Eduardo Gomes

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Uma boa notícia tem que ser comemorada. Enquanto o negativismo de alguns sites mostram Bom Jesus do Araguaia entre os municípios mato-grossenses com os piores índices de escolaridade com nível superior, o vejo vencedor. Na frieza dos números do IBGE, Bom Jesus do Araguaia registra 7,18% de moradores com formação universitária. No sentido justo da avaliação comemorou o desempenho alcançado por 7.731 moradores, pois o vi com apenas um diploma universitário, nas mãos da professora tocantinense Maria do Socorro Bedas.

Em 2000, percorri os 13 municípios mato-grossenses que naquele ano elegeram seus primeiros prefeitos. Estava em busca da nossa realidade, confrontando as cidades que nasciam com o Brasil que celebrava 500 anos da chegada de Cabral. Bom Jesus, no Vale do Araguaia, e seus vizinhos Serra Nova Dourada, Novo Santo Antônio, Santa Cruz do Xingu, Nova Nazaré e Santo Antônio do Leste faziam parte da lista dos que emanciparam-se.

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Lá, conversei com meu coestaduano Marco Aurélio Fullin, prefeito eleito e sonhando em impulsionar seu município. Ouvi alguns dos aproximadamente 1.800 moradores e, dentre eles, a Professora Maria do Socorro Bedas, que diferenciava-se dos demais por seu nível universitário. Humilde, a mestra conversou comigo demoradamente, falou da precariedade das instalações de sua escola e dos problemas enfrentados pelos alunos, que recebiam o conteúdo comum a todos os municípios, mas que não tinham convívio social para absorvê-lo. O isolamento era a marca em Bom Jesus do Araguaia, que não tinha sequer um quarteirão pavimentado e nem mesmo um acanhado destacamento policial militar.  Hospital, então, nem se fala.

Nesta abençoada e chuvosa sexta-feira, 28, véspera de carnaval, vejo os números do IBGE e eles estampam o município de Cuiabá liderando o ranking com 27,33%; seguido por Barra do Garças, com 27,33%; Rondonópolis, com 20,08%; Pontal do Araguaia (sede do campus da UFMT no Vale do Araguaia), com 18,91%; e Chapada dos Guimarães, com 18,42%. Bom Jesus do Araguaia, agora com 7.731 habitantes e ligada à malha rodoviária federal por estrada pavimentada avançou muito, obteve desempenho sensacional para uma cidade de seu porte e com a marginalização que o poder político em Cuiabá lhe impõe. Com 7,18% tomo a liberdade de chamá-la de Cidade dos Doutores.

Pena que Marco Aurélio Fullin não esteja mais entre nós para ver que seu sonho com o impulsionamento da cidade aconteceu. Fullin foi vítima de um trágico acidente na BR-070, próximo a Campo Verde, em 14 de dezembro de 2002. Além dele, outros cinco morreram: sua mulher Luzia Queiroz; Marcilene, filha do casal Fullin; Míriam, filha de Marcilene; Maikon Douglas, sobrinho do prefeito; e Tâmara de Oliveira Rosato, que morava com a família Fullin. Cobri aquela fatalidade. Fullin é perpetuado com uma avenida que leva seu nome.

Em 2015 no livro Dois dedos de prosa em silêncio – pra rir, refletir e arguir, narrei meu encontro com a Professora Maria do Socorro Bedas, a fatalidade que tirou a vida de Fullin e o trágico começo de Bom Jesus do Araguaia.

Parabéns Bom Jesus do Araguaia. Parabéns Professora Maria do Socorro Bedas. Luz na eternidade, Fullin! Bom Jesus do Araguaia é show.