Antes que as velas riscassem os mares…
Antes que vozes cortassem os ares…
Havia um reino de verde infinito…
Sagrado, puro, sereno paraíso!
As águas dançavam em prata e ouro…
Rios serpenteavam em leito ditoso…
E as aves, cantando, aos céus se erguiam…
Assobiando mistérios que só elas sabiam!
Naquele instante, Brasil era brisa…
Um mundo intocado, esculpido na vida!
Verde como a alma das florestas…
Azul como os mares em festas!
Salve, costa abençoada!
Que aos olhos do velho mundo surgiu…
Gigante oásis, a terra encantada…
O coração do mundo, o grande Brasil!
As lusitanas caravelas…
Chegam no coração das Américas…
O Gigante continental desperta…
Em seus mares de rutilâncias!
Brilham cocares sob o sol radiante…
Espumas e brisas em notas dançantes…
Saúdam teus esplendores reinantes, em abundância!
Após dias e dias a fio…
Ouviram o aplauso dos céus nas palmas dos rios…
Candidez lucente e jaspil…
Exuberâncias!
Pelas asas dos Pélagos, pelos caminhos estratégicos…
A Terra Morena se vestiu!
Parecia o verso de Homero…
O navegar helênico singelo…
Ou nauta que Fídias- o Eterno mediu!
No “caminho das índias “, estrada marinha…
Descobre-se a Pátria Rainha…
O caminho dos índios nas estradinhas…
O erro mais perfeito que já existiu!
Terra da Águia e da Harpía…
Cujo som fez Santos Dummont inventar, um dia,
O avião em que toda nação voaria ao céu-anil!
Eis que a terra se abre em cor…
Verde alvorada de fauna e fulgor…
E peixes dançam em corais profundos…
Na calma infinita de abismos fecundos!
Cajueiros, palmeiras em doce balé…
Belezas sem nome, indizível até…
Mastro do céu que aqui residiu…
Naturalidade, brasilidade, Brasil!
Oh chão de esplendores…
Continente de quão esplendores…
A Caravela até hoje sequer te descobriu!
O céu encarnado em teus ramos silvestres…
Deus encorporado em milhões de espécies!
O Criador e seu amor em louvor aqui descem, tão leve e purpuril!
Em tronos antigos, em folhas ao vento…
No ciclo sagrado do sol e do tempo…
Era o Brasil!
Ó alvorada em mares espumados…
Exuberante, nunca dantes desbravados…
Quando a vela branca cortou o azul anil…
Planeta- beleza, era o Brasil!
E no espelho do Atlântico é revelado…
A Terra de esplendores aveludados!
Deus compondo o sinfonir verde-amarelizado!
Era o Brasil!
Salve, ó Terra virgem do além- mar!
Que fulgor na alvorada das palmeiras de cá!
Que festa de luz nas praias douradas…
Areias de fogo, florestas em cantatas!
Onde o Poente dormiu !
O olhar da Terra, de seus primeiros guardiões…
Quem era o Gigante de brilhantes expressões?
Aqui já havia o sopro da vida em gorjeios…
Peles de cobre, cânticos vermelhos…
O saber da floresta nas almas, nos seios!
Que o vento sacudiu!
Sim, aqui já havia povos mil…
Interpretando a música dos rios…
Inúmeras tribos em belos assobios…
Há milhares de milênios aqui vivendo, e vendo o mar beijar o tempo, com batom de anil!
Nos arqueológicos sítios estivestes…
Em lindos desenhos da arte rupestre…
A sabedoria da vida silvestre no Brasil!
Suzziene Cavalcante
Ó Caminha, escriba de instante fecundo !
Teu verbo bordou a gênese desss mundo…
O olhar pasmado na pena sutil…
Montes erguiam-se livres, altivos…
Rochas que o mar moldava em suspiros…
A lua, cachoeira de luz sorriu…
Sob os meigos e brasileiros rios…
Era o Brasil!
525 anos? Ó não !
Aqui já havia uma Nação!
Cinco milhões de índios então…
Ao som poetil…
Os índios, filhos da terra…
Avistaram uma Caravela…
Sob as cortinas de luz da praia bela…
Encontro civil!
