RONDONÓPOLIS 64 ANOS – Trajetória que se funde e se confunde com a soja

Rondonópolis, 81.366 habitantes em 1980

Rondonópolis chega aos 64 anos em 10 de dezembro. O município esbanja crescimento e tem números superlativos umbilicalmente ligados a uma tal glycine max que todos chamam de soja. A cidade é bela. O povo é a melhor face da miscigenação brasileira.

 

Produtores sulistas que cultivavam soja na região de Dourados, agora Mato Grosso do Sul, deram grande empurrão a sua lavoura  na região de Rondonópolisl. Mas, o pioneirismo não foi deles, mas de Adão  Riograndino Mariano Salles. Com a chegada da lavoura a cidade cresceu, virou metrópole regional com 222.316 habitantes.

O cultivo avançou Mato Grosso afora, assumiu a liderança da economia mato-grossense e paralelamente a isso mudou costumes, fez cidades brotarem da noite para o dia.

Presente em todos os municípios, sendo que em alguns com produção em escala para exportação, essa leguminosa de origem chinesa foi decisiva para a criação de Sorriso, que é o maior produtor agrícola do mundo.

Jacqueline Bisset e o pastel de “palmitô”

Não se pode contar a história de Rondonópolis sem associá-la  com a soja, pois as duas se fundem e se confundem.

Linda, perfumada, meiga, gostosa, sensual, envolvente e figura comum em Rondonópolis. Bons tempos aqueles em que a atriz Jacqueline Bisset, que nasceu inglesa com o pesado nome de Winifred Jacqueline Fraser Bisset entrava na cidade ao volante de um empoeirado Toyota tupiniquim para acompanhar o capataz da pantaneira fazenda Taiaman de seu namorado Giovanni Lancia. A Diva sabia o caminho certo ao Armazém Patureba, onde as grandes fazendas do Pantanal no entorno da cidade se abasteciam, fiado, na caderneta.

Jacqueline Bisset era o rosto mais bonito e o perfume mais excitante nas ruas pouco movimentadas da cidade. Sua presença na fazenda era para encontros tórridos com o amado, famoso fabricante de carros esportivos.

Enquanto Lancia pescava e bebia com amigos famosos sua amada subia a serra, pegava a estrada para Rondonópolis, mas sequer tinha noção que presenciava a transformação de uma cidadezinha de nariz arrebitado na metrópole regional que surgia na esteira da soja, a leguminosa que deixava os poderosos pecuaristas do Vale do Jurigue de orelhas em pé a ponto de chamarem o amarelão CBT-090 que era o rei dos tratores, de onça comedeira de bezerros.

Sem saber da dor de cotovelo dos donos das boiadas e do avanço da soja no cerrado Jacqueline Bisset queria apenas viver a pequena cidade pra fugir de sua rotina nos estúdios de Hollywood. Enquanto o capataz separava as compras ela ia com seu Toyota até o Bar do David, na esquina da Amazonas com a 13 de Maio e num ambiente exclusivamente masculino ocupava uma mesa e pedia um Martini com pastel de “palmitô”.

Casal Albina e Adão Salles

Era a década de 1970 e com ela a transformação. A cidade carregava o título de “Rainha do Algodão”, mesmo produzindo safras que hoje seriam ridículas, cultivadas em lavouras de toco e colhidas manualmente em Nova Galiléia, São José do Povo e outras localidades, com apoio do comerciante potiguar Elias Medeiros, o Medeirão, que comprava a produção para a Matarazzo e outras indústrias.

O agricultor e ex-comerciante Adão Riograndino Mariano Salles semeou a primeira lavoura de soja. Esse pioneirismo na fazenda São Carlos data de 1973, quando aquela leguminosa era tão estranha para ele quanto para Rondonópolis. Lançando mão de cultivares adaptados aos Estados Unidos Adão Riograndino enfrentou revezes, mas venceu, porque além de patrimônio familiar, em Mato Grosso, foi dele o pontapé ao mais importante ciclo econômico do Brasil interior.

Gaúcho radicado no Paraná, em 1970 Adão Riograndino trocou o balcão pelo tiro no escuro que era desbravar o cerrado em Mato Grosso. Juntamente com a mulher Albina e os filhos Rogério, Álvaro, Luis Ortolan, Cleonice, Maria do Carmo, Salete e Neuza, genros, noras e netos, em mais de quatro décadas ajudou a reescrever a história de Rondonópolis, que tem duas etapas distintas: o antes e o depois da soja. O filho Rogério foi prefeito do município, governador e vice-prefeito em dois mandatos.

