Pra quem a conhece somente pelos números, superlativo seria o melhor título para Rondonópolis. Porém, os que a vivem no dia a dia sabem que esse rótulo não pode ofuscar na frieza estatística o calor humano diferenciado da cidade que nasceu no solo vermelho à margem do rio Poguba, no ponto onde o Alto Pantanal se funde com o cerrado, sob o olhar distante da Serra da Petrovina e que em 10 de dezembro chega aos 64 anos, envolvente, sedutora, irresistível e de braços sempre abertos.
Rondonópolis, com 222.316 habitantes é uma miscigenação contínua, onde ninguém questiona o berço natal do indivíduo.
Lá, todos, independentemente de onde tenham nascido, são rondonopolitanos com os mesmos direitos e deveres daqueles que desde o primeiro suspiro respiram o ar purificado pela mata da reserva Tadarimana, dos bororos, entre os rios Poguba (Vermelho, pra nós), Tadarimana e Jurigue, bem ao lado da cidade.
Em Rondonópolis, o errado é não tentar. Lá, sonho não costuma descarrilar. É como o trem da Rumo ALL, que apitou naquela cidade, pela primeira vez, em 19 de dezembro de 2012.
Pelos vagões da ferrovia, Mato Grosso escoa ao porto de Santos quase a metade de sua safra de soja, milho e algodão para exportação, num trajeto de 1.658 quilômetros.
O terminal da Rumo ALL recebeu o nome de Complexo Intermodal de Rondonópolis (CIR) e foi inaugurado em 19 de setembro de 2013 pela presidente Dilma Rousseff e o governador Silval Barbosa. Sua construção em parte de uma área de 385 hectares destinado a tal finalidade conferiu à ferrovia o título de maior corredor ferroviário de exportação de commodities agrícolas do Brasil.
Localizado a 25 quilômetros de Rondonópolis rumo a Campo Grande, pela BR-163, o CIR é uma das maiores conquistas da região.
Longe do superlativo, mas o CIR é o maior da América Latina. Sua capacidade de embarque diária (sete dias por semana) é de 51.935 toneladas, o que resultaria numa movimentação anual de 18,9 milhões de toneladas anualmente, mas arredondando para baixo crava 18 milhões de toneladas. Mais: é o ponto mais ao norte da ferrovia, que leva o nome de Senador Vicente Vuolo e foi construída pela obstinação do empresário Olacyr de Moraes.
O trem é a mais nova matriz de transporte de Rondonópolis, que é o ponto de junção e separação das rodovias federais 364 e 163, as duas mais importantes de Mato Grosso e que em seu trecho coincidente rumo norte até Posto Gil (de Diamantino) formam o maior corredor de cargas agrícolas do Brasil.
Além disso, a cidade é interligada a São José do Povo e Guiratinga, pela Rodovia José Salmen Hanze – Zé Turquinho (MT-270) e a Poxoréu e Primavera do Leste pela Rodovia Osvaldo Cândido Moreno (MT-130). A obra de um trajeto alternativo para Cuiabá, com trecho na MT-270, pelas bordas do Pantanal, com 240 quilômetros empacou. Trata-se de uma Rodovia Verde, que em seu leito comum com a MT-270 recebeu o nome de João Antônio Fagundes – João Baiano.
O aeroporto local com balizamento noturno opera jatos médios e foi batizado de Maestro Marinho Franco, em homenagem ao mestre do saxofone e fundador da Banda Marinho e Seus Beats Boys, nascido na Boa Terra da Bahia e que fechou os olhos e não está mais entre os forasteiros adotados pelo calor humano rondonopolitano. Sua pista tem 2.380 metros de extensão por 30 metros de largura e ele se situa a 16 quilômetros da cidade pela BR-163 rumo Sul. Sua distância aérea de Cuiabá é de 184 quilômetros, Brasília (720) e São Paulo (1.147).
A cidade é moderna, vibrante. Nas suas ruas planas e largas desfilam carrões dos barões da soja, dos reis do gado, dos donos do poder político, do empresariado, dos industriais e dos pés de chinelo que dão um naco da vida pelo direito de pisar fundo no acelerador sentado no banco do motorista do possante, onde só ele põe os pés.
Seu quadrilátero central nasceu das pranchetas do major do Exército Otávio Pitaluga, que criou a denominação Rondonópolis em homenagem ao seu chefe militar Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon.
O Marechal frequentou Rondonópolis em seus primeiros anos, montou um posto telegráfico à margem do rio, regularizou terras indígenas e tinha amigos entre os bororos e os telegrafistas dos Correios.
Rondon é nome comum por lá e está presente num conjunto habitacional, numa vila, numa loja maçônica, numa das principais avenidas e em prédios; é título de uma comenda da Câmara Municipal.
