SÉRIE – Sete querem o governo – Wellington Fagundes

Eduardo Gomes

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Em 2022, senador em término de mandato, presidindo regionalmente um partido sem bancada na Assembleia Legislativa, sem deputado federal e distante das prefeituras dos grandes municípios, Wellington Fagundes (PL) era político decadente. Essa decadência tornava-se ainda mais acentuada pelo fato de que sua legenda, nas eleições em 2012, 2016 e 2020, não elegeu vereador por Rondonópolis, seu município. Porém, a última das incontáveis mudanças partidárias do então presidente Jair Bolsonaro acendeu mais do que a luz do fim do túnel para ele: clareou o túnel deixando-o como se fosse autoestrada; com Bolsonaro liberal a adesão ao seu partido foi grande em Mato Grosso e Wellington ganhou sopro de vida política para buscar a reeleição. Mais: o governador Mauro Mendes (União), que tentava o segundo mandato, abriu espaço em seu palanque para sua candidatura. Vivendo o melhor dos mundos perante o olhar do eleitorado, Wellington sabia que entre quatro paredes a coisa era bem diferente, e tratou de botar Mauro Carvalho (União), ex-chefe da Casa Civil de Mauro Mendes, em sua primeira suplência; mais: para mostrar seu lado bonzinho anunciou a todos os pulmões que uma vez eleito pediria licença deixando o cargo para Mauro Carvalho por um bom período. Agora, agarrado a Bolsonaro, Wellington sonha em ser governador e abre a série Sete querem o governo.


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ELE – Wellington Antônio Fagundes nasceu em Rondonópolis no dia 1º de junho de 1957. Filho do casal Minervina e João Antônio Fagundes, o João Baiano, formou-se técnico agrícola na Escola Agrotécnica São Vicente, no município de Santo Antônio de Leverger; em Campo Grande cursou medicina veterinária, e bem mais tarde, na Universidade de Brasília, fez pós-graduação em Ciência Política. É membro da Academia Brasileira de Medicina Veterinária.

Wellington é casado com a cirurgiã dentista e empresária Mariene e reside em Rondonópolis.  O casal Fagundes tem dois filhos. Wellington é sogro da deputada estadual Janaína Riva (MDB).

VIDA PÚBLICA – Wellington elegeu-se presidente da Associação Comercial, Industrial e Empresarial de Rondonópolis (Acir) e a administrou entre 1982 e 1985. Sua militância política começou no PDS – que sucedeu a Aliança Renovadora Nacional (Arena) – e depois migrou para o PDT, até que em 1988 entrou para o PL, partido pelo qual, naquele ano, seu primo Hermínio Barreto venceu a disputa para prefeito de Rondonópolis. Ao assumir o poder Barreto nomeou Wellington secretário Municipal de Planejamento, e de imediato os primos deflagraram campanha pela eleição de Wellington em 1990 para deputado federal.

A Câmara virou caminho da roça para Wellington, que conquistou mandatos de deputado federal em 1990, 94, 98, 2002, 06 e 2010, sempre pelo PL. Por duas vezes foi o mais votado em Mato Grosso, para o cargo: em 1998, com 81.626 votos, e em 2010, com 145.460. Em plenário Wellington sempre teve posicionamento governista, independentemente de quem fosse o presidente.

Deputado do Baixo Clero, Wellington nunca esteve nos holofotes nacionais. Em Mato Grosso Wellington deu enfoque municipalista à sua atuação parlamentar, e tamanha era sua influência no Ministério dos Transportes, que passou a ser chamado de Senhor Dnit. Onipresente no Dnit, indicava seus superintendentes regionais em Mato Grosso, e dois deles, Cinésio Nunes e Luiz Antônio Garcia, trabalham em seu gabinete. Em plenário participou de um momento importante da vida política nacional: a votação do pedido de impeachment do presidente Fernando Collor, em 29 de setembro de 1991, e votou pela degola do mandatário, seguindo a aluvião que queria a cabeça de Collor por conta da reforma da Casa da Dinda e a compra de um Fiat Elba.

Em 2008 e 2009 Wellington filiado ao PR percorria Mato Grosso falando sobre seu sonho de ir para o Senado em 2010. Porém, o então governador e seu correligionário Blairo Maggi anunciou que deixaria o Palácio Paiaguás para candidatar-se ao Senado. Sem estrutura para concorrer com Blairo, Wellington recuou com humildade e sintetizou sua decisão: manda quem pode, obedece quem tem juízo.

