Reforma agrária de travesseiro ajuda matar o Pantanal

Eduardo Gomes

@andradeeduardogomes

Transpantaneira – o Pantanal era assim …

Vida na água. Vida no ar. Vida na terra. A explosão de vida com a exuberância da fauna e da flora é página virada no Pantanal, o bioma brasileiro mais violentado nos últimos anos Não é preciso queimar pestana para encontrar os responsáveis, que são visíveis, palpáveis, poderosos e estão impune entre nós. Além deles, contra a chamada maior planície alagada do mundo ainda pesa um quesito até então nunca abordado, mas que é extremamente nocivo àquela  região que se estende a Mato Grosso do Sul, Bolívia e Paraguai, e sobretudo ao  seu principal elemento – o homem pantaneiro.

… Assim e ….

O quesito é a reforma agrária de travesseiro, aquela que transfere a propriedade rural do avô para o pai e do pai ao filho. Nas últimas três, quatro décadas, jovens pantaneiros partiram para a cidade em busca da faculdade. Formados, no exercício de profissões liberais ou agarrados às tetas dos poderes, perderam o vínculo com suas origentes, viraram xomanos cuiabanos deixando na curva da memória o berço pantaneiro, aquele que no dia a dia da sabedoria pantaneira ensina como lidar com a terra, com bichos, os ciclos das águas, com o boi bombeiro.

Assim, mas…

As gurias e os guris pantaneiros romperam seus elos de naturalidade. Os pais, envelhecidos, vencidos pelo implacável relógio biológico, venderam suas terras para investidores sem nenhuma identidade com o Pantanal. Os novos donos chegaram com suas sofisticadas máquinas agrícolas, seus tablets, celulares, com os conceitos da agricultura de precisão. Essa gente estranha que nem sabe o que é agora quãndo! Ou quequeesse! E não é capaz de distinguir entre um tuiuiú e um colhereiro, nem difere um carandá de um pau de novateiro ou até mesmo um Cavalo Pantaneiro de um pangaré.

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O esvaziamento de origem etária transforma o Pantanal em terra de ninguém. Em mãos estranhas a área pantaneira entra num processo metamorfósico. A agressão pelo agrotóxico aplicado nas lavouras nos chapadões e arrastado pelas águas das chuvas intoxica, assoreia e interfere no ecossistema pantaneiro. A invasão humana legalizada pelo registro cartorial das propriedades. O aquecimento global. A indiferença política em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. A soma de tudo isso é o surgimento da nova denominação daquela região: Secanal.

... Ficou assim, com o rio Cassange morto e...

Em 2020 e 2021 cobri a estiagem prolongada e o fogaréu. Estarrecido vi o rio Cassange seco, sem uma gota d´água em Poconé.

Não existe projeto para a transformação do Pantanal numa área para exploração econômica sustentável, calcada, sobretudo, na tradição tricentenária  da relação do homem com a terra. Esse assunto é muito sério para ser tratado pela inconsistência cidadã da classe política com as exceções de praxe.

´2021 – Anta bebe água em garrafa términa de funcionário do Sesc em Pocone

A ocupação pantaneira é tabu para a classe política. A destruição causada pela mineração do ouro em Poconé e a blindagem ciliar para livrar o Pantanal dos resíduos dos agroquímicos da bilionária agricultura nos chapadões são assuntos que não interessam aos donos do poder. Não se esqueçam que o governador Mauro Mendes é um dos grandes mineradores de ouro no Brasil.

Que Deus tenha pena do Pantanal, porque suas dores não sensibilizam a classe política nem a população. Quando se fala sobre aquela região, normalmente a manifestação esconde interesses não recomendáveis sob a falsa bandeira ambiental .

Cânháem destruidores do Pantanal.Vocês estão matando uma região exuberante, de fragilidade ambiental que exige proteção permanente.  Vôte.