Para o IBGE, o município tem 4.159,118 km². Essa área foi maior, mas os distritos de Pedra Preta e São José do Povo ganharam autonomia e agora são cidades. O Tribunal de Justiça o reconhece enquanto sede de Comarca de Entrância Especial.
A cidade é polo econômico, universitário, político, industrial, comercial e de prestação de serviços públicos. Mas, numa visão ampliada e sem preocupação com limites territoriais pode-se afirmar, sem medo de errar, que Rondonópolis é uma região que se estende das divisas com Mato Grosso do Sul e Goiás até o alto da Serra de São Vicente, perto de Cuiabá; do Pantanal de Barão de Melgaço às reservas indígenas em Gaúcha do Norte e Paranatinga; e das nascentes do rio das Mortes a Santo Antônio do Leste e Ribeirãozinho, também na divisa com Goiás.
O polo de Rondonópolis tem terminais ferroviários para grãos e combustível; produz álcool, açúcar, biodiesel, ovos e alimentos; extrai calcário, diamante e ouro; gera energia de origem hidráulica; cultiva sementes de soja, forrageiras e outras, na altitude; é coberto por grandes lavouras e extensas pastagens; em grandes frigoríficos abate bovinos, suínos e ovinos; é inesgotável roteiro turístico no Pantanal, Cidade de Pedra e nas águas quentes; é paraíso de esportes radicais como o raffting; é centro de produção de fertilizantes; industrializa couros; detinha 15% da fabricação nacional do índigo que faz o jeans, mas a indústria que respondia por tanto, a Santana Textiles, baixou as portas; envasa cerveja; e fabrica implementos agrícolas e carrocerias. De seu solo, Mato Grosso colhe grãos e produz a carne, o leite e os lácteos que garantem boa parte da política de segurança alimentar nacional.
A ciência agronômica fala mais alto em Rondonópolis.
A cidade é sede da Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso (Fundação MT) e a Associação dos Produtores de Sementes de Mato Grosso (Aprosmat). A Fundação MT é referência mundial em pesquisa agrícola nos trópicos. A Aprosmat estabelece regra no comércio sementeiro e seu surgimento enxotou o velhaco mercado da chamada bolsa branca – de semente sem certificação.
Moradores na região de Rondonópolis são comuns entre sua gente. Vão à cidade para tudo, desde a consulta médica ao chopp gelado nos bares da Avenida Lions Internacional, da paquera ao culto evangélico ou à missa celebrada pelo bispo Dom Juventino Kestering, da compra no supermercado à importação de avião executivo ou agrícola, para assistirem a jogos no Estádio Luthero Lopes ou rodeios na Arena Poteirão no parque de exposições da internacional Exposul – que é uma das principais feiras agropecuárias do Brasil.
O superlativo teima em ressurgir, porque é preciso revelar o produto interno bruto do município e sua balança comercial:
O PIB é de R$ 7.640.000.000 – o segundo de Mato Grosso. A renda per capita é de R$ 36.102,58. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) aferido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) aponta que Rondonópolis alcançou 0,755 numa escala de zero a um. Esse desempenho a deixou na 453ª posição entre os 5.565 municípios brasileiros.
Em 2016 o município exportou US$ 965.001.909 (FOB), importou US$ 652.916.579 (FOB) e obteve superávit de US$ 630.264.050.
De janeiro a novembro de 2017 Rondonópolis exportou US$ 979.457.936 (FOB), importou US$ 634.075.679 (FOB) alcançando superávit de US$ 345.382.257.
Soja e seu farelo, algodão, milho, óleo, carnes, fertilizantes, biodiesel, máquinas têxteis, embalagens plásticas e etiquetas estão entre os principais itens exportados para Holanda, Indonésia, China, Vietnã, Itália, Tailândia, Cuba, Espanha, Irã, Turquia, Coreia do Sul, França e outros países. No sentido inverso da balança chegam adubos, inseticidas, máquinas, transformadores elétricos, colheitadeiras, aviões agrícolas e executivos, empilhadeiras e outros produtos procedentes da Belarus, Rússia, Marrocos, China, Canadá, Argentina, Alemanha, etc.
A vitalidade da economia rondonopolitana e seu perfil exigem boa logística de transporte. O trem para Santos é fundamental ao desenvolvimento econômico do município. A malha rodoviária de acesso a Rondonópolis se integra ao modal ferroviário. A duplicação da BR-163 em curso melhorará a alimentação do terminal da Rumo ALL; a rodovia será duplicada no trecho da divisa com Mato Grosso do Sul ao trevo com a MT-220 na área suburbana de Sinop, numa extensão de 850 quilômetros.
Eduardo Gomes/blogdoeduardogomes
ARTE: Edson Xavier
FOTOS:
1 – Roberto Stucker
2 e 6 – Eduardo Gomes
3 – Matusalém Teixeira
4 – Roger Andrade
5 – Acervo Histórico
uma cidade especial e parabéns pela reportagem