Forjada entre brisas tropicais…
Cantava nos ventos, dançava no cais…
” Terra à vista!”, mares em vocais…
Era o Brasil!
Por noites de prata e sóis abrasantes…
Seguiam os bravos, audazes errantes…
Até que, um dia, num grito imortal…
Caminha encaminha a Carta Tropical!
Os olhos da terra nus e sábios…
Cintilam a alvorada indomável…
Ali onde julgam vazio…
Já pulsam sociedades mil…
Guardiões das matas, dos longos rios…
Era o Gigante, era o Brasil!
Em aldeias de dança e fogo..
Filhos do céu, da terra, dos brotos…
Nas mãos, o fruto, o mel doçoso…
Sim, aqui já pulsa um povo…
Era o Brasil!
E o mar em aplauso de espuma sorria…
Teus rios cantavam, teus céus reluziam…
Das matas densas ao sertão ardente…
Do ouro escondido ao brilho da gente!
Mas que mistério repousa tuas margens?
Que segredo guardam teus rios e mares?
No azul imenso do Atlântico bravio…
Onde o sol se pinga e nasce tardio…
São marcas eternas da alma do Brasil!
E a Terra, mãe de raízes eternas…
O índio natural fita Cabral e as velas…
Dois mundos se tocam num instante marítimo…
Na terra dourada de fulgores límpidos!
Eram Montes e Vales que o tempo esculpiu…
Paraíso em arvoredo florestil…
Pareciam tocar o céu de anil…
Eram brasiluras, era o Brasil!
Os tupinambás, guaranis e aimorés…
Guardavam os ciclos da terra e dos pés…
Ouviam os ventos, liam os céus…
Em cultos antigos, e ritual fiel…
Tupis, potiguaras, senhores da mata…
Filhos do tempo que o tempo resgata!
Bororos, mestres do chão verdil…
Ecoam tambores nos mangues, nos rios…
Aqui onde o novo e o antigo se olham…
Antes do tempo traçar nossa toga…
Éramos essa gente remota…
Éramos o Brasil!
Ali, na Bahia, Tupis aguardavam…
Senhores da terra, filhos das matas…
Instante sublime, belo e imenso…
O fim do oceano e começo de um tempo…
Milhares de gerações ali em combo…
Geravam-se no ventre do olhar de Colombo!
Na terra que pulsa sob sol douril…
O belo Cruzeiro do Sul te coloriu…
Ali éramos nós…
Era o Brasil!
O berço moldado no sal e no vento…
No sopro do século que se fez alvor…
Quando a nau portuguesa, em firmamento…
Em mil e quinhentos quando o vento a ancorou…
Abril florido nos tempos caravelais…
Ergueu cruz e marco nos verdes imortais…
Entre a beleza indizível das luzes tropicais …
Que ao mundo perfumou!
Ao sopro do mar e à sombra dos montes…
Ergue-se um altar sob céus horizontes…
No chão de areia, o gesto sagrado…
As naus repousam, os ventos cessaram…
E ali na brisa que beija a enseada…
Erguer-se a cruz em luz consagrada!
O padre entoa palavras de fé…
O sino é o vento, o templo a maré…
Ali se ouviu o primeiro missar…
O misto do hino com língua estranha…
Mas o silêncio os fizeram escutar…
Os cantos da terra, da mata tamanha!
A brisa cantava, farfalhava no coqueiril…
A alma da terra aos tons tropicais mil…
A selva em perfume naturil…
Éramos eu e você…
Era o Brasil!
Conquistadores navegantes…
Em nome de reis de dantes…
Com o cheiro dos oceanos…
Desceram no solo baiano,
Que a luz poliu…
Por dez dias conversando…
Duas missas rezando …
E o outono amarelando cada folha verdil…
Uma cruz levantando…
A primeira bandeira asteando…
Ilha de Vera Cruz se eregiu…
Na areia dourada, o vento passeia…
A brisa é doce, o céu a lareira…
O Gigante descansa em seu berço gentil…
A luz do verde puro era o Brasil!
Os peixes cintilavam em bailado marinho…
O céu e o chão beijavam-se devagarinho…
Quando o mundo atônito viu teu fulgor …
Teu corpo era natureza…
Teu alma- esplendor !
