Eduardo Gomes
@andradeeduardogomes
Alcides Zimignani somente na surrada Carteira de Identidade. Para todos em Alto Boa Vista ele era o Gaúcho Feio. Suas mãos calejadas, a pele esturricada pelo sol do Araguaia, a cabeleira debaixo de um chapéu preto, a longa barba descuidada, a roupa simples e seu inseparável Jeep que somente funcionava por milagre de São Cristóvão e pelo botijão de 13 kg de GLP sob o capô, que era seu combustível. No começo de 2012 Gaúcho Feio esteve a um passo da depressão temendo a desintrusão pois seu lote se situava na parte da fazenda Suiá-Missu, que a birra ambiental queria transformar na Terra Indígena Marãiwatsédé, dos xavantes. Em 12 de dezembro daquele ano a soldadesca invadiu e destruiu sua casa. Com a família Gaúcho Feio foi para a sarjeta em Alto Boa Vista juntamente com quase cinco mil expulsos de Suiá-Missu.
Gaúcho Feio é uma das formas de mostrar que os gaúchos entre nós formam uma comunidade eclética, com alguns produtores rurais milionários e até bilionários, mas nem por isso sem peões, operários, trabalhadores rurais e muitos em situação análoga ao que viveu Gaúcho Feio.
Com o Rio Grande do Sul arruinado pelo destempero climático, é preciso mostrar os laços umbilicais entre Cuiabá e Porto Alegre e vice-versa. Também é o momento para esclarecer a conduta do governador Mauro Mendes diante da tragédia que ceifou vidas, destruiu moradias e rodovias, que arrastou pontes, inundou hospitais e escolas, derrubou igrejas e varreu bairros inteiros. É um momento para mostrar a brava gente dos pagos gaúchos, que trouxe vida, desenvolvimento e alegria para a Terra de Rondon que acolhe tão bem todos que a procuram. Mauro Mendes anunciou em 6 de maio que Mato Grosso destinaria 50 milhões de reais em doação para socorrer as vítimas da tragédia.
A força das águas arrancou muito, menos o sonho dos que vivem nas regiões alagadas. O sol há de brilhar no Rio Grande do Sul para os parentes, amigos e conhecidos dos que um dia pegaram a BR-163 rumo ao Eldorado e que pelo caminho cruzaram seu torrão, Santa Catarina, Paraná e a área que mais tarde deixaria de ser Mato Grosso para se tornar Mato Grosso do Sul.
No emblemático ano de 1970 começou o fluxo migratório gaúcho. Com Adão Mariano Salles Riograndino, na fazenda São Carlos, em Rondonópolis, Mato Grosso cultivou sua primeira lavoura de soja. Também em Rondonópolis o agrônomo e pesquisador Valter José Peters desenvolveu importantes experimentos para melhorar a produtividade e reduzir o ciclo de produção da soja. Daquele município a leguminosa espalhou-se e virou pilar da economia rural do Centro-Oeste.
A ousadia do pastor Norberto Schwantes fundou Canarana, Água Boa, Querência, Terra Nova do Norte e Nova Guarita; André Maggi semeou Sapezal; Otávio Eckert, Campo Verde; Guilherme Meyer, Porto dos Gaúchos; Antônio Domingos Debastiani, Feliz Natal; e Henrique Lopes de Lima, o Gaúcho, a vila Gaúcho à margem da BR-163 em Guarantã do Norte, na divisa com o Pará.
O vice-governador de Mato Grosso é o gaúcho Otaviano Olavo Pivetta, empresário do agronegócio e uma das vozes mais importantes desse segmento no Brasil. Pivetta esteve à frente de um grupo de empresários do agro, que pediu essa doação, que deverá ser sacada do saldo do Fundo Estadual de Transporte e Habitação (Fethab) que é pago por produtores rurais e pecuaristas.
Mulher bonita, vibrante e independente, Nelci Capitani foi a primeira prefeita de Colniza e mais tarde voltou ao cargo. A professora Silda Kochemborger, em Apiacás, foi a primeira prefeita reeleita em Mato Grosso.
Os gaúchos administram prefeituras em todas as regiões: Andréia Wagner é prefeita de Jaciara, Rafael Machado (Campo Novo do Parecis), Mariano Kolankiewicz (Água Boa), Nelson Antônio Paim (Poxoréu), Irineu Marcos Parmeggiani (Campos de Júlio), Orlei José Grasseli, o Graxa (Ipiranga do Norte), Moacir Luiz Giacomelli (Vera), Antonio Magini, o Toni (Novo Mundo) e José Lair Zamoner, o Zeca (Nova Guarita).