Os canteiros de Adão Riograndino, com produtividade perto de zero e cultivados praticamente sem nenhuma tecnologia nos primeiros anos, viraram lavouras. Ultrapassaram as divisas de sua propriedade, se espalharam pelo município, por Itiquira, Jaciara, Alto Garças, por Mato Grosso.

A base da produção nos primeiros anos era sustentada pelos agricultores que se mudavam para Mato Grosso em busca de áreas para plantio. A soja também foi lavoura dos antigos moradores, que a enxergaram  na condição de verdadeira galinha dos ovos de ouro.

 

TECNOLOGIA – Na safra 1977/78 Mato Grosso começou a expandir o cultivo da soja, de Rondonópolis para as demais regiões, não sem antes plantar arroz por dois anos na área “amansando-a” para a sojicultora. De grão em grão, de avanço em todas as direções, de incorporação e criação de tecnologia como a rotação de cultura e plantio direto, os lavoureiros viraram senhores do agronegócio ou Barões da Soja, como são conhecidos, mas não gostam de ser chamados.

Em 1977 Rondonópolis e entorno semearam 6 mil hectares (ha) de soja. A safra foi de oito mil toneladas (t) com produtividade média de 22,22 sacas/ha. Transcorridas quatro décadas a área estadual saltou para 9,39 milhões/ha, que produziu 31,2 milhões/t com produtividade de 59,06 sacas/ha.

 

MUDANÇAS – Longe das lavouras, em Rondonópolis, a soja foi fator de miscigenação, de mudança cultural, de melhoria da qualidade de vida na região dominada pela pecuária controlada por criadores que aplicavam querosene no cangote do gado para espantar a febre aftosa que virava gabarro.

Com a soja Rondonópolis arrebitou ainda mais o nariz.

Em 1973, quando a prefeitura lançou um programa de pavimentação urbana, produtores de arroz secavam o cereal no asfalto interditando quarteirões, mas tendo sempre o cuidado de deixarem funcionários de plantão para o recolhimento rápido ao menor sinal de mudança do tempo. Um desses agricultores era o então vereador Ildon Maximiano Peres.

Rondonópolis ganhou novos nichos de mercado com a soja.

A Somai, empresa do empresário João Belmonte e seu sócio Dilson Cardozo, foi o maior revendedor brasileiro da marca CBT. O padrão residencial mudou por completo e até a programação do rádio sofreu influência do Rio Grande do Sul, de onde migraram famílias de agricultores.

?

A soja virou âncora, mas a economia do município sempre foi diversificada. Enquanto o cerrado cedia espaço para a lavoura, na cidade o empresário Djalma Pimenta mantinha em funcionamento a fábrica do Guaraná Marajá, que se transformou na marca genuinamente mato-grossense mais conhecida; hoje esse refrigerante é fabricado em Várzea Grande,

Também na década de 1970, o supermercado e atacadista Casa Moreira abastecia boa parte das mercearias e mercados em Paranatinga, Nova Brasilândia, Planalto da Serra, Tesouro, Itiquira e outras cidades da região.

O mosaico fundiário era balbúrdia completa e campo aberto para advogados fazerem o pé de meia, mas a comarca não tinha subseção da OAB, que somente seria criada em 1975 e instalada com a posse de seu primeiro presidente, o advogado José Clemente Mendanha (foto 4), que permaneceu no cargo por dois anos.

A Subseção da OAB de Rondonópolis tinha extensão territorial descomunal, pois englobava as comarcas de Barra do Garças, que se estendia à divisa com o Pará, e Alto Araguaia, na divisa com Goiás.

A violência nem de longe tinha os índices atuais, que parecem estatísticas de guerra civil. A única droga que existia era figurada, em tom de desabafo. Quando o pneu do carro batia numa pedra o motorista gritava, “droga”.

Ladrões estão e sempre estiveram por todas as partes. Se algum aparecia podia ser o fim da picada, com uma viagem sem volta ao sumidouro do rio Itiquira tendo a lua por testemunha.

Qualquer ameaça que surgisse a cidade sabia a que recorrer: o temível tenente Adib Massad (foto 5), que sabia como poucos botar ordem na casa; hoje Adib é coronel aposentado da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul. Adib sempre negou que participasse das tais viagens; os passageiros também, claro.

Em 1977, quando o presidente Ernesto Geisel  criou Mato Grosso do Sul, Rondonópolis era um embrionário município com 24 anos com 67.390 habitantes, sendo a maioria oriunda de outras cidades e estados. O prefeito Walter Ulysséa  (foto 6), de Corumbá (MS); o vice-prefeito José Moraes Filho, o Beda, da Boa Terra da Bahia; e o bispo católico era Dom Osório Stoffel, catarinense.