Eleito senador em 2014, Wellington permaneceu influente no Dnit, mas  em 2019 com a posse do presidente Jair Bolsonaro, houve esvaziamento de seu poder. Porém, com a filiação de Bolsonaro ao PL de Waldemar Costa Neto, ele voltou a nadar de braçada. Rodovia sempre esteve na mira de Wellington, inclusive em Mato Grosso; no governo de Silval Barbosa, Wellington nomeou Cinésio Nunes secretário de Transporte e Pavimentação Urbana. Na Terra de Rondon todos os que bebem água sabem o desfecho do mandato de Silval, e em que resultou o programa MT Integrado, para construção de rodovias.

CENTRALIZADOR –  Na Câmara, Wellington somente abriu vaga a suplente, por rodízio parlamentar, entre 27  de fevereiro a 22 de junho de 1999, sendo substituído por Osvaldo Sobrinho (PTB), para que exercesse o cargo de secretário Extraordinário de Projetos Estratégicos no governo de Dante de Oliveira, nomeação essa que aconteceu casada com sua filiação ao PSDB de Dante. No primeiro mandato no Senado, o senador nunca cedeu espaço para os suplentes Jorge Yanai (DC) e Manoel Motta (PCdoB).

APAGADO – Wellington sempre teve papel apagado na Câmara. Nunca ganhou destaque nacional. Defendeu obras rodoviárias e a criação da Universidade Federal de Rondonópolis (UFR), duas bandeiras fáceis de serem carregadas.  O governo federal  não poderia deixar de duplicar a BR-163 da divisa com Mato Grosso do Sul a Cuiabá, por tratar-se do maior corredor de transporte rodoviário de commodities agrícolas do Brasil, mas Wellington sempre soube massificar sua propaganda sobre aquela obra; o mesmo acontece em relação à UFR, que o Ministério da Educação teria que criar, por motivos que dispensam comentários – no entanto, Wellington insiste na paternidade daquela instituição de ensino superior.

Mesmo apagado Wellington tem um ponto positivo. Em 1991, nos seus primeiros passos na Câmara, foi o autor do embrião do Estatuto do Idoso.

Não existe a grande obra de Wellington em Mato Grosso. Ele é um congressista que não debate e que prefere agir nos bastidores na política de corpo a corpo com prefeitos e vereadores, aos quais destina emendas parlamentares, mas sua voz nunca se fez ouvir nas grandes questões estaduais, como a defesa do posseiros da fazenda Suiá Miçu, no Vale do Araguaia, onde houve uma desintrusão em dezembro de 2012, para a criação da Terra Indígena Marãiwatsédé dos xavantes.

Wellington conhece bem o poder das emendas parlamentares impositivas. Cada senador tem um montante superior a 69 milhões anuais para destinar a seu bel-prazer aos municípios e aos estados. Essa montanha de dinheiro vira cabeça de muitos políticos e poderá dar um empurrão na eventual candidatura de Wellington. Isso sem falar sobre Fundo Especial de Financiamento de Campanha, o manjado Fundão, que cai religiosamente nos cofres dos diretórios partidários, que no caso do PL em Mato Grosso é controlado por Wellington por meio de Ananias Filho.

2004 – Adilton atropelou Wellington

EXECUTIVOS – Wellington disputou três eleições para cargos executivos e perdeu todas.

Em 2000, pelo PSDB, Wellington perdeu para Percival Muniz (PPS) a eleição para prefeito de Rondonópolis; naquele pleito Percival foi reeleito.

Em 2004 Wellington  novamente  sofreu  derrota para a prefeitura, sendo batido por Adilton Sachetti (PPS).

2018 – Sirley foi vice de Wellington

Em 2018 Wellington concorreu ao governo com a vice Sirley Theis (PV). Mauro Mendes (DEM) venceu em primeiro turno com 840.094 votos; Wellington ficou em segundo, com 280.055 e somente foi o mais votado em nove dos 141 municípios à época – em Rondonópolis recebeu 38.683 votos, que foi a maior votação ao cargo; o governador tucano Pedro Taques alcançou 271.952 votos; Arthur Nogueira (Rede) cravou 24.689 votos; e Moisés Franz (PSOL), 14.724 votos.

Justiça seja feita. A eleição foi realizada no domingo, 7 de outubro. No dia seguinte Wellington estava no seu gabinente em Brasília e sua assessoria distribuiu nota informando que ele foi ao Comando da Aeronáutica reforçar um pedido antigo para a criação da Base Aérea de Cáceres.

