasma – pode até existir, mas ninguém vê.
Uma rua chamada Bahia
Empurrada pela dinheirama de garimpeiros que bamburravam, nenhuma zona boêmia ganhou tanta fama em Mato Grosso quanto a Rua Bahia, no centro de Poxoréu. No começo dos anos 1970, quando o garimpo estava no auge, mais de 20 boates mantinham acesas suas luzes vermelhas, com suas vitrolas no volume máximo ou ao som do maestro Marinho Franco. Em frenesi, as mulheres dispostas a tudo, com suas roupas provocantes e carregadas com maquilagem que realçava a beleza e escondia a feiura.
O coração de Poxoréu batia mais forte na Rua Bahia, onde garimpeiros endinheirados lavavam o chão dos cabarés com cerveja Brahma gelada e pagavam o doce sabor do sexo com a moeda mais forte e conhecida por todos: o diamante.
À noite a Rua Bahia fervilhava; na madrugada, mais ainda. Onde se garimpa diamante a criminalidade é zero ou quase isso, ao contrário das praças das fofocas do ouro. Com sua riqueza, seu sexo, sua farra e seu jogo, Poxoréu foi paraíso.
Quando o último boêmio saía do cabaré e as portas e janelas se fechavam no salão silencioso e impregnado pelo azedume da cerveja e do conhaque derramados, Poxoréu retomava o garimpo, para mais tarde, tão logo o sol se pusesse, voltar a viver gostosa noite de orgia.
As mulheres da Rua Bahia conviviam bem com a população e embarcavam para Cuiabá ou Rondonópolis nos ônibus da empresa Baleia junto com os demais passageiros. Normalmente saíam em pequenos grupos para as compras na “Loja Para Todos”, do Bartolomeu Coutinho, o Bartô, em outros pontos do comércio ou em busca de uma agulhada de Benzetacil na farmácia de seo Amarílio de Britto, pra curar incômoda gonorreia. Algumas, mais atiradas, entravam na Matriz São João Batista, para preces a Jesus, o Senhor que perdoou Madalena, e onde, em 1972, o missionário italiano Attilio Giordani deixou seu coração sob o altar, ao fechar os olhos para sempre. Os rufiões também se misturavam ao povo, entre os coronéis das quengas, fazendeiros, comerciantes, estudantes, recatadas senhoras, crianças, velhos e os demais que bebiam água. O Cine Roma elas conheciam somente pelo lado de fora, porque a exibição dos filmes coincidia com o horário do trabalho da profissão mais antiga do mundo.
Sem o diamante, a Rua Bahia morreu. Seus cabarés viraram ruínas e as pedras de seu calçamento não escutam mais os ais do prazer, ouvem apenas o cortante silêncio sepulcral de uma triste cidade sem garimpo, sem zona boêmia, sem rumo.
Mesmo que a cidade retome sua movimentação, dificilmente a Rua Bahia ressuscitará. O sexo perdeu o quê de boemia, ganhou espaço entre a juventude com sua parafernália nas redes sociais. O casamento já não é mais o mesmo. A vida mudou. Falta agora a mudança de Poxoréu, ou melhor, seu reencontro com a vitalidade econômica para que seu povo tenha melhor qualidade de vida e sua força de trabalho encontre o que fazer perto de casa.
Garimpo não era a única aventura em Poxoréu. Para o paulista Jubal Martins da Siqueira, ex-vereador e ex-pecuarista já falecido, em nenhum lugar do mundo se joga tanto quanto em Poxoréu. O jogo a que Jubal se referia é o baralho, mesmo. São muitos os tunguetes e casas onde as cartas correm soltas madrugadas adentro.
Jubal era falante sem perder a verdade nem abrir mão da seriedade. Em 1969, ele construiu na fazenda Lidianópolis, de sua propriedade, a primeira piscina da zona rural de Poxoréu.
A cidade ganhou projeção nacional por seu anual Encontro Nacional de Violeiros, que é um dos principais palcos brasileiros para apresentação dos mestres desse instrumento de cordas, que é uma das paixões da população, principalmente das mulheres e homens que vivem na zona rural ou nas pequenas e médias cidades. Quando do Encontro a cidade recebe bom fluxo turístico, e muitos poxorenses que residem em outras localidades aproveitam o evento para voltarem às suas origens, ainda que por um curto período.
Pioneirismo no fumo
Antes da piscina de Jubal, em 1966, chegou ao distrito de Paraíso do Leste o mineiro descendente de italianos, José Nalon, acompanhado por familiares, e iniciou ali, naquele ano, o plantio da primeira grande lavoura de fumo para a indústria tabagista, que se tem registro em Mato Grosso.
O pioneirismo dos Nalon não parou por aí. Trinta anos depois, Manoel Nalon, filho do fumeiro, liderou um movimento que resultou na implantação da cultura do maracujá no município.
Diversificação econômica e personagens
Parte do município, no eixo da BR-070, é aproveitada para a agricultura mecanizada. Nas regiões acidentadas, a pecuária é o destaque. O boom do diamante passou e a economia se diversificou. O assoreamento, pelo garimpo desordenado impede a geração de energia na pequena central hidrelétrica José Fragelli, que foi construída pela extinta Rede Cemat, no rio Poxoréu, nas imediações da área urbana.
