Nós vivemos em sociedade onde temos um pacto de convivência pacífica, pois esta é a forma mais segura de se viver em comunidade. O casamento, por exemplo, sem levar em conta o amor a paixão, é um pacto em que duas pessoas resolvem, mediante condições, consolidar uma união. Meu amor, eu te amo, mas assina aqui este contrato para coroar a nossa relação! A união estável é um contrato tácito com as mesmas condições de um casamento de união parcial. Enfim, a segurança transcende a paixão e ao amor.
As pessoas têm as suas necessidades, aspirações e conveniências. E tudo que se faz observa estes e outros parâmetros. Enfim, nada é impensado. A convergência de interesses é que estabelece as relações, sejam elas quais forem.
A vida dos outros não é da conta de ninguém! É temerário censurar as outras pessoas pelas suas opções, até por que não se sabe inteiramente as suas motivações. Entretanto, a maledicência pode estar por trás de apressados os julgamentos. Onde já se viu aquele cantor ou ator de quase 80 anos com uma menina de 27! Isto é um absurdo! Aquela velha devassa somente se interessa por garotos! Ela pode ser mãe daquele menino!
Este outro que gosta de homem e aquela vaca que gosta de mulher!
Não é incomum viúvos ou divorciados se casarem com mulheres bem mais novas. Certamente eles vão morrer antes e as mulheres que vão ficar com a integralidade ou a metade de uma rica pensão ou endinheirados que fazem coisa parecida, se isto atende aos seus interesses e conveniências. Afinal não se deve ter nada contra a redistribuição de renda e nem como ela se dá. Muito menos censurar as pessoas que assumem a sua sexualidade que é um assunto privado que somente diz respeito aos envolvidos. A vida dos outros somente interessa a eles. Afinal cada um chora por onde sente saudade, como afirmou o Juca Chaves.
Qualquer situação destas, fora dos padrões aceitos, parece ridícula. Entretanto, ao nos observarmos no espelho é capaz de encontrarmos um ridículo a mais, com vontades secretas e com receio de se expor.
Eu conheço a história de um viúvo que se casou de novo com uma mulher bem mais jovem, com o compromisso desta, depois da sua morte, dar a metade da pensão para manutenção de sua filha paraplégica. E a nova viúva vem cumprindo com o prometido. Enfim, existe mais razões entre o céu e a terra do que julgamentos apressados e os falsos moralismos.
A vida seria bem melhor e mais leve se cada um cuidasse da sua e deixasse julgamentos para juízes togados, em casos concretos, com a ampla defesa e a garantia do contraditório.
Renato Gomes Nery – Advogado em Cuiabá e ex-presidente da OAB/MT
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