A cada dia a cidade ganhava levas e levas de sonhadores que deixavam para trás sua terra e vinham para Mato Grosso em busca de trabalho e oportunidade.

No vaivém da cidade que crescia o nissei Shiro Nishimura se misturava às pessoas e se virava da melhor maneira possível pra cuidar de sua fazenda na região de Juscimeira. Shiro voltou para Pompéia, no interior paulista, a cidade onde seu pai Shungi montou a gigante Jacto – famosa na televisão pelos carrinhos para transporte de jogadores lesionados – que ora administra com a família.

Em 1980 agricultores criaram a Associação dos Produtores de Sementes de Mato Grosso (Aprosmat). Treze anos depois nasceu a Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso (Fundação MT). Com essas duas instituições Rondonópolis avançou na profissionalização da agricultura e na pesquisa agronômica.

A Aprosmat foi decisiva para exorcizar a chamada bolsa branca – a semente sem marca e certificação. A Fundação MT é referência agronômica mundial na agricultura do cerrado.

 

MÁFIA – Despercebido entre a população da cidade que crescia o italiano Don Tommaso Buscetta (foto 7) – um dos mais temíveis mafiosos da Cosa Nostra – era pacato hóspede de um amigo na Rua Armando Araújo, no Parque Real.

Às noites, Buscetta costumava dar asas aos desejos e descambava para o cabaré Coqueirinho, à margem da BR-364, que era tocado pela Cristina.

Buscetta era velho conhecido do Brasil e inclusive foi casado com uma brasileira.

Em janeiro de 1981 Buscetta deixou a Itália e oficialmente veio abrir uma terra de seu sogro no Pará. No entanto, optou por morar em Rondonópolis, o que em tese inviabilizaria seu projeto paraense.

O tempo se arrastava e, ele, na surdina, levava adiante uma atividade criminosa e que não é engolida por nenhum judeu: o mercado do diamante. Isso mesmo.

O saudoso William Dias (8), advogado criminalista dos bons e mais tarde deputado estadual, cuidava da blindagem de Buscetta e certa vez revelou que ele escolheu Rondonópolis por ser o polo da extração de diamante em Poxoréu e no Vale do Garças. Com uma rede de compradores ele estava mandando a pedra mais preciosa do mundo para a Europa. Seu negócio no Pará, seria uma forma de justificar sua presença em Belém, para onde levava as pedras e as despachava contrabandeadas por navios.

O Mossad, poderoso serviço secreto hebreu descobriu, mas não tinha interesse em eliminá-lo, porque vivo poderia ser mais útil. Bastou uma denúncia e em 23 de abril Buscetta foi parar atrás das grades em São Paulo. Sua página de prisão, delação, extradição para os Estados Unidos e sua morte em 2 de abril de 2000 é de domínio público.

 

EXPOSUL – Quando a soja invadiu Rondonópolis, exposição agropecuária era mais pecuária que agrícola e o sindicato rural presidido por Zeca D’Ávila vestia a camisa dos donos das boiadas. Nesse clima de animosidade Zeca liderou a construção do parque de exposição da cidade, onde se realiza a internacional Exposul.

Sem fundos para concluir a obra Zeca correu o chapéu junto ao governador e pecuarista Wilmar Peres de Farias, que deu o sim, mas condicionando-o ao culto ao ego: exigia que o parque levasse seu nome.

Coincidência ou não, o parque se chama Wilmar Peres de Farias, mas rótulo à parte é nele que se realiza uma das maiores e melhores exposições brasileiras e com uma vantagem: a turma da soja compartilha o chimarrão com os pecuaristas e, esses, em tom amistoso até aprenderam o bordão, “bah, tchê!”.

 

Todos os povos do mundo

 

No melhor sentido da palavra a localização geográfica sempre foi cúmplice de Rondonópolis, que se situa na bifurcação e junção das rodovias federais 163 e 364. Por essas estradas,

antes do asfalto que foi construído no começo dos anos 1970, chegaram garimpeiros nordestinos e mineiros, pecuaristas de todos os cantos, comerciantes, prostitutas, aventureiros, profissionais liberais, peões, representantes comerciais, agricultores e, enfim, a base da população rondonopolitana.

Quando da emancipação política a colônia baiana representava o maior contingente populacional. Rosalvo Farias (foto 9), o primeiro prefeito, botou pra fora seu amor à sua Boa Terra e mandou que o azul, o vermelho e o branco da Bandeira da Bahia predominassem na Bandeira de Rondonópolis que estava em fase de criação.

Entre os primeiros agricultores que cultivaram soja, o libanês Naim Charafeddini, que atuou em várias áreas empresariais na cidade.