ESCÂNDALOS – O nome de Wellington não esteve envolvido no mar de escândalos, como aconteceu com parlamentares seus contemporâneos de Câmara e Senado. Porém, a Máfia das Ambulâncias ou Sanguessugas  e a Operação Lava Jato o respingaram.

Em 2006, quando o escândalo da Máfia das Ambulâncias ganhou as manchetes, o nome de Wellington foi associado ao mesmo, mas ele nega até ficar rouco, que nada teve a ver com aquele rombo milionário, que envolveu quase toda a bancada federal e 75 prefeitos mato-grossenses, mas o Ministério Público Federal o denunciou e o Supremo Tribunal Federal (STF) acatou a denúncia transformando-o em réu. A lentidão da Justiça favoreceu envolvidos com a Máfia das Ambulâncias. Em 2019, transcorridos 13 anos da revelação do esquema,  a ministra do STF, Rosa Weber, mandou para a primeira instância da Justiça Federal, em Cuiabá, a ação em que o senador reponde por seu suposto envolvimento no suposto esquema de superfaturamento de ambulâncias compradas com recursos de emendas parlamentares. A mudança do foro para julgamento é um atestado da morosidade judicial: à época da denúncia Wellington era deputado federal, e em 2019 ele não exercia mais aquele cargo – são os labirintos da burocracia judicial que tem mais foco no foro do que não ação.

Joesley Batista, do JBS, em delação premiada na Operação Lava Jato declarou que Wellington teria recebido R$ 300 mil de seu grupo empresarial para caixa 2 na campanha eleitoral de 2014. O senador nega e a Justiça Eleitoral decretou sigilo sobre essa ação.

CARONA –  Wellington viu que o Projeto de Lei relatado pelo senador Flávio Arns (Rede-PR) renderia dividendos eleitorais e pegou garupa no mesmo, ao lado dos seus autores, Rogério Carvalho (PT-SE), Rose de Freitas (Podemos-ES) e Otto Alencar (PSD-BA). O projeto estendia os benefícios previdenciários aos portadores de visão monocular inspirado na jornalista Amália Barros, nascida em São Paulo, residente há pouco tempo em Mato Grosso, onde nunca atuou no jornalismo.

Amália foi apoiada por Michelle Bolsonaro

Amália tinha visão monocular e um histórico de superação de doenças. O projeto virou lei com o nome de Amália Barros. Em 2022 Amália candidatou-se a deputada federal pelo PL mato-grossense e elegeu-se com 70.294 votos; sua campanha foi reforçada pela primeira-dama Michelle Bolsonaro e ministros de Estado. Internada na capital paulista para a retirada de um nódulo benigno no pâncreas, Amália não resistiu e morreu aos 39 anos, em 12 de maio de 2024 – seu corpo foi enterrado em Mogi Mirim (SP), onde nasceu.

PÉ ATRÁS – Wellington foge do assunto divisão territorial mais que diabo da cruz, pois esse tema divide opiniões e público em busca de cargo majoritário corre de racha de opinião.

No começo dos anos 2000 aconteceu uma enxurrada de projetos de decretos legislativos (PDC), no Congresso, para sua criação dos estados de Mato Grosso do Norte, Araguaia e Aripuanã, e do Território Federal do Pantanal englobando área de Mato Grosso do Sul. Os pedidos de emancipação levaram, isoladamente, as chancelas do então deputado federal e agora senador Wellington Fagundes, do à época deputado federal Rogério Silva (PPS) e do senador Mozarildo Cavalcanti (PPB/RR); a proposta para a criação do Território do Pantanal partiu de Fernando Gabeira (PV/RJ), que era deputado federal.

Wellington e a companheira Dilma

PARTIDO – A ala mais radical do PL chama Wellington de melancia. Na verdade ele é ambidestro em política.

No mandato anterior no Senado, seu primeiro suplente foi o médico em Sinop, Jorge Yanai, que é referência na direita mato-grossense; o segundo foi o professor universitário aposentado Manoel Motta que não é mais comunista por falta de espaço.

Wellington com o amigo e antigo vizinho Bolsonaro

Wellington costura na base e na cúpula de sua sigla, pois sabe que o empresário Odílio Balbinotti – sem partido – quer se filiar ao PL. Em Cuiabá o senador pediu ao prefeito Abílio Brunini – e ele o atendeu – a Secretaria de Governo para Ananias Filho, que desde tempos imemoriais o assessora; Wellington assim acompanha o vaivém do polêmico prefeito em tempo real. Na cúpula, para quem não sabe, Wellington e Bolsonaro foram colegas de Baixo Clero na Câmara ao longo de seis legislaturas ou 24 anos. As noites em Brasília foram pequenas para as articulações dos dois. Talquei.

