Eduardo Gomes
@andradeeduardogomes
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Nos anos 1970 o Rio Grande do Sul estava dividido. A metade da população sonhava em pegar a estrada para Mato Grosso. O restante não queria ficar. E eles vieram. Chegaram e revolucionaram a terra quase desabitada e cercada pela América do Sul por todos os lados, bem no coração do Brasil. Depois de décadas de convívio e miscigenação não é possível saber onde um Estado começa e o outro termina, salvo pelo sotaque, os trajes típicos, as danças e a música gauchesca. O povo do extremo Sul ocupou lugar em todas as atividades. Nesta data festiva que celebra o Dia do Gaúcho, nada mais justo que tirar o chapéu, dobrar a espinha reverente e dizer: Sintam-se em casa. Aqui é um exclave sulista na imensidão brasileira, tchê!
Os gaúchos deixaram de ser uma colônia e assumiram parte da composição populacional mato-grossense, incorporaram costumes aos do povo local, trouxeram sua música, danças, jogos e expressões. Os centros de tradições gaúchas dispersos em todas as regiões são verdadeiras embaixadas do Rio Grande do Sul, sem que suas prendas e peões deixem de ser também mato-grossenses. É assim no CTG Saudade da Querência, em Rondonópolis; CTG Última Fronteira, em Guarantã do Norte; CTG Coração Gaúcho, em Água Boa; Velha Querência, em Cuiabá; Estância da Amizade, em Sinop; e no Sentinela da Tradição, de Lucas do Rio Verde.
Por mais que se escreva não é possível sintetizar a importância da colônia gaúcha em Mato Grosso. Por mais nomes relacionados, ainda assim uma grande quantidade, merecedora, será omitida. Mas, sucintamente, para registrar a data é preciso registrar que:
Parte da colonização de Mato Grosso leva as digitais gaúchas:
O pastor luterano Norberto Schwantes fundou Canarana, Água Boa, Querência, Terra Nova do Norte e Nova Guarita;
O produtor rural Antônio Domingos Debastiani criou Feliz Natal;
O empresário André Antônio Maggi colonizou Sapezal, no Chapadão do Parecis;
Otávio Eckert criou Campo Verde;
Henrique Lopes de Lima, o Gaúcho, fundou a Vila Gaúcho, à margem da BR-163, em Guarantã do Norte, na divisa com o Pará.
O pioneiro no cultivo da soja foi Adão Riograndino Mariano Salles, na fazenda São Carlos, em Rondonópolis. Também naquele município, o agrônomo e pesquisador Valter José Peters desenvolveu importantes experimentos para melhorar a produtividade e reduzir o ciclo de produção da soja.
Daquele município a leguminosa espalhou-se e virou pilar da economia rural do Centro-Oeste, e em rotação de cultura com a soja surgiram os cultivos do milho safrinha e do algodão.
POLÍTICA – Os gaúchos ocupam lugar na política. O vice-governador é Otaviano Pivetta (Republicanos), nascido em Caiçara. Os deputados estaduais Beto Dois a Um (União) e Faissal Calil (Cidadania) são do Rio Grande do Sul.
As únicas senadoras por Mato Grosso foram as gaúchas Serys Slhessarenko e Selma Rosane Arruda; a primeira é ex-professora da UFMT, e a outra, juíza de direito aposentada.
Nery Geller foi ministro da Agricultura no governo de Dilma Rousseff.
Nos municípios, em todas as regiões, a presença dos gaúchos é expressiva tanto nas câmaras quanto nas prefeituras. Aleatoriamente segue uma relação com alguns nomes de prefeitos e ex-prefeitos:
Nelci Capitani (Colniza), Zanete Ferreira Cardinal (Rondonópolis), André Maggi e Aldir Schneider (ambos em Sapezal), Antônio Domingos Debastiani (Feliz Natal), Paulo Vicente Nunes, Flori Luiz Binotti e Otaviano Pivetta (todos em Lucas do Rio Verde), Érico Piana e Vilceu Marchetti (ambos de Primavera do Leste), Jesur José Cassol e Sérgio Stefanello (ambos em Campo Novo do Parecis), Germano Zandoná, Selso Lopes de Carvalho e Mariano Kolankievicz (ambos em Água Boa), Nelson Paim (Poxoréu), Adriano Pivetta e Lírio Lautenschlager (ambos em Nova Mutum), Andreia Wagner e Ademir Gaspar de Lima (ambos em Jaciara), Guilherme Meyer (Porto dos Gaúchos), Orlei José Grasseli (Ipiranga do Norte), Hélio Antônio Filipin Goulart (Guiratinga), Evaldo Osvaldo Diehl (Canarana), Vilson Pires (Paranatinga), José Odil da Silva e Irineu Marcos Parmeggiani (ambos em Campos de Júlio), Antonio Mafini, o Toni (Novo Mundo), Valter Miotto (Matupá), Gaspar Domingos Lazari (Confresa), Ernane José Sander, o Nani (Itiquira), José Hélio Ribeiro da Silva (Novo Mundo), Milton Geller e Luiz Umberto Eickhoff (Tapurah), Marilsen Marques Moraes (Comodoro); Roberto José Morandi (Santa Rita do Trivelato); Gilmar Reinoldo Wentz (Querência), Olídio Pedro Bortolas, Moacir Luiz Giacomelli e Alessandro Nicoli, o Niki (todos em Vera), Milton José Toniazzo (Terra Nova do Norte), Rudimar Nunes Camassola (Santa Carmem) e José Lair Zamoner, o Zeca (Nova Guarita).