Um não, mas três viadutos para a travessia urbana de Rondonópolis

Eduardo Gomes

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Leio. Leio muito sobre o entusiasmo de jornalistas com o anúncio do plano para a ida a Brasília do prefeito Cláudio Ferreira (PL) acompanhado por uma rechonchuda delegação com vereadores em defesa da construção do viaduto no trevo de bifurcação e junção das rodovias federais 163 e 364, cujo projeto recebeu o sinal verde da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Vejo com ressalvas a viagem de Cláudio com os acompanhantes, por algumas razões:

Primeiro pela limitação do pedido. Ao invés de um, Rondonópolis exige três viadutos na travessia: um, no trevo das duas rodovias; outro, no acesso à rua Fernando Corrêa da Costa; e o terceiro no trevo com o Anel Viário Conrado Sales de Brito. A travessia urbana de Rondonópolis é simplesmente o maior corredor de escoamento de grãos e plumas de algodão da América Latina. O trânsito pesado e de longa distância prevalece e responde por cerca de 70% da movimentação, mesmo levando-se em conta o fluxo de curta distância ou doméstico de veículos leves e motos. O trecho integra a principal ligação de Mato Grosso, Rondônia e Acre com São Paulo e Brasília. Os três viadutos são imprescindíveis não somente para a população rondonopolitana, mas, também para todos os usuários das duas rodovias. Portanto, Claudio tem que abrir mais a boca e levar o pedido para o plural. As três construções, uma vez executadas, não deverão ser vistas como favor, mas como  obras de arte imprescindíveis à fluidez do trânsito e, também, para melhorar sua segurança.

Mais ainda sobre obras na travessia urbana. Claudio não citou a falta de travessias para pedestres. A prefeitura tem que elaborar um estudo – para ontem – sobre o fluxo de cruzamento da via por moradores e visitantes, e pedir ao Dnit e a Nova Rota do Oeste – concessionária estadual que explora (e muito) a BR-163 – para construí-las com a máxima urgência, e paralelamente ao pedido acionar o Ministério Público Federal para que atue nesse sentido.

Segundo, porque para articulação com o Ministério dos Transportes, ANTT, Dnit e outras esferas do governo federal não se faz necessária a participação de vereadores – e até mesmo da Comissão Pró-Travessia Urbana, sem vínculos com os poderes políticos. Brasília é uma mistura de objetividade e lobismos. Nela não há espaço para salamaleques. Objetivamente o prefeito deve reunir-se com a bancada federal, o governador Mauro Mendes e a Assembleia Legislativa, para tratar das demandas por três – e não somente um – viadutos. As tratativas terão obrigatoriamente que ser de Estado e não partidárias ou ideológicas.

Quem na verdade tem força para bater o martelo é o presidente Lula da Silva, e isso reforça a necessidade da participação da bancada, com o devido cuidado para destacar os congressistas locais senador Wellington Fagundes e os deputados federais Rodrigo da Zaeli e José Medeiros, todos do PL. Além deles, na esfera federal é indispensável a presença do senador licenciado e ministro da Agricultura, Carlos Fávaro (PSD).

A reunião com Mauro Mendes não é somente pelo cargo, mas, também, por seu controle sobre a concessão da BR-163.


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Os parlamentares estaduais entram em cena pela legitimidade que têm para defender os interesses mato-grossenses. É imprescindível a participação de Nininho (PSD), Thiago Silva (MDB) e Sebastião Rezende (União), que representam Rondonópolis no Parlamento Estadual.

Levar vereadores seria populismo barato, ao estilo de Zé Carlos do Pátio, que acaba de deixar o cargo de prefeito. Precisaremos dos vereadores no tocante a viadutos, mas não em rodovia federal, e sim na cidade, pois na campanha Cláudio prometeu construir quatro; será preciso uma ampla discussão com a Câmara para definir os locais para construí-los e assegurar recursos para tanto. Porém, em Brasília não há agenda para vereador.

Com a intensidade que leio sobre o plano de Cláudio para o viaduto, leio sobre o caos financeiro que ele tão bem anuncia e a Imprensa trata de divulgar em tom apocalíptico. À frente de um município na bancarrota, o prefeito não tem o direito de torrar dinheiro público para lançar luzes sobre sua base de sustentação na Câmara. Alto lá! Sem necessidade de formar caravana ou delegação – avalio assim – Claudio deveria buscar o endosso via ofício de seus colegas Júnior da Saúde/PSB (São José do Povo), Barga Rosa/União (Guiratinga), João Isaack/PSB (Tesouro), Luciano Sol/Republicanos (Poxoréu),  Sérgio Machnic/PL (Primavera do Leste), Miguel Brunetta/PL (Santo Antônio do Leste) e  Marcos Tomazini/União (Paranatinga), que têm interesse direto na construção de um viaduto no trevo com o Anel Viário Conrado Sales de Brito, pois o mesmo é o elo entre suas cidades e Rondonópolis, pelas rodovias estaduais Osvaldo Cândido Moreno (MT-130) e José Salmen Hanze – Zé Turquinho (MT-270). O entusiasmo gutembergueano com Cláudio por suas revelações sobre as finanças da prefeitura e suas propostas administrativas é compreensível porque nas urnas a cidade de Daniel Moura e Irmã Luiza clamou por mudanças. Porém, nem mesmo o sentimento em busca de novo tempo pode avalizar o populismo de turismo institucional em Brasília. Lugar de vereador é em seu município cobrando melhoria na educação e saúde, buscando habitação e geração de emprego, fiscalizando todos os atos do prefeito e suas alíquotas tributárias e de tarifas por serviços públicos. Brasília é para a bancada federal. Peço a Deus que a classe política lute pelos três viadutos e que a Comissão Pró-Travessia Urbana faça seu papel complementar que não tem poder de decisão, mas que influencia. Pena que a mesma tenha sido criada somente  em 2022, bastante tempo depois da concessão da BR-163, em 2013, ao grupo Odebrecht. Explico: naquele ano, após a ANTT entregar a BR-163 na bacia das almas ao grupo de triste passagem pelos labirintos da corrupção, a empresa Rota do Oeste (da Odebrecht) apresentou em Cuiabá o plano para sua duplicação. Cobri o evento e vi graúdas autoridades rondonopolitanas com vermelhidão nas palmas das mãos, de tanto aplausos. Observei a maquete da obra e questionei o apresentador porque não haveria um viaduto no trevo de acesso à rua Fernando Corrêa da Costa – ele embasbacou – e uma das autoridades tentou desqualificar meu questionamento sob o argumento de que minha cobrança queria ser mais real do que o rei. Quem sabe, se a Comissão Pró-Travessia Urbana existisse em 2013 o viaduto não teria sido construído, pois ela teria legitimidade para cobrá-lo?

Resumo: para justificar sua existência, a Associação Mato-grossense dos Municípios (AMM) promove regularmente as manjadas Marchas a Brasília e com elas ocupa lugar na mídia. Nada de prático nesses eventos, mas com eles as noites brasilienses pegam fogo – com as devidas ressalvas, pois alguns prefeitos são sérios, e também sem incluir as senhoras prefeitas – sem agendas oficiais e, claro, sem roupa. Longe de analogia sobre esta verdade sempre abafada, mas levar vereador para Brasília não é recomendável para quem quer administrar com seriedade.

Que venham os viadutos por óbvias razões e suas conquistas sejam o quanto antes pela pressão política de quem tem legitimidade para fazê-la. Cláudio pode e deve liderar essa luta, mas com objetividade, economicidade e sem o banho de luz que invariavelmente prejudica a população e termina em trevas e descrédito político.