O número 13, a Rua 13 de Junho e a Copa do Pantanal

Cuiabá, 13 de junho de 2014. Chile e Austrália jogam na Arena Pantanal pela Copa do Mundo. Seleções dos cinco continentes disputaram cinco partidas no estádio bem no centro do continente sul-americano. O maior espetáculo esportivo mundial, aqui batizado “Copa do Pantanal”, entrou para a história cuiabana que no próximo ano chega ao tricentenário. Nesta reportagem o site faz o resgate daquele momento de glória para Mato Grosso, contextualizando a primeira partida com a data emblemática, mística e cabalística do 13, e o faz tomando por referência a razão para a denominação da importante Rua 13 de Junho.

 

Futebol é esporte que dentro das quatro linhas mistura arte, encantamento, força, preparo físico, táticas, catimba, sucesso, fracasso, vitórias, derrotas, empates insossos ou arrancados ao apagar das luzes, individualidades e coletivo. Fora do gramado, quer seja no estádio, em casa ou no bar o torcedor se deixa arrebatar pela paixão e, não raras vezes, debita ao azar o mau resultado ou a contusão do craque de seu time. Para muitos, até mesmo pequenos detalhes na mudança de comportamento ou de costumes podem influenciar no placar. Há quem vai ao jogo sempre com a mesma camisa, quem primeiro bota o pé direito à frente pra cruzar a roleta. Não falta fanático que faz figa e tenta desviar com o canto do olho a gorduchinha que passou pelo goleiro de seu time e avança pra transpor a cal. Há crendices para todos os gostos e loucos.

Arena Pantanal

A abertura da Copa do Pantanal foi em 13 de junho, na primeira e única sexta-feira 13 do ano de 2014 antecedido por 2013. Não faltaram vozes dizendo que “isso não vai dar certo”, gorando o maior evento esportivo mundial em sua sede cuiabana. Alguns bateram na madeira três vezes. Outros apostaram que a data 13 daria sorte.

O tempo tratou de mostrar que a Copa do Pantanal alcançou sucesso e não foi motivo de piada fora de Mato Grosso, como muitos apostavam, porque nem todas as obras planejadas para a infraestrutura de Cuiabá e Várzea Grande ficaram prontas.

Mas, independentemente do temor ou da confiança no cabalístico (ou não?) 13, durante mais de um século essa data foi o segundo maior feriado estadual mato-grossense e somente perdia em importância para o 07 de Setembro.

Num dia 13 e de junho de 1867, as forças mato-grossenses comandadas pelo tenente-coronel Antônio Maria Coelho retomaram a então vila de Corumbá, ocupada militarmente pelo Paraguai, país que desde 13 – olhem o 13 de novo – de dezembro de 1864 travava guerra contra o Brasil, no maior conflito internacional armado do continente e que também envolveu a Argentina e o Uruguai – que formaram a Tríplice Aliança com os exércitos do imperador Dom Pedro II. Naquela guerra não faltaram 13, a começar pelo 1 de Paraguai contra os 3 vizinhos, que numa junção formavam o número 13.

A retomada de Corumbá ajudou a mudar o curso da guerra, até então caracterizada por vitórias paraguaias. A região estava invadida desde 29 de dezembro de 1864, quando o coronel Izidoro Resquin avançou com seus homens por terra, e o coronel Vicente Barrios, pelo rio Paraguai, e tomaram o Forte Coimbra, que não pôde se defender porque não tinha munição. Antônio Maria derrotou os 200 paraguaios que mantinham hasteada a bandeira de seu país na área considerada pelo presidente vitalício do Paraguai, Francisco Solano López, como propriedade de seu falecido pai, Carlos Antonio López, que também presidiu o país vitaliciamente. Nos combates o Brasil perdeu o capitão Cruz da Cunha e o tenente Manoel de Pinho e 27 militares ficaram feridos.

Com a transformação social nas últimas décadas e a divisão territorial de Mato Grosso para a criação de Mato Grosso do Sul, ao qual pertence Corumbá, o feriado de 13 de Junho caiu em desuso, virou uma daquelas leis Viúva Porcina ao inverso. Sobre a data restaram nas cidades mais antigas e em Cuiabá algumas escolas e vias denominadas Rua 13 de Junho, cujo significado histórico é tão estranho à população quanto falar hoje em guerra entre brasileiros e paraguaios.

 

Uma guerra entre quatro linhas

 

“Ole, ole, Chile, Chile. Chi chi chi, le le le, Viva Chile!”

No dia 09, portanto quatro dias antes do jogo inaugural, Cuiabá começou a ser literalmente invadida por uma onda vermelha que não se cansava de soltar seu grito de guerra: “ole, ole, Chile, Chile. Chi chi chi, le le le, Viva Chile!”.

A essa mistura de patriotismo e aposta esportiva se juntaram milhares de australianos com suas camisas amarelas, porém bem mais discretos que os nossos hermanos do extremo sul do continente e do lado de lá da Cordilheira dos Andes.

Os chilenos estavam por todos os lados, nas ruas, nos hotéis, em acampamentos montados para recebê-los, nos bares, nas boates, nos restaurantes, nos ônibus, nos táxis.

Os australianos em número menor, também se espalhavam pela cidade. Japoneses, sul-coreanos, russos, bósnios, nigerianos e colombianos também começaram a dar o ar da graça antes da primeira partida na Arena Pantanal, onde as seleções de seus países jogarão.

Australiano com seu mascote

Num clima de festa, de confraternização internacional, mas fortemente marcado por fortes paixões ao futebol, Chile 3 a 1 Austrália duelaram em campo e na torcida. Os primeiros venceram os dois confrontos e, nunca estiveram sozinhos, uma vez que a torcida cuiabana e os demais brasileiros no estádio eram chilenos desde criancinhas.

 

Eduardo Gomes/blogdoeduardogomes

FOTOS: 1 e 2 José Medeiros

3 e 4 – Andréa Lobo