Em mandatos anteriores eles também controlaram prefeituras: Germano Luiz Zandoná (Água Boa), Gaspar Domingos Lazzari (Confresa), Erico Piana (Primavera do Leste), Vilson Pires (Paranatinga), Valter Miotto Ferreira (Matupá), Selso Lopes de Carvalho (Água Boa), André Maggi (Sapezal), Dilceu Rossato (Sorriso), Adriano Pivetta (Nova Mutum), Dimorvan Alencar Brescancim (Campo Verde), Nagib Elias Quedi (Luciara), Nelson Lehrbach (Nova Monte Verde), Otaviano Pivetta (Lucas do Rio Verde), Zanete Cardinal (Rondonópolis), João Cesar Borges Maggi (Sapezal), Antônio Domingos Debastiani (Feliz Natal), Sérgio Benetti (Nova Brasilândia), Silda Kochemborger (Apiacás), Sérgio Costa Beber Stefanelo (Campo Novo do Parecis), Osmar Rosetto (Nova Ubiratã), Euclésio José Ferreto (Santa Terezinha), Evaldo Osvaldo Diehl (Canarana), Ernane José Sander, o Nani (Itiquira), Vilceu Marchetti (Primavera do Leste), Claudemir Morisso, o Mire (Nova Canaã do Norte), Fausto Aquino Azambuja Filho (Luciara), Jesur José Cassol (Campo Novo do Parecis), Hélio Antônio Filipin Goulart (Guiratinga), Ademar Wurzius, o Lagoa (Nova Brasilândia), José Hélio Ribeiro da Silva (Novo Mundo), Ademir Gaspar de Lima (Jaciara); Flori Luiz Binotti (Lucas do Rio Verde); Milton Geller (Tapurah); Lírio Lautenschlager (Nova Mutum); Marilsen Marques Moraes (Comodoro); Roberto José Morandi (Santa Rita do Trivelato); Gilmar Reinoldo Wentz (Querência); José Odil da Silva (Campos de Júlio), Luiz Umberto Eickhoff (Tapurah), Alessandro Nicoli, o Niki (Vera), Milton José Toniazzo (Terra Nova do Norte), Rudimar Nunes Camassola (Santa Carmem) e Olídio Pedro Bortolas (Vera).
Serys Slhessarenko e a juíza de direito do Tribunal de Justiça Selma Rosane de Arruda foram as únicas eleitas ao Senado em Mato Grosso. Entre elas, em comum, o sangue gaúcho. Para a Assembleia Legislativa em diferentes legislaturas foram eleitos os gaúchos Faissal Calil, Otaviano Pivetta, Zanete Cardinal, Beto Dois a Um, Serys Slhessarenko, Antônio Schommer, Ademir Brunetto e Jayme Muraro.
Os gaúchos deixaram de ser uma colônia e assumiram parte da composição populacional mato-grossense, incorporaram costumes aos do povo local, trouxeram sua música, danças, jogos e expressões. Os centros de tradições gaúchas dispersos em todas as regiões são verdadeiras embaixadas do Rio Grande do Sul, sem que suas prendas e peões deixem de ser também mato-grossenses. É assim no CTG Saudade da Querência, em Rondonópolis; CTG Última Fronteira, em Guarantã do Norte; CTG Coração Gaúcho, em Água Boa; Velha Querência, em Cuiabá; Estância da Amizade, em Sinop; e no Sentinela da Tradição, de Lucas do Rio Verde.
Nas mais diversas atividades os gaúchos estão e estiveram presentes em Mato Grosso. Não é possível citá-los no todo, mas dentre eles, no ontem e no hoje, Ari Zandoná, Nelcindo Iappe, Inácio Roberto Luft, Isabel Zandoná, Rejane Schneider Garcia, Airton Iappe, Celso Tura, Herculano Lorenzon e Edilson Pedro Spenthof, em Água Boa; Orlando Roewer, Marlei Bier, a Nega, Neldo Egon Weirich, Marcos da Rosa, Elmo Gall e Rafael Govari, em Canarana; Anacleto Ciocari, Sérgio João Marchetti, Eloi Vitório Marchett, Reni Motter, Antônio Carlos Machado Araújo, José Carlos Machado Araújo, Brandão Araújo Filho, Luiz Carlos Straliotto, Luzia Maggi Scheffer, Paulo Laerte de Oliveira, Cléo Renato Santos de Campos, Elmo Bertinetti, Monica Marchett, Jones Antônio Pagno, Edson Ceretta, padre José Egon Gebert, o padre Zezinho, Paulo Taborda, Norma Rampelloto Gatto, Carlos Ernesto Augustin, o Teti, Afonso Dalberto e Patrícia Casali, em Rondonópolis; Luiz Maria Salamoni, em Barra do Garças; Santo Scaravelli, Luiz Antônio Pagot, general Flávio Oscar Maurer, João Pedro Marques, Fernando Parracho, Júlio Valmorbida, Eraí Maggi Scheffer, Léo Gonsaga de Medeiros, Baltazar Ulrich, Luiz Carlos Tóffoli, o Gaúcho e Clóves Vettorato, em Cuiabá; Ricardo Arioli Silva e Sílvio Sommavilla, em Tangará da Serra; Odílio Balbinotti e Celso Greisang, em Alto Garças; José Almir da Silva, Ana Carolina Zarth, Acácio Weirich, Arlondo Lazzareti, em Terra Nova do Norte; Otaviano Pivetta, Rogério Pivetta Ferrarin, Helmute Augusto Lawisch e Neri Geller (Lucas do Rio Verde); Alcindo Uggeri e Luiz Carlos Ferreira Bernardes em Nova Mutum, Aumeri Carlos Bampi, Plínio José Callegaro, Márcio Uhde, Eurydes Ceni, Dom Gentil Delazari e Arlindo Bellincanta, em Sinop; Aparício Cardozo da Roza, em Juara; Hildo Cezar Dallapria e Silvestre Caminski, em Itanhangá; Gilberto Eglair Possamai, o Beto, em Sorriso; Endrigo Dalcin, em Nova Xavantina; Egídio Raul Vuaden, em Matupá; José Sadi Miranda Soares, em Santa Cruz do Xingu; Adelar Tafarel, em Santo Antônio do Leste; e Aldir Schneider, em Sapezal, respondem pela argamassa que levanta os alicerces sociais e econômicos mato-grossense.
