Eduardo Gomes
@andradeeduardogomes
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Não pensem que a relação de Adilson Reis com o rio Paraguai resume-se ao seu notório conhecimento sobre as águas e a importância histórica e econômica da grande Hidrovia Paraguai-Paraná, com 3.442 km entre Cáceres e Nueva Palmira, no Uruguai. Não! A afinidade entre o homem e o curso d’água vai muito além. Tanto assim, que nas altas madrugadas, no murmúrio das águas tendo o luar e os camalotes por testemunho, o velho e bom Paraguai que brota na Lagoa Princesa e desce o Chapadão do Parecis em busca da planície pantaneira, quebra o silêncio revelando que conhece Adilson Reis.
A simbiose entre o homem que ama o rio e o defende, e que recebe o afago da natureza como gratidão não se resume ao ínfimo ciclo da vida, com teto de 70 anos, mas que em alguns casos é prolongado. Não! Ela é eterna. O rio Paraguai vive e Adilson Reis está presente.
O infarto que fez o coração de Adilson Reis parar de bater na madrugada desta terça-feira, 4 de fevereiro, não bota fim à sua relação recíproca com o rio que é a Alma de Cáceres e de sua gente bicentenária. Todos perdem e ganham. O homem conhecido pelo rio Paraguai perdeu a luta pela vida terrena, mas sua relação com as águas que passam ficando em Cáceres continuará para sempre e as teses de sua intransigente defesa da hidrovia permanecerão com como referências acadêmicas e apaixonadas da grande avenida líquida que antes das rodovias era o único meio de acesso a Cáceres e por onde a cidade recebeu o que havia de melhor na Espanha, a família Castrillon.
Descanse em paz engenheiro civil cacerense Adilson Domingos dos Reis. Sua trajetória na terra, de 5 de julho de 1948 até agora, foi a constante abertura de um corredor iluminado para sua família, sua Cáceres, seu rio Paraguai, sua Hidrovia e seus desdobramentos econômicos como a Zona de Processamento de Exportação de Cáceres (ZPE), pela qual tanto se dedicou.
Não devemos nem podemos chorar pelo adeus de Adilson Reis. Ao contrário, precisamos elevar as mãos aos céus agradecendo a Deus pelo privilégio de seu convívio. A partir de agora, não haverá mais sua presença física, mas, enquanto o rio Paraguai continuar abraçando Cáceres, ele poderá ser visto em suas águas, das quais fez uma das razões de sua vida.
Adilson Reis vive para sempre no rio Paraguai.
PS – Adilson Reis presidia a Administradora da Zona de Processamento de Cáceres, presidiu o extinto Cepromat e foi um dos fundadores do Instituto Histórico e Geográfico de Cáceres; foi palestrante e consultor.
Seu corpo é velado na Câmara Municipal de Cáceres. O sepultamento será na quarta-feira (5), às 9 horas, no Cemitério São João Batista, em Cáceres.