As águas límpidas brilham serenas…
Cantam cascatas, regam verbenas…
E os pássaros livres, em coro festil …
Saúdam o novo que ali convergiu…
Éramos todos nós…
Era o Brasil!
Depois, o escambo, a troca incerta…
Espelhos por penas, ferro por fruto…
Um jogo de mãos que o tempo desperta…
Como Prólogo de um pacto “absoluto “.
Vieram os feitos- ora sutis, ora rudes…
A extração do pau- brasil, sangue da mãe-árvore…
Com ele, os olhos das multidões mudes…
Fitando a terra e seu selo-estandarte…
Na arte mercantil…
Brasil, filho dos ventos e mares…
No seio do verde em fogo, tropicalizastes…
Buscavam-se o ouro, mas acharam a árvore!
O pau- brasil que o mundo coloriu!
Árvore de ouro vemelho…
Precioso “sangue” brasileiro…
Belo ouro textil…
Pau replantado nas naus…
Seguia pela via oceanial…
Pelo marinho vendaval seguiu…
A árvore em que se via toda a nossa genealogia…
Um portal para o sublime se fazia…
Era poesia. Era o Brasil!
Árvore ” genealógica ” brasileira…
A sombra econômica primeira!
Brilhosa madeira vermelha…
Que a História inteira tingiu!
Os portugueses espreitam a ceifa…
Índios na grande colheita…
Recompensados com metal…
Ilha de Vera Cruz. Terra de Santa Cruz. Agora novo nome reluz:
Nome brasilial !
Ó lindo e repousante Brasil nascente…
Em tua história paradoxo em facho…
Entre a cruz e espada, sonho e semente…
Brota um povo misto de céu e aço!
Exuberantes campos deitados ao verdil…
Bosques cantando aos cantos mil…
Raízes belas na aquarela tempestil…
Ali éramos todos nós!
Ali era o Brasil!
Portuguesa colonização…
Brasil adocicando o mundo com engenho e expressão…
O velho mundo saboreava o nosso café!
As nações à sombra do sabor de cada pé !
O ouro viçoso em rio caudaloso transluziu…
O sol a velejar nesse mar bosquil…
Encontrou seu quintal no Éden natural primaveril…
Ali éramos eu e você!
Ali era o Brasil!
Martin Afonso de Souza…
Em 1532, chega com força…
E funda a Cidade-Moça!
São Vicente, no chão douril!
São Paulo atualmente…
A Coroa ressoa na terra boa brasiliense…
A Pátria amada Brasil!
Tomé de Souza, o primeiro Governador…
A primeira capital do Brasil fundou…
A bela terra de Salvador…
Recanto primeiril…
Os primeiros padres jesuítas chegando e catequisando silvículas…
O ouro doce do açúcar os bentificam… em tom docil!
Vieram jesuítas com verbo e escrita…
Batizando águas, crianças, aldeias…
Mas entre a doutrina e a alma bendita…
Há sementes de culturas inteiras!
E o engenho surge como torre de Império…
A cana chorando em suor e lamento…
E o Brasil nos seus gestos interpérios…
Aprendia o peso do próprio Advento…
A Família Real Portuesa surgiu…
A vinda d’EL Rei lusitano ao Brasil…
A Corte ergueu-se em nobre estrado…
E aqui foi reino unido e consagrado.
Casa capitania hereditária eclodiu…
O Rei de Portugal a terra brasilial dividiu…
Era a cívica história…
Era o nosso Brasil!
Abre-se o Porto, nasce o Estado Moderno…
Com imprensa, escolas, evoluir mais terno!
Vieram os donatários e suas capitanias…
Dividindo em mapas o que não lhes nascera…
Veio também o grito das rebeldias…
Dos que amavam essa Terra-Princesa!
Da primeira escola ao primeiro protesto…
Da Carta de Caminha ao chão escravizado…
Construía a Nação em beleza e manifesto…
Um mundo novo- pelo velho assombrado…
Ó paraíso límpido, sem qualquer resíduo fabril!
País de 27 estrelas, as flores mais belas te incendeiam em tom jardinil!
Os montes namoram os horizontes dessa flora mais brilhosa que Deus tingiu…
Exala o cheiro brasileiro…
Éramos todos nós inteiros…
Éramos o Brasil!