A cidade perdeu o quê de aventura e lirismo que viveu até os anos 1970, quando o Posto Texaco, de Irmãos Oliveira, patrocinava horários nobres do serviço de alto-falante “A voz de Poxoréo”; e quando os ônibus da Transportes Baleia trafegavam pela MT-130, que não passava de um canudo de poeira rumo a Rondonópolis.
Hoje, o Balneário da Lagoa reúne moradores e visitantes nos finais de semana. Em Cuiabá, a comunidade ausente de Poxoréu se reúne numa casa montada exclusivamente para o congraçamento daqueles que por uma ou outra razão vivem fora do município.
A cidade nasceu com a chegada de gente de todos os cantos, sobretudo do Nordeste, Goiás e Minas Gerais. Com o passar dos anos criou-se uma sociedade local, formada por filhos e netos dos primeiros moradores. Hoje, a esse universo somam-se os que migraram do Sul do país em busca de campos para a agricultura mecanizada.
Poxoréu é um imã. Assim a definia o médico e ex-prefeito Antônio dos Santos Muniz, já falecido. Ele não estava errado nessa afirmação. Exemplo disso podia ser encontrado em Joaquim Nunes Rocha, o Rochinha, um tocantinense filho de maranhenses, que chegou jovem ao município e de lá nunca mais saiu enquanto viveu. Rochinha, a princípio, era farmacêutico. Depois, ingressou na política, foi vereador, prefeito (1951/55), deputado estadual e deputado federal. A longa militância na vida pública não o impediu de se submeter a dois vestibulares, ser aprovado em ambos e se formar em Direito e Letras.
Os primos Lindberg e Lucas Ribeiro Vilela protagonizaram um episódio talvez inédito na política nacional. Prefeito de 1970 a 73, Lindberg, filho de Rochinha, desejou permanecer no cargo por mais um mandato consecutivo. Não havia a figura da reeleição. A saída para Lindberg foi lançar Lucas candidato à sua sucessão. Eleito, o parente deixou as chaves da prefeitura e junto com elas uma procuração com plenos poderes ao seu antecessor. Essa situação perdurou ao longo do mandato.
Até 1949, a ligação de Poxoréu com Rondonópolis era feita por uma estrada vicinal até a BR-364, no local conhecido por Pensão Seca (KM 300 da BR-163/364). Cansado de esperar pelo governo, que não se interessava pela estrada para Rondonópolis, o mineiro Jacinto Silva rasgou 86 quilômetros de cerrado e mata ligando as duas localidades; nascia assim a rodovia MT-130. A obra se arrastou por um ano e meio. Jacinto aproveitou antigas trilhas e picadas.
No governo Júlio Campos (1983/86), Mato Grosso pavimentou os 86 quilômetros da MT-130. Para homenagear o ex-prefeito de Poxoréu e ex-deputado estadual Osvaldo Cândido Pereira, o Moreno, já falecido, o governador denominou a obra de “Rodovia Deputado Osvaldo Cândido Pereira”.
CULTURA – Poxoréu foi importante centro de extração de diamante e sua pecuária é uma das mais destacadas de Mato Grosso. Mas, nem somente de economia vive o município. O aspecto cultural nunca foi relegado e o ponto de encontro de escritores, intelectuais e pensadores é a União Poxorense de Escritores (UPE). Um de seus escritores mais conhecidos é o professor Gaudêncio Amorim.
MULHERES – Em 2012, pela primeira vez, Poxoréu elegeu mulher para a prefeitura. Jane Maria Sanchez Lopes (PSD) conquistou a prefeitura tendo em sua chapa enquanto candidata a vice-prefeita Lena Glória Varanda Ventresqui Guedes (PT); a vitória de Jane não é conquista isolada das mulheres, porque ela pertence a uma família com tradição política no município – os Rocha do clã de Rochinha.
Eleição de prefeita e vice-prefeita na mesma chapa é feito raro no Brasil.
Eduardo Gomes de Andrade – blogdoeduardogomes com partes do LIVRO 44, publicado em 2014, sem apoio das leis de incentivos culturais, pelo autor desta matéria
FOTOS:
1 e 7 e 10 – Eduardo Gomes
8 – Gabinete de Comunicação do Governo de Mato Grosso
9 -Marcos Negrini
11 – Júnior Magalhães
Meu caro Eduardo, como sempre usa o seu imenso talento para nós presentear com excelentes reportagens como esta, onde se prestigia o interior do Estado já esquecido pelas novas gerações. Como coitense que sou fico lisongeado. Que Deus te guie e proteja sempre. Um grande abraço.
Renato Nery – advogado em Cuiabá – ex-presidente da OAB/MT
Eu tenho uma AMADA fazendo aniversário hoje!! PARABÉNS!!
Elizabeth Meira -Jornalista – Poxoréu – Via Facebook
Pitadinhas de Fé Força Coragem e Perseverença… Parabéns Poxoréu
Joselita Alcântara – Psicóloga Terapêutica Comportamental Cognitiva na empresa Liberdade Psicologia Clínica – Cuiabá – Via Facebook