Na década de 1960, José Salmen Hanze, o Zé Turquinho, doou 63 hectares para a fundação da vila que mais tarde seria São José do Povo. A memória de Zé Turquinho é reverenciada pela rodovia MT-270 que liga Rondonópolis a Guiratinga e pelo bairro Vila Salmen; em São José do Povo uma avenida leva seu nome.

No bairro Parque Real; não muito distante da casa onde morava Buschetta, seu vizinho mais famoso era o temível coronel belga Jean Pierre, que comandou o Batalhão Leopardo em Léopoldville, no Congo, nos anos 1960, para proteger os interesses belgas no diamante e outros minérios contra o nacionalismo que surgira com a independência do país.

Os japoneses tiveram destacado papel na Rondonópolis que nascia institucionalmente. Em 1956 o imigrante Noda Guenko fundou no município a vila que mais tarde seria a cidade de Pedra Preta. Há mais de meio século o japonês Manao Ninomyia mantém uma academia de judô, que formou gerações de atletas.

Ao lado da cidade, entre os rios Vermelho (Poguba para os bororos), Jurigue e Tadarimana localiza-se a reserva indígena bororo de Tadarimana, com 9.612,69 hectares de mata intocável.  Esses índios são vítimas do alcoolismo e do cristianismo.

O choque cultural expõe os bororos aos vícios da população envolvente e muitos se deixam arrastar pelo álcool. Nas aldeias padres e pastores disputam fieis pregando seitas incompatíveis com a cultura dos índios.

Pela cidade é comum se deparar com indígenas embriagados e o exemplo mais conhecido dessa degradação foi o índio Malagueta, figura muito conhecida pelos rondonopolitanos e que morreu ao sol, por insolação, bêbado caído à margem de uma estrada.

 

Mulher mais bonita do Brasil

 

 

Aos 20 anos Jakelyne Oliveira da Silva foi a brasileira mais bonita, segundo o juri que a elegeu Miss Brasil em 29 de setembro de 2013, em Belo Horizonte.

Antes de ganhar o Miss Brasil Jakeline foi Miss Mato Grosso e Miss Rondonópolis, sua cidade. De quebra, conquistou o quinto lugar no Miss Universo disputado por 86 candidatas em Moscou, na Rússia, no sábado, 9 de novembro de 2013.

Jakelyne nasceu e mora em Vila Operária, bairro de Rondonópolis. Cursou engenharia agrícola e ambiental. É morena clara e tem medidas perfeitas do tipo arrasa-quarteirão: 1,74 m de pura beleza, 90 cm de busto, 92 cm de quadril e 62 cm de cintura.

Jakelyne foi especialista em ganhar títulos de beleza.

Foi vencedora do concurso Miss Brasil Globo em 2012 e no mesmo ano ganhou o Miss Globo Internacional, realizado na cidade de Famagusta, na República Turca de Chipre do Norte.

Jakelyne venceu o Miss Rondonópolis Oficial no ano passado e foi eleita a mais bela mato-grossense no concurso Miss Mato Grosso Oficial 2013, realizado no Centro de Eventos Jovelina Maria de Almeida, em Jaciara, no dia 20 de junho. Ela recebeu o cetro da beleza da mão de sua antecessora e representante de Cuiabá, Letícia Vetorina Hauch.

O cetro da beleza brasileira foi conquistado em desfiles no Centro de Convenções Minascentro, em Belo Horizonte.

No concurso Miss Universo Jakelyne classificou-se para o Top 5. A eleita foi a Miss Venezuela, Gabriela Isler; o segundo lugar ficou com Olivia Culpo, dos Estados Unidos; a terceira colocada foi a espanhola Patrícia Rodriguez; e a quarta classificação foi Ariella Arida, das Filipinas.

Com sua lente o fotógrafo rondonopolitano Valter Arantes descobriu a beleza de Jakeline e o resto ela se encarregou de fazer nas passarelas.

 

EDUARDO GOMES/blogdoeduardogomes

FOTOS: 1, 6 e 9 Museu Rosa Bororo 

2 – Divulgação

3 Álbum de família

4 – Facebook

5 e 8 – Arquivo

7 – Internet

10 – Carol Gherardi

 

 

 

Comentários (1)
Add Comentário
  • Chuenlai Figueiredo de Matos

    Gostei muito dessa matéria que remeteu-me a boas lembranças da minha cidade natal, Rondonópolis. Vivi em Rondonópolis até os meus 16 anos (1970) e depois disso voltava com frequência para matar a saudade de meus familiares que continuaram lá. Muitos personagens / pessoas destacadas nessa matéria fizeram parte da minha vida durante minha infância, notadamente do Sr. Walter Ulysséa quando o mesmo era apenas um funcionário do Banco do Brasil.