Éramos as primeiras Capitanias que o Rei de Portugal dividia…
Capitania da Bahia, Capitania de São Vicente…
Capitania de Pernambuco…
Era o Brasil em campos e arredutos…
Os pequenos virando adultos…
Tempo crescente!
Índios os primeiros escravos…
Homens vermelhos imortalizados…
O tráfico negreiro também foi instalado…
Na Terra que o sol dourou!
Europeus navios, atracando-se no Brasil, solo sadio botanil do esplendor!
As naus cortavam em rastro profundo…
Os mistérios líquidos do velho mundo…
Traziam humanos em domínio hostil…
Éramos escravos. Éramos o Brasil!
O escravo trabalho negreiro ganha artérias…
A venda de escravos era cultura europeia…
Assim a cana cresce em leque de odisseia…
No plano mercantil!
Portugueses dominam nas águas do oceano…
Na venda de escravos no tráfico do Atlântico…
Pagam impostos altos ao rei portugânico…
Era um escândalo, mas era o Brasil!
Escravos africanos e suas vidas…
Capturados na África por tribos inimigas…
Vendidos aos europeus olheiros…
Que os transportavam em navios negreiros…
Não só aos engenhos de cana, como em todas as famílias brancas…
Os negros escravos eram trazidos…
Para trabalhos forçados e exclusivos…
Por dias e noites, a imensidão…
Silêncio, estrelas e solidão!
No horizonte onde o céu é oceanil…
O pulsar da vida negril nos navios…
Éramos nós também!
Era o Brasil!
Desembarcados em nossa terra…
No verde esplendor de relvas…
A Aurora em brasa acesa sob relvas…
A vida negra observa a treva desumanil !
Bandeirantes, conquistadores em destreza…
Buscavam territórios para a Coroa Portuguesa…
Procuravam ouro, pedras preciosas…
E índios para venda escravagista indecorosa!
Com sangue indígena e alma africana…
Com fé lusa e estratégia urbana…
Foi chão de sementes o Brasil- Colônia …
Nasceu do barro, dos prados, montanhas…
Os holandeses invadem Salvador…
1624, expulsos com fervor…
Colonos, índios, negros e portugueses…
Na Revolta expulsaram os holandeses…
1630, invadem Pernambuco…
Mas entra em cena um líder absoluto!
Maurício de Nassau, fora da curva e da régua…
Tornou Pernambuco a estrela das Américas…
Nobre do Período Renascentista…
Trouxe evolução à terra recifista:
O maior observatório astronômico…
Ele trouxe com olhar panorâmico …
Cultura, ciências e artes…
Agromanufatura nas alturas das cidades!
Mudou a História da Capitania de Pernambuco…
Triunfo e glória aos olhos do mundo!
Éramos nós no caminho hombril…
Era a brilhante terra do Brasil!
O açúcar mantinha o Brasil agrícola…
O ouro, uma sociedade mais urbanística …
Pequenas cidades e o sudeste urbanizam-se…
No alvor brasileiro!
O ouro revoluciona a Colônia brasilial…
20% pertencia ao rei de Portugal…
Era o Quinto do ouro tributal.
Salvador deixa de ser capital.
Agora é o Rio de Janeiro!
Inconfidência Mineira, por sua vez, em Joaquim Silvério dos Reis, o Tiradentes- um gênio, eu sei!
Mente expressil!
Muito além das tradicionais comerciais…
Quisera a independência das Minas Gerais …
Amor acima dos metais, era o Brasil!
Inconfidentes mineiros eram da elite…
Exceto Tiradentes, tratado sem requintes…
Os da elite foram exilados…
Tiradentes enforcado e esquartejado…
História triste!
Conjuração Baiana e seus sinais…
Lutam negros e todas as classes sociais..
Contra a escravatura na terra das norturas fenomenais…
Independência da Bahia.
Coubera-nos a glória de erigir…
A beleza impoetizável do sentir…
O povo-primeiro daqui…
É além-poesia!
Século XIX, tempo tempestil…
Napoleão Portugal invadiu…
A Família Real foge ao Brasil, em passos ordeiros…
D. João VI, e seus moços…
Estabelecem-se no Porto mais lucrativo de todos do Rio de Janeiro!
