Fragelli tinha cheiro de urna, mas foi governador biônico

José Fragelli sempre foi político com cheiro de urna, mas mesmo assim assumiu o governo de Mato Grosso, em 15 de março de 1971, por nomeação pelo Conselho de Segurança Nacional referendada por votação indireta na Assembleia Legislativa – o chamado governador biônico. Sua posse botou fim à eleição direta para o cargo, o que aconteceu pela última vez, antes dele, com Pedro Pedrossian, a quem sucedeu. Homem público de visão, foi pioneiro na busca por modais de transporte e ocupação do vazio amazônico mato-grossense.

José Manuel Fontanillas Fragelli era corumbaense. Nasceu em 31 de dezembro de 2015. Foi promotor de Justiça, professor e diretor de colégio em Campo Grande. Exerceu mandatos de deputado estadual e federal antes da divisão de Mato Grosso. Depois, elegeu-se senador por Mato Grosso do Sul e presidiu o Senado.

Em 1983 Fragelli liderou um grupo de 15 senadores que foi a Belo Horizonte pedir ao governador anfitrião, Tancredo Neves, que disputasse a Presidência no Colégio Eleitoral.

Fragelli idealizou e construiu a Rodovia Transpantaneira, prevista para ser o primeiro multimodal de transporte mato-grossense, com seu leito, a navegação nos riso Cuiabá e Paraguai entre Porto Jofre e Corumbá, e o trem entre São Paulo e Corumbá. Quando sua obra chegava ao fim, a pavimentação da BR-163/364 ligava Cuiabá a Rondonópolis, e dali em trechos distintos, completava a ligação para Campo Grande e Goiânia.

Com Fragelli o governo de Mato Grosso investiu em obras físicas na Universidade Federal de Mato Grosso que acabara de ser criada. Com ele, criou-se um grande projeto de ocupação e exploração econômica de imensa área onde se situam os municípios de Campo Novo do Parecis, Brasnorte, Juína, Castanheira, Juruena, Cotriguaçu, Aripuanã, Colniza e Rondolândia. Essa região ganhou rodovias estaduais e a BR-174, chamada de BV-8 (por ligar Cáceres ao marco Brasil-Bolívia 8, em Roraima). Para homenageá-lo  um distrito de Juína leva seu sobrenome: Fontanillas.

O Estádio Verdão, em Cuiabá, foi construído em seu governo. Para a Copa do Mundo de 2014 o Verdão foi demolido e cedeu lugar a Arena Pantantal. O nome do Verdão era Estádio Governador José Fragelli. A Arena Pantanal mantém aquela denominação oficial e em suas dependências funciona a Escola Estadual José Fragelli.

Em 2005, o entrevistei em Aquidauana, no Pantanal Sul-mato-grossense, onde morava e morreu aos 94 anos, em 30 de abril de 2010. Lúcido, com razoável desenvoltura ao caminhar e sempre com uma resposta pronta para todo tipo de pergunta, o ex-governador não vacilou quando lhe perguntei: “O que o senhor não fez e gostaria de ter feito no governo?”. Um leve sorriso iluminou as rugas de seu rosto antes que dissesse, “Eu deveria ter antecipado a divisão, pois havia clima favorável para ela em Brasília. A separação foi extraordinária para ambos os estados. Você já imaginou como seria administrar duas realidades, dois mundos políticos, que juntos não funcionariam bem nos dias de hoje, e que se completam estando limitados por suas superfícies?“.

A divisão de Mato Grosso aconteceu em 11 de outubro de 1977, após o governo Fragelli.

Após a entrevista voltei para Cuiabá com a convicção que Fragelli acertou, também sobre a divisão territorial.

COMPOSIÇÃO – O vice-governador de Fragelli foi José Monteiro de Figueiredo, mato-grossense de Nossa Senhora do Livramento. Os militares que davam as cartas no poder tinham o cuidado de observarem, sempre que possível, os espaços políticos regionais. Na chapa Fragelli/Figueiredo, o primeiro representava o Sul de Mato Grosso, e o outro, a chamada Baixada Cuiabana – que para alguns deve ser chamada de Região Metropolitana de Cuiabá.

Eduardo Gomes – blogdoeduardogomes

FOTO: Acervo Agência Senado