Pedro Taques limpou todos os obstáculos externos para sua tentativa de reeleição, mas tropeçou internamente no PSDB, porque Nilson Leitão tem mais peso no partido do que ele. Sem condição de lançar candidato ao governo e ao Senado, o tucanato terá que optar entre um ou outro. Articulado, Taques há alguns dias ensaia deixar a sigla. A movimentação de Taques nesse sentido deverá ganhar força neste mês, depois que Leitão foi indicado líder da bancada federal tucana.
Eleição se faz com coligação. Nenhum partido entra isoladamente na disputa majoritária em Mato Grosso. Taques precisará montar uma chapa eclética, mas para tanto não poderá ficar no PSDB com Leitão, que é pré-candidato ao Senado.
Taques tem força junto aos seus aliados em Mato Grosso, mas se houvesse uma disputa entre ele e Leitão, nacionalmente o deputado levaria vantagem. É preciso ter em conta que Leitão preside a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) e que acaba de ser indicado para líder da bancada do PSDB, sem disputa. O deputado pernambucano Betinho Gomes, que lutava pela liderança, compôs com Leitão e será seu primeiro vice-líder. Leitão assume a liderança em fevereiro, substituindo o paulista Ricardo Tripoli.
Engolido por Leitão, Taques terá que buscar outra sigla. Não será sua primeira troca partidária. Em 2010 foi eleito senador pelo PDT e chegou ao governo pela mesma sigla, mas aderiu ao PSDB.
EXEMPLO – Problema intestinal em cúpula partidária por disputa de candidatura majoritária já aconteceu em Mato Grosso. Em 2010 a então senadora petista Serys Slhessarenko queria disputar a reeleição, mas o partido optou pelo deputado federal Carlos Abicalil. Serys concorreu para deputada federal e Abicalil ao Senado; os grupos dos dois se atracavam impiedosamente e morreram abraçados.
SUJEIRA – Principal nome em Mato Grosso de um partido seriamente abalado por escândalos, Leitão teve a habilidade necessária de apadrinhar a eleição do ex-vereador por Cuiabá, Paulo Borges para a presidência do PSDB.
Borges chegou ao cargo porque os principais nomes do PSDB estão enlameados:
O deputado Guilherme Maluf, ex-presidente da Assembleia, foi denunciado pelo ex-governador Silval Barbosa, por suposto recebimento de mensalinho; de ter se beneficiado com uma propina de R$ 4 milhões para intermediar o pagamento de uma dívida de R$ 40 milhões do programa MT Saúde com hospitais. Pesa contra ele a acusação de compra de votos para se eleger presidente da Assembleia. A última acusação aponta que ele teria nomeado Moisés Dias – um de seus ex-assessores parlamentares – para a Secretaria de Educação do governo (Seduc), para articular um esquema de corrupção que resultou no afastamento e prisão do então secretário Permínio Pinto e do próprio nomeado. Maluf nega. As prisões foram decretadas pela juíza Selma Rosane Arruda, da Sétima Vara Criminal de Cuiabá.
O ex-secretário de Educação de Mato Grosso no governo Taques e ex-vereador por Cuiabá, Permínio Pinto, aguarda sentença da juíza Selma Rosane Arruda, por seu envolvimento no escândalo de desvio de recursos para a construção e reformas de escolas. Permínio é réu confesso.
Carlos Avalone, secretário de Desenvolvimento Econômico é investigado pela Procuradoria Geral da República (PGR) por crimes de lavagem de dinheiro e outros, num dos escândalos que atinge a classe política em cheio. Em 2007 Avalone foi preso pela Polícia Federal na Operação Pacenas, que investigou um grupo de empresários que estariam montando um esquema para levar vantagem indevida em obras de saneamento em Cuiabá e Várzea Grande, com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Pacenas foi jogada debaixo do tapete, por conta de supostas gravações do envolvidos, sem autorização judicial. Avalone nega..
Deputado estadual Wilson Santos tem bens bloqueados por suspeita de improbidade administrativa quando prefeito de Cuiabá, período em que sua administração respondeu pelas obras da construção do Rodoanel Norte com recursos do governo federal. A construção não avançou e o Rodoanel está paralisado. O bloqueio foi determinado pelo juiz federal em Cuiabá Fábio Henrique de Moraes Fiorenza e atinge outros quatro acusados e duas empresas; o montante bloqueado é até R$ 22,9 milhões. A sabedoria popular apelidou o Rodoanel de Roubanel.
Wilson também foi relacionado pela Controladoria-Geral da União (CGU) entre os sanguessugas da Máfia das Ambulâncias. Wilson jura inocência sobre os dois casos.
O deputado estadual Baiano Filho foi gravado numa conversa com Sílvio Corrêa – ex-chefe de Gabinete de Silval – com o qual discutiria recebimento de mensalinho. É investigado pela Procuradoria Geral da República (PGR). Baiano nega.
Leitão, por sua agenda nacional, não aceitaria disputar a presidência em Mato Grosso, mas ele também tem um passado nebuloso. Leitão foi um dos 71 prefeitos sanguessugas de Mato Grosso envolvidos no criminoso esquema de compra superfaturada de ambulâncias da agora extinta empresa Planam, em Cuiabá. A negociação era feita com recursos de emendas parlamentares federais. Leitão nega a acusação. O caso ganhou repercussão nacional em 2006 com o título de Máfia das Ambulâncias, foi abafado e somente a arraia-miúda sofreu algum tipo de condenação.
Em outro caso Leitão foi preso pela Polícia Federal em 17 de maio de 2007, quando prefeito. Acusado de recebimento de suposta propina de R$ 100 mil da empresa Gautama, foi levado para a cadeia em Brasília, onde permaneceu atrás das grades por quatro dias, até sua prisão ser relaxada pela ministra do Superior Tribunal de Justiça, Eliana Calmon. Leitão foi gravado com um envelope grande, amarelo, que teria recebido da Gautama supostamente com o dinheiro que seria antecipação de propina para a construção de rede de esgoto em Sinop. Ele nega. A abertura do envelope não foi acompanhada pela PF, sua defesa bateu nessa tecla e o Ministério Público Federal pediu o arquivamento da ação contra ele.
Sanguessuga à parte, porque a memória coletiva é curta e em Mato Grosso poucos políticos não tiveram envolvimento com aquele crime contra a humanidade, Leitão deverá subir num palanque e Taques em outro em busca de votos para Senado e o governo, respectivamente.