Autorizou a construção de fábricas…
Inaugurou entidades básicas…
Fundou, c’a sua matemática, o Banco do Brasil.
Em mil oitocentos e vinte e dois…
Dom Pedro I grita: ” Independência ” depois…
Cria-se o Império Constitucional…
C’o Conselho de Estato e Justiça Real…
Um Império nasce, sob a luz do Sul…
Ecoa a Monarquia em tom augusto azul!
Salve, Brasil, do crisol de tambores mil…
Forjado em sangue, em glórias em vernil…
No seio verde, à sombra de esplendores…
Repousam guerras, pactos, clamores…
Colosso travessil!
Vêm as Regências, o Golpe da Maioridade…
Turbulências, Guerras Civis e osteridade…
Mas, D. Pedro II, o jovem hesitante…
Moderniza e pacifica o dourado Gigante!
Império construtivo sob o céu tropical ..
Traz o telefone com voz excepcional!
Traz o telégrafo, ferrovias, fotografia…
Imperador incomum, brilhante, pura poesia!
Combateu o tráfico de escravos…
Rumo ao abolicionismo esperado, com maestria!
A Lei do Ventre, o Áureo e Abolicionismo…
Vencem o Véu do cativeirismo…
Isabel, princesa em gesto de esperança…
Liberta o povo- mas perde a liderança!
A espada, em 89, corta o Véu…
E expulsa o trono aos pés do próprio céu!
Floriano e Deodoro, em armas e disputas…
Retiram a Coroa, põem a República…
Seguem-se as oligarquias do café…
Política “café com leite”, em pura “fé “…
Entre fraudes, coronéis e artimanhas…
O voto era amarrado a duras façanhas!
Vargas, em 30, faz Era Varguista…
Com voz de líder, mão de estadista…
Constituição, Estado Novo, industrialização…
Ao mesmo tempo, censura e opressão!
Era Vargas, cimento e eletricidade..
Ergueu fábricas com força e identidade…
Aço de Volta Redonda, chama acesa…
Transforma o País em plena fortaleza!
Getúlio, o operário dos decretos e aço…
Fundou no coração do povo, novo espaço…
Com CLT, Vargas firma a estrutura…
Do labor urbano, humano, candura!
Salve, Brasil, que do engenho e da enxada…
Ergueu-se à usina, à máquina encantada…
Da cana doce ao aço incandescente…
Brilhaste o pulso forte e persistente!
Sim, com toda certeza!
Desde as fábricas timidamente acesas…
Nas sombras da escravidão e suas tristezas…veementes!
Oh República, no sopro militar!
Ruiu a Coroa, ergueu-se outro altar!
O povo em marchas, sonhos e protestos…
Rasgou-se a noite em lampejos manifestos…
Vieram Repúblicas, febris, tropicais…
Da espada aos votos, em ciclos desiguais…
Ordem e Progresso…
Pólen de sucesso…
Cobrem o Universo…
Em versos brasiliais!
Do gênio de Rondon desbravando fronteiras…
Ao sonho de Darcy desenhando bandeiras…
Tuas letras, teus traços, teu canto febril…
Tecem teu manto na cor mais viril…
Oh terra que pulsa em verde e sol dourado…
Terra de línguas, cores vivas, Eldorado!
Depois o tempo a galopar seguiu…
Éramos essa Terra. Éramos o Brasil.
Depois, nos trilhos do Plano e Metas..
JK rompeu fronteiras obsoletas..
Brasília nasceu – e com ela o asfalto…
As indústrias ao centro, ao Sul, ao alto!
Montadoras, usinas, construção pesada…
As multinacionais se instalavam…
Jk- Progresso, Brasília, modernismo…
Mas logo ao fundo assoma o abismo…
João Goulart, reformas e tensão…
E o golpe estala em dura opressão…
Mil novecentos e sessenta e quatro…
Censura, dor, medo no contrato…
O AI-5 cala a Nação inteira…
A noite cai perversa e sorrateira!
Mas o povo em coragem tão formosa…
Retoma a rua em jornada luminosa…
Diretas Já! Renasce a voz ferida…
E a senhora Democracia volta à vida!
