A nuvem de poeira vermelha

Eduardo Gomes

@andradeeduardogomes

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De longe – bem distante mesmo – via-se a nuvem de poeira vermelha, enorme, móvel num misterioso bailado que mudava seu formato. O calor era companhia inseparável independentemente do horário ou época do ano. Quanto mais aproximava-se, mais visível e maior a estranha formação apresentava-se.

Em ambas as cabeceiras da ponte sobre o rio Vermelho, na BR-364/163 a pista era encascalhada com pedras da mesma coloração ao que via-se no espaço. Na cidade aquele fenômeno tornava-se menos visível, porém palpável na medida em que grudava nas roupas e entranhava-se na pele e cabelos.

O ar pesado afetava, sobretudo, crianças e idosos. Mas bastava uma chuvinha pra tudo se acomodar e na respiração sentir o cheiro agradável do cerrado molhado. E chuva não faltava, pois à época a Amazônia Mato-grossense tinha duas estações distintas: o inverno e o verão. O primeiro, assim chamado, porque na claridade do dia, durante o toró, a imagem que se tinha era de nevasca. O outro, por conta das altas temperaturas e da baixa umidade relativa do ar, mas esse período era intercalado por chuvarada, que amenizava tudo e limpava o céu mais azul e bonito do mundo.

Em meio ao poeirão ou mergulhado no inverno havia um quê de amanhã. De bom amanhã, de ótimo amanhã.

No olhar de todos o brilho da esperança, da vontade de vencer, de reconstruir vida, de viver numa terra pra chamar de sua. Um lugar assim e situado numa região estratégica para a ligação de boa parte da Amazônia com o Centro-Sul e vice-versa; com topografia ideal para o cultivo mecanizado, excelente luminosidade, regularidade hídrica adequada para a agricultura; rica em aguadas e minerais; que virou Eldorado para cobras criadas e sonhadores dispostos a enfrentar o mundo; recheado de belas mulheres; e que transmitia uma química mista de otimismo e bairrismo no melhor sentido da palavra, tinha que dar certo. Deu!

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De 1970, os 50.594 habitantes de então, incluindo os moradores de Pedra Preta e São José do Povo – que mais tarde seriam cidades – saltaram para 259.167 neste dia 10 de dezembro de 2024, data que celebra os 71 anos da emancipação política de Rondonópolis.

Muitas foram as transformações, mas nada, nem o relógio implacável do tempo ao longo de meio século consegue apagar aquela imagem da memória de quem viveu o ciclo da nuvem de poeira vermelha, enorme, móvel num misterioso bailado que mudava seu formato nas barrancas do Poguba que teimamos em chamar de Vermelho.

Rondonópolis minha sedutora e envolvente cidade atemporal, deliciosa naquele ontem, sempre fogosa no agora e desejada nos sonhos com o futuro. Você é igual ao seu rio: passa ficando na vida e na alma da gente.

Infografia

Marco Antônio Raimundo

Foto: Meramente referencial

Comentários (1)
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  • Dulce Labio

    Pronto, agora é tbem o meu poeta preferido 👏👏👏🥰🥰🥰