40 Anos – Kuarup é a grande festa no Alto Xingu

Competição no Kuarup

Kuarup é a maior manifestação da cultura indígena em Mato Grosso. Realizado anualmente em agosto, no Parque Indígena do Xingu, no Alto Xingu, virou fonte de renda para os povos xinguanos que o promovem, pois atrai turistas brasileiros e do exterior.

Guerreiros das etnias Kamaiurá, Mehinako, Kuikuro, Aweti, Kalapalo, Naruvotu, Nahukwá, Waurá, Trumai, Yawalapiti e Matipu o promovem como ritual que celebra a vida e a morte. Para eles, morrer não significa acabar, mas sim outra forma de continuação da existência. Esse é o simbolismo do ritual do Kuarup, que é uma cerimônia de rara beleza marcada por cantos, sons de instrumentos artesanais, dança e competições.

A cerimônia gira em torno de um tronco enfeitado de uma árvore sagrada chamada kam’ywa’. O enfeite representa a vida humana que brota do sopro do Criador. Ao redor do tronco as famílias choram e os indivíduos de todas as etnias homenageiam os mortos ilustres. Após o ritual a tristeza é substituída pela alegria que bota fim ao período de luto iniciado após o Kuarup anterior.

Acreditam os índios xinguanos que após o Kuarup as almas passam a morar numa aldeia celestial. Em analogia com o catolicismo seria o mesmo que a alma sair do purgatório e entrar no céu.

Para entender a beleza do Kuarup o melhor é presenciar seu ritual, com índios cantando, dançando e disputando provas físicas sob o sol forte e a baixa umidade relativa do ar em agosto.

O local da realização do Kuarup tem por referência urbana a cidade de Canarana, município ao qual pertence parte do Parque Indígena do Xingu. O rio que dá o nome ao parque, é fonte de vida e esconde mistérios segundo os xinguanos, o Xingu nasce no limite de Canarana com Gaúcha do Norte no encontro das águas dos rios Culuene e Sete de Setembro.

O descampado onde o Kuarup é realizado foi uma pista de pouso construída pelo Correio Aéreo Nacional (CAN) e servia de suporte aos seus voos que ligavam Belém ao Rio de Janeiro, então capital da República

O Parque Indígena do Xingu tem 2.642.008 hectares. É maior que Sergipe e sua área se estende pelos municípios de Marcelândia, São José do Xingu, São Félix do Araguaia, Querência, Canarana, Gaúcha do Norte, Paranatinga, Nova Ubiratã e Feliz Natal. Foi criado em abril de 1961 pelo presidente Jânio Quadros, com base num projeto elaborado pelo antropólogo, escritor e político mineiro Darcy Ribeiro.

Nele residem indivíduos das etnias Aweti, Kalapalo, Kamaiurá, Kuikuro, Matipu, Mehinako, Nahukuá, Naruvotu, Trumai, Wauja e Yawalapiti, Ikpeng, Kaiabi, Kĩsêdjê, Tapayuna e Yudja. Não há língua universal na área, onde são falados o Kamaiurá e Kaiabi (família Tupi-Guarani, tronco Tupí); Yudja (família Juruna, tronco Tupí); Aweti (família Aweti, tronco Tupi); Mehinako, Wauja e Yawalapiti (família Aruák); Kalapalo, Ikpeng, Kuikuro, Matipu, Nahukwá e Naruvotu (família Karíb); Kĩsêdjê e Tapayuna (família Jê, tronco Macro-Jê); Trumai (língua isolada).Não há precisão estatística sobre a população xinguana, mas estima-se que gire em torno de 5.500 indivíduos.

 

MEMÓRIA – Em 2003, pela primeira e única vez os índios reverenciaram um “branco” no Kuarup. A homenagem foi prestada à memória do sertanista Orlando Villas Bôas, morto em 12 de dezembro do ano anterior, aos 88 anos, em São Paulo.

A viúva do sertanista, Marina, e os filhos do casal, Orlando Filho e Noel participaram da cerimônia do Kuarup. Villas Bôas era reverenciado pelos índios xinguanos que o tinham enquanto benfeitor e protetor.

 

EDUARDO GOMES/blogdoeduardogomes

FOTO: Marcos Bergamasco/Governo de Mato Grosso