Redemocratização, Federalismo em expansão…
Direitos, deveres, descentralização…
Na redemocratização, nova esperança…
Tecnologia, ciência, aliança!
Trancredo eleito, esperança em flor…
Mas morre antes de tomar o labor…
Sarney herda a Pátria em transição…
E nasce a Carta- Nova Constituição!
E mais adiante, os marcos se acendem…
Moeda estável, planos surpreendem…
O REAL, nova era, economia a raiar…
Dando ao povo, novo fôlego para sonhar!
Um País soberano ao sul do Equador…
Rompia as amarras, erguia-se em valor!
Brasil, és gênio, és alma que cria…
Do barro, do ar, da noite, do dia…
Tu deste ao mundo com mãos invisíveis…
Descobertas eternas, reais, infalíveis!
Ó Rui, verbo em fogo da inteligência altiva!
Que da pena forjaste espadas de justiça!
Ergue-te no tempo como farol imortal…
Na História do Brasil, és verbo central…
Bússola da lei, trovão no Parlamento…
Arauto da República em advento…
Na diplomacia, voz do Brasil no mundo!
Revolução intelectual, democrática em tons profundos!
Ó Pátria do sol que no berço esplendeu…
Brasil, tua história em fulgor floresceu…
Nas selvas em brumas, cantou o pajé..
Com ciência da terra, da planta, do pé…
Da lira de Anchieta à pena sutil…
De Gregório ecoando num tom varonil…
Até que Drummond de óculos no rosto…
Versasse um País com doçar espaçoso!
Na arte, brilhou Portinari em cores…
Tingindo destinos, Pintando as dores…
E Heitor fez da música o céu do porvir…
Sinfonia de um povo a se descobrir!
No âmago d’alma inventiva sonhante…
Brotou a ciência de solo vibrante…
Carlos Chagas, Oswaldo Cruz, Anísio…
Fizeram do estudo, a poesia do prestígio!
Da EMBRAPA que nutre a esperança do chão…
Ao INPE que espia estrelas em expansão…
A mente tupiniquim, luminosa e ousada…
Rasgou horizontes, fez-se alvorada!
Da cana à soja, do milho ao feijão…
Nasce ciência nas essências dos grãos…
Da mata fechada à cidade de aço…
Teus filhos romperam o tempo e o espaço…
Eis que Vital Brazil surge altaneiro…
Com soro que salva no campo inteiro…
Das serpentes tirou o perigo e a ciência…
Soro antiofídico, divina clemência!
Juliano Moreira, vanguarda da mente…
Curou com respeito, olhou diferente!
Combateu o estigma, ergueu o doente…
Fez da Psiquê um campo eloquente!
Nise de Oliveira, que mãos, que artes!
Libertou loucuras de prisões da mentalidade!
Pintura e ternura foram sua voz…
Gritando: ” O humano ainda vive em nós “!
César Lattes, dos átomos veio…
Olhos voltados ao cósmico anseio…
O méson, matéria sutil descobriu…
E pós nossa terra no mapa expressil…
Éramos todos nós!
Era o Brasil!
Manuel de Abreu, com raio de luz…
Inventou o exame que a vida traduz…
C’a abreugrafia, salvou multidões…
Do pulmão oculto, leu as aflições!
Miguel Nicolelis, das pontes neurais…
Fez-nos andar com impulsos mentais…
Com mente e máquina em doce aliança…
Nasce o futuro, floresce esperança!
Salve também a Fiocruz soberana…
Guardando a saúde da Pátria humana…
Tua história não é só versos encantados…
É também centelhas de cérebros iluminados!
Na era do genoma, o Brasil despontou…
Cientistas unidos, mapeou-se o ser…
Em São Paulo o DNA se decifrou…
E a genética passou a resplandecer!
Eis que no INPE o espaço se abriu…
Do alto vigia-se o verde ameaçado…
O clima, os astros, o tempo que riu…
Do humano que, enfim, foi despertado!
E na selva verde da biodiversidade…
Sábios desvendam com zelo e fervor…
Os segredos da fauna e da eternidade…
Plantada em sementes de cura e amor…
E entre batalhas e auroras felizes…
Paira a majestade de tuas raízes…
Belezas em harpas líquidas e triunfantes…
História em seiva, em flor, em mangue…
És o voo da arara, és o canto do sabiá…
É o Cristo que abraça o mar a sussurrar!