50 MILHÕES – Na quarta-feira, 8, em regime de urgência o governo estadual propôs a destinação de um recurso de 50 milhões de reais extraidos da receita do Fundo Estadual de Transporte e Habitação (Fethab) para socorrer o Rio Grande do Sul. A Comissão de Constituição, Justiça e Redação presidida por Júlio Campos (União) deu parecer unânime favorável à sua tramitação. Na sequência o plenário da Assembleia Legislativa aprovou o pedido por unanimidade.
Ao anunciar o parecer Júlio Campos cobrou ajuda por parte dos grupos empresariais do agronegócio e dos bilionários da soja. Sem citar nomes lembrou que entre eles (os bilionários) há quem torra dinheiro com time de futebol e festas familiares milionários. Pediu que eles botem a mão no bolso, “Que sacudam”.
A votação do pedido de ajuda levou deputados a depoimentos sentimentais. O paranaense Valmir Moretto (Republicanos) revelou que é filha de uma gaúcha. Sua mãe, a senhora Carmem Pradela Moretto está entre os que trocaram a região Sul pela aventura de participar da colonização mato-grossense e mudou-se para Nova Lacerda, onde Moretto foi prefeito em dois mandatos consecutivos.
REFLEXÃO – A tragédia atingiu o Rio Grande do Sul em 29 de abril e até o dia 6 deste mês de maio Mauro Mendes permaneceu em silêncio, limitando-se a enviar um helicóptero da Polícia Militar tripulado e 11 bombeiros militares com duas cadelas de busca, em socorro aos sulistas. No dia 6 sob forte pressão politica, de produtores rurais e dirigentes de entidades do agronegócio, o governante cedeu. Entre quatro paredes o pressionados e os pressionadores chegaram ao montante de 50 milhões. Não vejo na decisão de Mauro Mendes ato digno de elogios. O princípio federativo, a sensibilidade humana e os laços afetivos que unem os dois estados impõem uma ajuda efetiva.
Paralelamente ao ato do governador aprovado pela Assembleia, entidades, CTGs, emissoras de rádio e televisão e pessoas jurídicas doam e arrecadam alimentos. Em Sinop, no final da semana passada, o CTG Estância da Amizade recebeu 70 toneladas de alimentos doados pelo povo sinopense. Na sexta-feira, 10, um comboio de carretas com doações parte de Rondonópolis para Porto Alegre.
Para facilitar o transporte das doações a Secretaria de Estado da Fazenda (Sefaz) liberou a passagem dos carregamentos sem necessidade da cobertura por nota fiscal.
Em suma o coração do Rio Grande do Sul bate em Mato Grosso.
Só nos resta chorar, ajudar e trazer de volta a esperança do fundo d’alma
Carmem Bruder – Psicanalista em Goiânia e pecuarista em Cocalinho – grupo de WhatsApp Boamidia
Bela matéria
Selso Lopes de Carvalho – advogado e ex-prefeito de Água Boa – grupo de WhatsApp Boamidia
Lido e compartilhado. Muito obrigado pelas citações
Airton Iappe – radialista e jornalista em Água Boa – grupo de WhatsApp Boamidia
Brigadeiro somente você para nos brindar com uma matéria de tamanha qualidade assim
Agradeço a sua homenagem na sua matéria, talvez eu nem mereça, mas ficquei honrado em estar ao lado de tantos gaúchos importantes
Aparício Cardozo Roza – jornalista e ex-vereador em Juara – grupo de WhatsApp Boamidia
Qual lindo. Muito obrigado.
Empresária Norma Rampelotto – Rondonópolis – Facebook
Meu querido Brigadeiro sou sua fá de carteirinha e lendo este texto tive vontade de sair por ai gritando bah, tchê.
Izaura Maria – Rondonópolis – WhatsApp