Wellington degolou Augustinho

CASSAÇÃO – Wellington (PL) e Augustinho Freitas (PTB), ambos de Rondonópolis, tentavam se reeleger para a Câmara em 1994. Os dois eram candidatos natos, mas deveriam autorizar a inclusão de seus nomes à convenção de seus partidos – Wellington o fez, mas Augustinho, não – porque ensaiava desistir da disputa.

Augustinho e Wellington foram reeleitos, mas, antes da contagem da votação, que era em urnas convencionais, e que se arrastava por mais de uma semana, Wellington representou contra o adversário, por sua falha na convenção. Por unanimidade, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) manteve a diplomação de Augustinho e a ação foi parar no Tribunal Superior Eleitoral e de lá para o Supremo Tribunal Federal, que cassou o diploma de deputado de Augustinho.

A cadeira de Augustinho foi assumida em 28 de março de 1996, pelo suplente e seu correligionário Murilo Domingos.

VICE – No passado foi assim: vice bom é aquele que não atrapalha. Hoje, não, e a composição da chapa tanto pode ajudar a elegê-la quanto a derrotá-la. Wellington precisará de uma mulher residente em Cuiabá para fazer sua dobradinha. Na capital são poucas as lideranças femininas e o fato partido cria dificuldades para o senador buscar o melhor nome.

No União Brasil o nome em destaque é Gisela Simona, que ora ocupa da cadeira de Fábio Garcia na Câmara, porém em Cuiabá seu partido pode ser considerado um conclave – reunião de cardeais – com tantos nomes para o governo e o Senado; Mauro Mendes quer ser senador, e Jayme Campos, governador. Neste cenário não há espaço para coligação com o PL de Wellington.

O PL cuiabano tem as vereadoras Paula Calil, que preside a Câmara, e Samantha Íris, campeã de votos ao cargo. Na verdade, nenhuma tem votos. Ambos são peças da familiocracia; Paula é irmã do deputado estadual Faissal Calil (Cidadania) e Samantha é mulher de Abílio Brunini. Nenhuma aceitará a escolha, se não tiver o aval familiar. Pode ser que Wellington saia candidato e uma delas seja sua vice, mas independentemente da escolhida a chapa esbarrará na sua condição partidária, que exclui as demais siglas.

No PL, mas fora de Samantha e Paula, Wellington não terá outras opções em Cuiabá, nos meios femininos. Talvez sua saída seja sua segunda suplente Rosana Martinelli (PL), que foi vice-prefeita e prefeita de Sinop, a maior cidade do Nortão e com a quarta população mato-grossense. Porém, se Rosana for o nome,  a ausência da representação regional de Cuiabá na mesma poderá inviabilizá-la.

Não haverá chance de um vice do Republicanos, por conta a pré-candidatura de Otaviano Pivetta ao governo. PT, PCdoB e PV estarão abraçados com Carlos Fávaro (PSD). Max Russi, que é uma espécie de dono do PSB deverá apoiar Pivetta e poderá até indicar o nome para vice-governador. O MDB mesmo perdendo espaço nas últimas eleições sonha com o Paiaguás sendo ocupado pela deputada Janaína Riva, que jamais comporia a chapa de Wellington, por ser sua nora.

SIM OU NÃO – Votar em Wellington não é marcar encontro com uma mudança profunda. Trata-se de um político de carreira, que há 34 está no palanque, que não polemiza, sempre se alinhou aos poderosos, que nunca se indignou com a omissão do governo em solucionar graves problemas e que não faz coro com a multidão que grita Bolsonaro ou Lula, enquanto ele pensa Lunaro.

RESUMO – Independentemente de seu histórico político Wellington quer se candidato, mas para tanto terá que jogar Balbinotti para escanteio. O que poderá barrar seu sonho é Bolsonaro, a quem caberá a palavra final sobre a disputa nos estados. Como é de domínio público, Bolsonaro é amigo somente do Jair e do Messias. Wellington também sabe disso e, portanto, trata de manter o Capitão sob seu olhar, pois Balbinotti tem poder de fogo, o que pode levar Bolsonaro a apoiá-lo – e sua palavra por aqui é sacrossanta para seus apoiadores.

Continuem lendo a série Sete querem o governo.

Fotos:

1 – Infografia Marco Antônio Raimundo sobre foto da Agência Senado

2 – Jana Pessôa

3 e 4 – Divulgação

5 e 6 – Assessoria Wellington Fagundes

7 – blogdoeduardogomes

 

 

 

 

 

 

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