Ó Brasil de mil faces, mil cores, mil expressões…
Além do ferro das batalhas e do fogo das revoluções…
És essência de raiz que rompe a terra seca…
No rio que rasga continentes, e na postura das palmeiras…
E o mundo viu com respeito a nos olhar:
Santos Dummont, no ar a planar…
Pelé, no futebol as nações admirar!
Oscar Niemeyer, com curvas o planeta encantar!
Tom Jobim, João Gilberto, Bossa Nova no ar!
O Pantanal- espelho de águas, santuário do céu!
Habitat de araras, lindas onças sob véu…
Berço das aves, refúgio das feras…
Horizonte líquido das manhãs mais belas…
Teu Cerrado- ouro em flor, vida que resiste!
Teu litoral- sinfonia que o mundo assiste!
Histórias milenares tuas montanhas cornetam…
Tua Amazônia pulsa o pulmão do planeta!
Nasces do rio Amazonas, rei das águas e das brumas…
Imenso serpentear de vida em espumas…
Teu corpo é correnteza, tua alma é mar…
És oceano em terra a se derramar!
Rio Amazonas, épico sem fim…
Que corre em silêncio, mas ruge em mim!
Majestade líquida da América do Sul…
És artéria divina, em esplendor azul!
Rio São Francisco- Velho Chico- pai do sertão…
Que leva esperança em cada estação…
Do Paraná ao Araguaia, do Tocantins ao Tietê…
Tua música hídrica vivifica o florescer!
Cachoeiras em sinfonia de véus caem do céu…
Iguaçu, em fúria, ternura em anel…
Espetáculo líquido, voz ancestral…
Orquestra de pedra e água sem igual …
No ventre do chão, teu poder se revela…
Cristais, minérios, ouro, aquarela…
O ferro, o quartzo, o nióbio sem par…
Fazem o Brasil ao futuro mirar…
Petrobras mergulha nos mares profundos…
Extraindo energia aos abismos do mundo!
Tuas rochas contam história de eras passadas…
Com arenitos, granitos e fendas lavradas…
O Planalto Central, teu coração de pedra!
Belíssimas Savanas, sustenta as florestas!
Salve, ó Brasil de fulgores primevos…
Do tempo em que a Terra paria seus relevos…
Tua bela essência é cântico ancestral…
De rocha, de rio, de verde triunfal!
Ergues do chão, sob o céu vasto e puro…
Chapada Diamantina, trono de ouro duro!
Teu seio rasgado por grutas e mil vales…
A beleza ecoa em catedrais da arte!
Serra do Mar, coluna do litoral…
Sentinela antiga de verde sem igual…
No ápice do sagrado, Pico da Neblina…
O Brasil toca os céus em pureza divina!
Lençóis Maranhenses, miragem real…
Areia e lagoa num véu celestial…
Jardim de Dunas de cristal reluzente…
Onde o vento é pincel, e o céu transcendente!
Jalapão, diamante em meio ao Cerrado…
Sol e areia num abraço sagrado…
Oásis selvagem de pureza febril…
O deserto encantado do coração do Brasil!
E teu sol do Nordeste, valente e candente…
Abraça a caatinga com alma ardente…
Na Mata Atlântica, o murmúrio ancestral…
E o Sul se veste de pinho imortal!
Brasil não é só uma Nação infindável…
É um organismo vivo, vasto, indomável!
Onde a História caminha entre orquídeas e trovões…
C’a voz do tempo, do vento, memórias e ações…
Que somos feitos de lutas, empenho fiel…
Mas também feitos de luz, de verde, de céu!
Na aurora de cada novo dia…
A Pátria desperta com poesia…
C’a alma lavada em cachoeiras…
Pois enquanto houver floresta de pé…
Pássaro no voo, sonhando até…
Há proezas brasileiras!
C’os olhos voltados ao horizonte soberano…
O Brasil seguirá- altivo, imenso, eterno e amando!
Na alma, tua eternidade!
Nas águas, vozes do País!
Nos céus, a tua identidade!
No povo, o sonho mais feliz!
Suziene Cavalcante – Poeta brasileira, Rondonópolis